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, 18 maio 2024
 
 

“Energisar”

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Hermelio Silva - poeta - escritor-01-08-15

Quando chegou a conta foi um susto. Havia desligado o bebedouro de água potável da tomada para ver se diminuía a conta de luz. Nada, “nadica” de nada. Encafifado, desativei o portão eletrônico. Não aconteceu nada de novo, no outro mês. A conta se manteve como se fosse uma duplicata da anterior. Entrei em parafuso e passei a desligar tudo, inclusive comprei soquetes que ligavam as lâmpadas com um sensor de presença e em dado momento, desligava sozinha.
Outro mês, outra conta, outro susto. Aumentou o valor. Liguei na operadora, concessionária, cessionária, permissionária e outros termos para reclamar. Fui atendido e logo trocaram o medidor para mandar o anterior à perícia, auditagem, conferência e outros nomes ditos pelos atendentes, e, certificaram-me que o processo seria noutro estado da federação, para que eu esperasse a avaliação, essa, de forma unilateral, com a presença de Deus pelo meu lado, acho.
Enquanto isso ocorria, desliguei o chuveiro e um dos ventiladores, pois o frio aqui na minha terra é um acaso para uso do caso. Chegou a bendita conta, mas não foi esse o adjetivo que saiu da minha garganta quando identifiquei o valor. Deu vontade de puxar meus cabelos e gritar aos quatro cantos, aos quatro ventos e contrariar “o bom cabrito não berra”.
Compartilhei com todos da minha casa, vizinhos e roguei a Nossa Senhora dos Impossíveis para me socorrer. Liguei para a empresa e o resultado ainda não havia saído, ou chegado, sei lá, não entendi direito o meu interlocutor, eu queria mesmo era desabafar com ele.
Calmo, absorto, já me preparando para o morgue adotei a tática de desligar tudo e ver se os números do novo relógio do medidor se movimentavam. Isso iria me dizer se haveria um gato na minha rede, ou ainda se eu mesmo estava furtando energia de mim, exceto a física e a intelectual. “Nadica” de nadinha. Os indicadores estavam parados como água de lagoa. Fiz isso algumas vezes e acho que já era uma noia. Não podia ver um interruptor ou plugue que desligava ou desconectava.
Chegou a nova conta. Primeiro fiz um padre-nosso, rezei, orei e fiz o sinal da cruz. Pensei seriamente em ligar para o meu amigo pastor, pedindo sua intercessão, no entanto criei coragem e abri, mas o susto continuou, a conta era quase a mesma, mas dessa vez havia uma diminuição. Sim, havia mesmo, um mísero três por cento em relação à anterior.
Mudei para uma edícula da casa da minha sogra. Antes, desliguei o disjuntor do padrão bifásico e voltei meses depois para ver a conta de luz. Havia diversos papéis da empresa, um deles muito bonito, em A4 dobrado, colado, picotado e vincado, que denotava ser alguma coisa muito importante.
Abri logo pensando ser o crédito referente ao aparelho enviado para aferição e vi que era um reaviso da conta, e informava que em tal data, já vencida, iria ser interrompido os serviços. Bem, aí eu passei a ter certeza, quase que absoluta, que a próxima conta eu não teria susto, pois a empresa mesmo desligou a energia.
Ah, aquele papel bonito tinha um valor, pequeno, mas tinha. Paguei e coloquei a casa à venda, como se colocando fogo no sofá resolvesse o problema. Espero que o próximo consumidor receba o resultado da aferição e que Deus conforte o seu coração, quando chegar, mês a mês, a fatura azul e rosa, com umas letras legíveis e outras “lupáveis”, para não querer entender o segredo do universo.

(*) Hermélio Silva é escritor e membro fundador da Academia Rondonopolitana de Letras, cadeira número 6

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