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A onça na espreita*

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(*) Hermélio Silva

Estávamos conversando, eu e meu irmão no quintal da casa onde a gente morava na fazenda do nosso avô. O assunto eu nem me lembro direito, mas era uma daquelas boas conversas que nós fazíamos, quando não estávamos na labuta. De longe, ouvimos um urro diferente e latidos dos dois cachorros da nossa família e ainda, um tropel de cavalo. Os barulhos aumentavam e nós já ficamos apreensivos, porque era comum perdermos alguns novilhos para os animais da floresta próxima a propriedade.

Notamos que o movimento estava acontecendo já em frente à matinha e o nosso avô estava a cavalo rodeando para alcançar os animais, mas passando pelo pasto para melhor desenvolver a correria do seu animal de estimação. Notamos que o velho estava com a sua cartucheira em punho e com a mão esquerda dominava o quadrúpede com as rédeas.

O som foi diminuindo e sumiu. Algum tempo depois, meu irmão me cutucou e apontou para a beira do curral e lá estava uma onça pintada ofegante. Havia driblado seus perseguidores. Meu irmão vazou na brachiara em direção à porta de casa. Eu fiquei paralisado de medo.

A bicha foi chegando devagarinho com um corpo esguio e o rabo em riste. Eu olhava para ela e para os meus pés que não saiam do lugar, mesmo que eu insistisse. Gritei para o mano se esconder e trancar a porta, assim que os pulmões voltaram a funcionar, e sair correndo feito um louco para subir no pé de juá, que tinha na frente da casa. Subi em dois tempos. A bichana continuava a espreitar na maior tranquilidade, diferente de quando rosnava e corria com medo dos cachorros e do tiro certeiro do meu vovô.

Rezei todas as orações que conhecia em alguns segundos. Repeti a reza e torcia para o animal não continuar a me seguir. Seguiu. Estava debaixo da árvore se preparando para escalá-la ou pular para me pegar. Sua morosidade me afetava mais que a velocidade que eu imaginava que ela tinha.

Optei em continuar rezando, mas ela continuava a se movimentar. Gritei com todos os pulmões que eu tinha, que pareciam ser quatro, devido a intensidade produzida. Chamava o meu irmão insistentemente. Rogava a todos os santos. Quando de um pulo, apenas um pulo a onça com sua pata direita vinha na minha direção. Ia estraçalhar a minha perna esquerda. Fechei os olhos e esperei o impacto, neste momento ouvi uma voz me chamar, pelo nome mais belo que eu conheço: o meu.

Era a minha esposa assustada perguntando o que estava acontecendo. Eu respondi, ainda amedrontado, com duas perguntas numa só:
– Cadê a onça? Cadê o meu irmão?
– Acorda moço. Está suando frio. – Disse minha amada esposa.
*Baseado num sonho do meu querido irmão Hermelindo Silva, no dia 29.03.2024, que me ligou na manhã do dia seguinte.

(*) Hermélio Silva é escritor e membro fundador da Academia Rondonopolitana de Letras, cadeira número 6

 

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