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Rondonópolis
, 17 maio 2024
 
 

Impressões sobre o museu Rosa Bororo

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(*) Osmar Diesel

Ao tomar conhecimento que em Rondonópolis há um Museu, fiquei feliz por haver interesse de algumas pessoas em preservar documentos, fotografias e outras imagens, objetos de arte e outros do cotidiano que remetem ao passado. Me preparei para visitá-lo e logo me interessei em saber por que este é o nome do Museu? Quem foi Rosa Bororo? As informações são de que se trata de Cibae Motojebado, que ao ser raptada e levada a Cuiabá, no século XIX, foi batizada na Igreja Católica como Rosa Bororo.

Na semana seguinte, fui ao Museu Rosa Bororo. Na sala de entrada há uma exposição de objetos, estes são preservados como lembranças dos primeiros donos desta terra, os indígenas. Podemos ver algumas fotos e objetos de uso deles. Mas não pude deixar de observar que há pouco material, justamente desta etnia que deveria ter uma ampla mostra de objetos e informações, inclusive sobre Cibae Motojebado, a Rosa Bororo. As vezes tenho a impressão que não se quer lembrar que eles lutaram muito para preservar seu espaço e sua cultura.

Vemos o povo de Israel lutando pelo seu espaço porque no passado seus ancestrais viviam na região da Palestina. Sinto que alguns apoiam o direito do povo Judeu de ter sua terra, porém, não querem que os povos indígenas tenham o mesmo direito de ter as suas terras. Lembremos que não faz muito tempo que o povo Bororo caçava, pescava e coletava uma grande variedade de alimentos nesta terra, onde hoje é a cidade de Rondonópolis.

Então, observei que há várias salas com portas abertas. Por que estas salas são tão pequenas? Por que na Sala principal há uma cerca de madeira e um palco? Obtive a informação de que o prédio foi Prefeitura e Câmara Municipal. Ao olhar as fotografias da década de 1950, observei que o prédio era maior, mas comparando com a atualidade, constatei que parte foi absorvido pelo Banco do Brasil. Por que? Que negociação a Prefeitura teria feito com o Banco do Brasil para perder parte do imóvel?

A exposição se estende pelas diminutas salas, mas, os objetos, fotografias e equipamentos parecem que sempre estiveram ali. Será que estas salas servem de depósito, com portas abertas ao público?

Em uma das salas, podemos observar equipamentos de uma antiga farmácia. Há uma informação: os irmãos Elzio, Nelson e Cândido Borges Leal fundaram em sociedade a Farmácia Santa Terezinha em 10 de dezembro de 1955. Elzio e a família doaram os instrumentos usados no passado para o Museu Rosa Bororo.

Fiz uma conexão temporal, e me lembrei que em 1955 Rondonópolis estava recém emancipado de Poxoréu. Naquela época, os farmacêuticos fabricavam os remédios que de certo modo têm uma semelhança com as farmácias de manipulação que temos hoje em nossa cidade. Há setenta anos, grande parte dos remédios era fabricada por farmacêuticos, que também serviam de médicos na falta destes.

Também podemos observar um antigo gabinete odontológico bem preservado. Nesta “sala de dentista”, coloquei-me a refletir sobre o progresso dos tratamentos dentários. Os alicates já tinham sido deixados para outros fins. Quem terá doado estes equipamentos ao Museu Rosa Bororo? Por que foi recebido? Quando? Quais os objetivos do gabinete nesta exposição no Museu?

Em outro compartimento encontramos a galeria dos ex-prefeitos. É necessário lembrar daqueles que foram responsáveis pela administração de Rondonópolis. Eles ajudaram a construir o que temos em nossa cidade. Claro que não trabalharam sozinhos, mas tiveram seu lugar nessa edificação que fora a Prefeitura. Bem como, se empenharam em atuar politicamente em favor, ou não, da população ao administrar o município por meio de mandatos, para os quais fizeram campanhas políticas, foram eleitos e/ou reeleitos. Quem os elegeu? Em quais partidos políticos atuaram? Como se relacionaram com o poder central no Rio de Janeiro e mais tarde em Brasília.

Quais as negociações realizadas com o estado de Mato Grosso, antes e depois da divisão do estado? São tantas indagações que provocam uma exposição em um Museu! Mas, para além das fotografias das autoridades políticas, não há maiores informações na sala de exposição.

Em outra sala, há objetos que levam à cultura libanesa. Por que estão expostos neste Museu? Observa-se um traje típico, aparelhos de chá, facas com bainhas adornadas, narguilé e outros objetos, que pertenceram a José Yousef Merhi. Quem foi este homem e sua família? Por que estes objetos foram recebidos, são conservados e expostos neste Museu?

O nosso Brasil é composto por tantas culturas que deixam suas marcas em nossa história. Essa diversidade é linda. Então, toda essa experiência no Museu Rosa Bororo me fez lembrar da que vivi em uma cidade com quarenta e poucos mil habitantes. Lá tinha um museu junto a um centro de eventos, com ginásio de esportes, campo de futebol, trilha para caminhadas, etc… O museu era bem cuidado. Mantinha um grande acervo de antiguidades e amplo ambiente. Era claramente percebido o valor que era dispensado ao passado. Nesse local, eram realizadas várias atividades, inclusive encontros para idosos.

As memórias dos idosos são importantes para as gerações atuais. Como o Museu Rosa Bororo trabalhou ou trabalha a memória dos fundadores do Museu? Quem fundou este Museu? Há algumas salas fechadas para visitação. Ao dar uma breve olhada pela porta coberta com um tecido barato, pude observar que se tratavam de depósitos. Muitas peças acumuladas, uma sobre as outras. Uma lástima para o Museu e a História do Município.

Ao ler as Atas do Conselho Municipal de Políticas Culturais, publicadas no Diário oficial do Município – DIORONDON é possível perceber que representantes do Setorial do Patrimônio Histórico e Cultural tocam no assunto várias vezes. Pedem a restauração do prédio do Museu. Penso que todos os cidadãos de Rondonópolis, assim como eu, concordam que é importante a manutenção do Museu Rosa Bororo para comunicar a História do Município. Contudo, prezados leitores, o forro da cozinha do Museu está caindo. As paredes dos banheiros infiltradas por dentro e por fora.

Enfim, VISITE O MUSEU e veja as paredes onde estão fixados quadros com fotografias! Todas infiltradas e se deteriorando. Todas as paredes, e o telhado, e os acervos, as instalações precisam de reparos urgentes.
Atenção!

Gostaria que nossas autoridades eleitas e toda a nossa sociedade de Rondonópolis valorizasse mais nosso passado. O valor pode ser visto no cuidado com o local de preservação desse passado, tanto quanto, com o cuidado com o material que ali está. Por isso, peço que nossa Prefeitura, Secretaria de Cultura, Câmara Municipal, as grandes e pequenas empresas de Rondonópolis e as universidades SALVEM O MUSEU ROSA BORORO. Façam um pouco pelo nosso Museu. Pela nossa História. O Museu, a cultura, as pessoas que fizeram as doações também merecem nosso melhor empenho.

Meus agradecimentos à bibliotecária que nos recebeu, pelo bom atendimento em meio ao caos. Concluo este artigo perguntando, como a Secretaria Municipal de Cultura promove o Projeto Circuito Escolar no Museu? Está oportunizando as crianças do nosso município conhecerem a História de sua cidade no Museu naquelas condições? De que presente terão memórias? Voltarão para ver outras exposições no Museu nestas condições? Aprender sobre o passado no presente é uma grande responsabilidade. Que cidade e passado destas terras, mostra hoje o Museu Rosa Bororo?

(*) Osmar Diesel é acadêmico do curso de História da Universidade Federal de Rondonópolis (UFR)

 

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