A geração Z está aportando no mercado de trabalho cada vez com mais intensidade e tem se revelado um grande desafio para empresas, pais, recrutadores e eles próprios. Levar os pais para uma entrevista é apenas um dos eventuais comportamentos esdrúxulos dessa geração, demonstrando a grande falta de maturidade, autoconfiança, capacidade de tomar decisões e o despreparo para enfrentar a vida adulta e corporativa.
Uma pesquisa no final do ano passado, publicado pela americana Intelligent.com, com 800 gerentes, diretores e executivos envolvidos em contratações, revelou que ao menos 20% desses gestores já tiveram recém-formados que trouxeram um dos pais para a entrevista de emprego. De outro lado, apontou também que 39% dos empregadores preferem contratar pessoas mais velhas, preterindo as entrevistas com jovens da geração Z.
Outra pesquisa americana, dessa vez desenvolvida pela ResumeBuilder em janeiro deste ano, revelou dados semelhantes, apontando por exemplo, que 30% dos recrutadores preferem contratar trabalhadores mais velhos aos candidatos da Geração Z.
Nessa toada, existe uma diversidade de pesquisas demonstrando descompasso desde o processo de recrutamento e seleção nesse perfil. Dentre eles as principais críticas dos profissionais para com essa geração é de que mais da metade deles não se vestem adequadamente e não fazem contato visual quando estão frente ao interlocutor.
Além disso, parcela significativa faz exigências salariais fora da realidade, apresenta dificuldade de comunicação e demonstram falta de interesse e engajamento. Por fim, após contratados, mais da metade também se comporta de forma arrogante e 1/5 deles se tornam profissionais de difícil gerenciamento.
Outros pontos que chamam a atenção é de que menos 58% dos jovens se ofendem com muita facilidade, denotando incapacidade para receber feedbacks, o que obviamente também são sinais evidentes da falta de preparo para o mercado de trabalho.
Mas calma aí. Importante entender que ninguém nasce pronto e somos o resultado de nossas experiências ao longa da vida. Logo, baseado na minha experiência, a origem desse perfil geracional não é culpa dos jovens em si, mas está em dois pontos em particular na sua tenra trajetória até aqui.
O primeiro é a exposição exagerada ao mundo digital, às telas e o bombardeio diário de estímulos que foram submetidos durante anos, desde a sua infância. Essa geração teve acesso ao que podemos chamar de mundo digital de recompensa, o que em última análise significa estímulo contínuo para se comportar ou interagir com sistemas digitais. Pouco ou nada de humano, por consequência.
Assim, a sociabilidade foi pouco treinada assim como o exercício da paciência. Por consequência, possuem vocabulário e repertório pobres, oriundo da pouca leitura e da dificuldade de conversar com pessoas fora do seu habitat. Em síntese, como se dizia antigamente, não sabem conversar com adultos ou pessoas fora da sua tribo e são pouco curiosos naquilo que não é do seu ambiente.
O segundo ponto e talvez associado ao primeiro, está a dificuldade de gerenciamento dos pais na relação familiar e a falta do estabelecimento de limites, o que acabou por solapar a capacidade de lidar com frustrações desses jovens, contribuído significativamente para esses comportamentos agora na fase adulta.
Mas como eu sempre digo, onde há dificuldades há oportunidades. E por isso, de modo recorrente tenho falado aos jovens de que diante das circunstâncias, basta que façam o básico bem-feito, prestem atenção ao ambiente e utilizem sua capacidade de aprendizagem e flexibilidade com rapidez, e assim terão sucesso em suas carreiras.
Aos gestores, atenção para selecionar caráter e paciência para ensinar etiqueta.
Até a próxima.
(*) Eleri Hamer escreve esta coluna às terças-feiras. É empreendedor, Diretor da GoJob Brasil, business advisor, mentor, Talent Hunter, articulista e palestrante –[email protected] – www.linkedin.com/in/elerihamer – Originalmente publicado no Jornal A Tribuna – www.atribunamt.com.br
