Gosto de recordar
De um amor que tive na infância
Ele usava calças curtas
Nos meus cabelos eram tranças
Havia química no olhar
Onde o sorriso fluía
Era um ver o outro
Pra lados opostos corríamos
Almas inocentes
Nasceram para amar
Sem imaginar que o futuro
Vinha nos separar
Numa curva da vida
Houve o nosso desencontro
A vida foi dividida
E o destino nos separando
Por mais que tentássemos
Uma aproximação
Sempre errava o caminho
A vida dizia não
Um dia mudou da cidade
Fui pro internato estudar
O destino mal traçado
De não mais nos encontrar
Passados 40 anos te vi
Num posto à beira da estrada
Fui cumprimentá-lo, não consegui
Lágrimas meus olhos inundaram
Você estava descendo
Da cabine do caminhão
O corpo meio curvado
O rosto tinha a mesma expressão
Bateu em mim uma ansiedade
Tive medo de aproximar
Foi difícil conter o desejo
De cobrir sua boca com beijos
Fortemente te abraçar
Sem saber sua reação
E o que poderia me dizer
Liguei o carro e fui embora
A saudade gritando você
Parei no acostamento
O choro a me sufocar
Cobrei do ingrato destino
E da vida por nos separar
(*) Arlete Alves Arcoverde é moradora em Rondonópolis