Hoje, Rondonópolis perdeu quase tudo daqueles primeiros tempos: muito conforto, mas pouca qualidade de vida; muitos muros e grades, mas pouca segurança; muita informação, mas pouco conhecimento; muitos moradores, mas poucos espaços de partilha. No que se refere ao crescimento no sentido humano, de relações interpessoais, perdemos muito. Contudo, em termos de crescimento econômico, o município teve um avanço invejável: nos anos 60 Rondonópolis se despontou como “Rainha do algodão”, ganhando, inclusive uma música do saudoso e sempre maestro Marinho Franco: Encontraram em Mato Grosso/A flor mais bela do sertão/É Rondonópolis/Cidade colosso/Rainha do algodão. Seu povo é forte/Trabalhador/De fronte erguida para o labor/Marcha coeso/E varonil…/Para o futuro e a grandeza do Brasil (Lassimi Franco PERRONE, 2001).
Nos anos 70, graças ao PRODOESTE, Programa de Desenvolvimento da Região Centro Oeste e aos incentivos para a grande produção, Rondonópolis recebeu novos migrantes que se dedicaram, com êxito, ao plantio do arroz e do soja, passando a ser conhecida como “Princesa do Leste”. Até o jornal A TRIBUNA era conhecido como “Tribuna do Leste”.
No final dos anos 70, outro produto passou a ocupar lugar de destaque na economia local: o soja que, dada a sua rápida expansão, fez de Rondonópolis, nos anos 80 e 90, a “capital do agro-business” e com os novos investimentos daí decorrentes, imprimiu uma nova feição à cidade de Rondonópolis.
Foi o momento, especialmente em meados dos anos 80, que Rondonópolis se inseriu no processo de globalização da economia e começou a ter uma nova configuração comercial: chegaram as primeiras franquias, com designs modernos, espaços climatizados, empresas ligadas à produção de sementes, com uso de novas tecnologias, enfim, a cidade começou a apresentar uma nova configuração espacial, com prédios de vários andares, asfaltamento das ruas da região central, importação de veículos, organização de vários novos bairros, etc. Muitas dessas mudanças puderam ser percebidas, de modo mais pontual, nas exposições agropecuárias que passaram a ser realizadas em espaço amplo e moderno, num parque considerado um dos melhores do Mato Grosso. Ao contrário das exposições dos anos 60, nas quais se disputavam a produção de maiores produtos in natura: maiores cachos de banana, maiores mandiocas, maiores tomates, maior produção de leite, etc, as exposições dos anos 90 passaram a expor avanços tecnológicos e qualidade de produtos tanto in natura quanto industrializados. Rondonópolis passou a ser conhecida como “Capital do soja” e recebeu elevado número de empresas relacionadas a esse setor. Imensas plantações de soja, com a adoção de máquinas cada vez mais modernas que passaram a desempenhar as funções de muitos trabalhadores rurais; ocuparam o lugar dos cerrados e das pequenas propriedades, gerando riquezas, mas intensificando o processo de êxodo rural e de problemas sociais na cidade, dado o elevado número de desempregados. Um dado novo naquele momento foi a criação de novos conjuntos habitacionais que contribuíram para minimizar os problemas de moradia e a construção de obras como o Shopping Center, a rodoviária, o Shopping popular, o asfaltamento da Avenida Brasil, o estádio e a prefeitura municipal, esta última denominada de “Palácio da Cidadania”, além da revitalização do Casario como espaço de turístico e de lazer.
Na virada do século, o município de Rondonópolis novamente é apresentado no cenário nacional como modelo de crescimento e, desta vez, com o retorno à produção do algodão. Graças à instalação de novas indústrias se busca a possibilidade de formação de um parque industrial e oferta de novos empregos. Contudo, tal crescimento precisa ser pensado à luz da vida, pois como alerta Hannah Arendt, não podemos nos esquecer da nossa “condição humana”. É preciso investir não só na expansão econômica e física da cidade, mas na qualidade de vida dos seus moradores, pois enquanto poucos têm muito, muitos continuam engrossando as fileiras dos desempregados; dos que sofrem nas filas por um exame médico; dos que não conseguem ter o alimento mínimo para uma vida digna. Apesar dos títulos recebidos ao longo de sua história, o município de Rondonópolis ainda carece de investimentos em prol da melhoria das condições de vida dos seus cidadãos e cada um de nós tem uma parcela de responsabilidade nesse processo: somos parte da cidade e a cidade faz parte de nossas vidas, como canta Olímpio Alvis, “Rondonópolis, eu descobri sou seu irmão/também corre um rio Vermelho/dentro do meu coração”.
Parabéns Rondonópolis!
(*) Laci Maria Araújo Alves é professora do Depto. História/CUR/UFMT
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Infelizmente o rastro deste modelo de progresso à que Mato Grosso foi submetido é este mesmo; um lugar onde meia dúzia de afortunados reinam sobre as pessoas e a natureza como novos deuses ou novos ricos. Este modelo de desenvolvimento só traz mais desigualdades.