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, 18 maio 2024
 
 

O papel da religião na construção do ser humano

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Jornal A TRIBUNA ouviu rondonopolitanos ligados ao meio religioso ou estudiosos da área para debater a religião na sociedade atual

Adilson José Francisco: “religião não é algo natural, como tantas outras dimensões da vida”
Adilson José Francisco: “religião não é algo natural, como tantas outras dimensões da vida”

A religião está presente na história da humanidade de várias formas e, na maioria das vezes, cada pessoa aprende a seguir uma determinada doutrina, tipo de crença, desde a infância. Há, por outro lado, quem opte não ter uma religião. De qualquer forma, a fé acaba por ter um papel significativo na formação do ser humano e para a sociedade. Afinal, seria possível imaginar o homem sem uma religião?
O Prof. Dr. Adilson José Francisco, associado de Departamento de História da UFMT e pesquisador CNPQ sobre religiões no mundo contemporâneo, faz ao Jornal A TRIBUNA uma análise crítica e baseada em estudos de longos anos sobre a atuação da religião na humanidade, apontando muitas contradições no mundo religioso na atualidade.
O estudioso atesta, inicialmente, que seria possível imaginar o homem sem uma religião. “Só no Brasil, de acordo com o IBGE, mais de 15 milhões de pessoas se declaram sem religião. A religião – no sentido como em geral a compreendemos hoje – é uma construção cultural milenar importante na estruturação da vida coletiva das diversas sociedades humanas. Mas ela não é algo natural, como tantas outras dimensões da vida, ela foi sendo lenta e gradualmente construída, vide a imensa diversidade das expressões religiosas presentes nas mais diferentes culturas e sociedades humanas.
Conforme o professor Adilson José, ter uma religião, certamente, vai muito além do que estar perto de Deus. Ele aponta que os estudos científicos sobre a gênese das expressões religiosas nas sociedades antigas revelam que o medo, a perda, o perigo iminente provocado por um trovão, uma enchente ou uma epidemia, geravam em nossos ancestrais a prática de determinados rituais religiosos. Bem mais tarde, segundo ele, é que aparece nestas sociedades o anseio por responder as questões existenciais: De onde viemos? Para onde vamos? “A partir deste momento, o que chamamos de religião vai sendo elaborado de forma mais complexa”, explica.
Nesse contexto, o professor Adilson José externa que as religiões, e elas são muitas, têm um papel importante na vida social. Como instituições de coesão social e forte mobilização moral, elas podem ser valiosos instrumentos de reposição da dimensão ética da humanidade, como o cuidado com o planeta e a compreensão de uma ecologia integral e não a lógica do mercado que tudo devora. “Podem ser pontes para as atitudes de paz e de solidariedade humana e não o acatamento da lógica do poder. Podem e creio que devem ser, praticantes primeiras daquilo que pregam e não empreendimentos de negócios e barganhas políticas. Não é estranho que, nunca houve tantas religiões e tamanha visibilidade das religiões via mídias e ao mesmo tempo tantos conflitos e tantas pessoas religiosas envolvidas em escândalos? Talvez um os problemas de nossa época não seja falta de religião”, analisa.
Para o pesquisador, a laicidade do Estado é uma conquista muito importante das democracias contemporâneas. Ele entende que a história da humanidade revelou o quão nocivo foi para diferentes povos a associação direta entre o Estado e uma determinada religião. Vide o caso das inquisições – católicas e protestantes – no ocidente e o que ocorre hoje em alguns países do Oriente Médio, nos quais o islamismo é religião oficial. “Diante disso o papel das igrejas, deve ser aquilo que, por exemplo, as três maiores religiões monoteístas do ocidente pregam em seus livros que podem ser resumidas em: não fazer aos outros aquilo que não querias que te fosse feito. Urge recuperar esta dimensão ética necessária para a vida, mais que a disputa e guerra religiosa que vemos entre as igrejas”, externa.
Quanto ao fato de tantas mortes em nome da religião, Adilson José responde que este é o paradoxo das religiões que se agigantam ao longo da história. “Quanto mais se expandem, mais perdem a essência daquilo que pregam seus fundadores o que está escrito em seus livros sagrados. O mandamento ‘não matarás’ está presente nos três monoteísmos citados. Isto revela o quanto as religiões estão intrinsecamente ligadas à cultura, à política, a economia, isto é, aos interesses daqueles que delas se servem para promover aquilo que almejam. Ainda se ouve em muitos púlpitos que o ‘demônio’ é sempre o outro”, alerta.


PASTOR:

“O homem sem fé seria um fracasso”

Secretário adjunto da diretoria da Igreja Evangélica Assembleia de Deus (IEAD), pastor Ildo Rodrigues: “Imaginarmos o homem sem religião é imaginarmos o homem sem fé”
Secretário adjunto da diretoria da Igreja Evangélica Assembleia de Deus (IEAD), pastor Ildo Rodrigues: “Imaginarmos o homem sem religião é imaginarmos o homem sem fé”

Deivid Rodrigues
Da Reportagem

Para o dirigente da congregação da Assembleia de Deus no bairro Jardim Lourdes, secretário adjunto da diretoria da Igreja Evangélica Assembleia de Deus (IEAD) e coordenador de programação da rádio Shalom FM 107.5, pastor Ildo Rodrigues, não é possível ver um indivíduo sem seguir uma determinada crença.
“Religião vem do latim ‘religare’, que tem o significado de religação. Essa religação se refere entre uma nova ligação entre o homem e Deus, teologicamente explicando. Isto só é possível mediante a fé em Jesus Cristo, no seu sacrifício oferecido no calvário. Portanto, religião é a instituição responsável por trabalhar a fé do ser humano. Imaginarmos o homem sem religião é imaginarmos o homem sem fé. E o homem sem fé seria um fracasso”, comentou.
Conforme o pastor, a religião tem que ir além em seu papel, ou seja, não apenas aproximar o homem de Deus pela fé, “mas sim de prepará-lo para estar com Deus na vida eterna. Depois que partimos desta vida, isto respaldados no que diz a Bíblia sagrada”, reiterou.
Ildo acrescentou que a grande contribuição que a religião promove para a sociedade é de cultivar e trabalhar a fé do ser humano. “Sendo assim, através da fé, o homem que, de natureza, pode produzir atrocidades, maldades, crueldades, e tudo que é mal, através da fé ele se converte e domina a sua natureza, fazendo assim um mundo mais benéfico, através de suas boas atitudes consigo mesmo, com Deus e com o próximo”.
Questionado sobre qual deve ser o papel das Igrejas no Estado Laico, Pastor Ildo respondeu esclarecendo que isso consiste que o Estado não interfere nos assuntos religiosos, dando a liberdade religiosa aos cidadãos, tendo a imparcialidade religiosa ao não apoiar e nem discriminar uma religião.
Sendo assim, o pastor repassou que o papel da Igreja deve ser aquele que está orientado e ordenado na palavra de Deus e que consiste em “Pregar o Evangelho a toda Criatura”. “Pois a Fé vem pelo ouvir e ouvir da palavra de Deus, e se o homem adquirir esta fé, ele, com certeza, estará mais próximo de Deus, e consequentemente, se converter e produzir frutos dignos, trazendo benefícios para ele, para seu próximo, e isto resultará numa sociedade melhor”, completou Ildo Rodrigues.
Uma situação muito presente na sociedade atualmente são as mortes em nome da religião, como ocorre no Oriente Médio, por exemplo, onde ocorrem atentados terroristas em nome de “Alá”, a designação de Deus para os muçulmanos.
Sobre isso, pastor Ildo disse que como a própria palavra de Deus mostra e ensina que não se deve usar a fé para levar ao homem a nenhum extremo. Segundo o secretário adjunto da diretoria da IEAD, a Bíblia ensina aos indivíduos a serem equilibrados. Com isso, se uma pessoa encontra instituições que em nome Deus ensinam diferente do que está escrito na palavra Dele não se pode aceitar.
“E creio que isto não é uma verdadeira religião. Pode ser qualquer coisa. Menos religião, pois segundo a definição da própria palavra religião, é o meio de religação a Deus, e Deus nos deixa claro na sua palavra que estas ações não têm nada a ver com Ele, portanto o que vemos hoje em tantas mortes e outras coisas em nome da religião, nada mais é, para cumprir o que está na própria Bíblia alertando que tudo isto haveria de acontecer e estar no nosso meio, inclusive as pseudo-religiões”, alertou o pastor.


PADRE:

“Mesmo o homem pós-moderno se vê necessitado de Deus”

Deivid Rodrigues
Da Reportagem

Pároco da Paróquia São José Esposo, padre João Henrique Corrêa: “com a religião, a humanidade continua tendo defeitos, muitos deles graves, mas sem ela seria pior”
Pároco da Paróquia São José Esposo, padre João Henrique Corrêa: “com a religião, a humanidade continua tendo defeitos, muitos deles graves, mas sem ela seria pior”

O pároco da Paróquia São José Esposo, padre João Henrique Corrêa, enfatiza que, embora cada pessoa seja livre para decidir crer ou não, a religião faz parte do ser humano. “Com as revoluções científicas e tecnológicas, acreditou-se que a humanidade teria passado para uma nova etapa sem Deus. O que aconteceu, de fato, foi que mesmo o homem pós-moderno se vê necessitado de Deus, impelido a buscar o absoluto”, explicou.
Perguntado sobre se ter uma religião seria somente estar mais perto de Deus ou se vai muito mais além do que isso, o padre respondeu que o fato de se estar próximo Dele já é muita coisa e não existe nada mais alto do que isto. João Henrique acrescentou que a religião, no sentido autêntico, consiste em uma vida de comunhão com Deus.
“Esta comunhão com Deus atinge toda a vida do ser humano, comportamento, forma de se relacionar com as pessoas, mudança interior, conversão, etc. A religião é a base da sociedade, mesmo que entre muitos hoje haja a tendência a negar este fato. Uma sociedade sem religião acaba se desagregando ou buscando uma outra forma de religião, mesmo que não perceba”, reiterou o sacerdote.
João Henrique declarou que, em muitas tentativas de se formar um Estado Laico, o que acontece não é uma “adoração” do Estado. “Uma idolatria de ideologias e sistemas de governo que em nome da ‘laicidade’ querem calar aqueles que tem uma religião e se colocar como árbitros absolutos do bem e do mal”, completou o padre. O sacerdote continuou a dizer que ninguém pode ser obrigado por um sistema político a aderir a uma religião e todos devem ter o direito de escolher sua crença.
“Mas o Estado e nenhum sistema de governo tem o direito de privar os cidadãos de viver publicamente a sua religião, de manifestar suas convicções religiosas, de entrar no debate público, somente por que seus princípios morais são baseados na religião. Além do mais, existe um preconceito de que convicções religiosas são irracionais e irrelevantes para a vida social, quando na verdade não é assim. Existem muitas coisas defendidas ou condenadas pela Igreja Católica, por exemplo, que também se baseiam em princípios racionais e no princípio do bem comum”, enfatizou o padre.
João Henrique pontuou que o papel da Igreja continua o de pregar o Evangelho de Cristo, de levar as pessoas a encontrarem Jesus. “Viver e praticar a fé, sendo ‘luz do mundo’ como o Senhor pede. É a missão de levar as pessoas para o céu”, reforçou.
A respeito da ocorrência de mortes em nome da religião, padre João Henrique comentou que o ser humano carrega o traço da violência. O sacerdote falou que o problema não são as mortes em nome da religião e sim todos os tipos de homicídios.
“As pessoas são assassinadas muito menos por motivos religiosos do que por outros motivos (tráfico, violência doméstica, guerras). Existe um antropólogo francês – René Girard – que dedicou sua vida a estudar o tema da violência e o sagrado. De modo resumido, ele concluiu que o ser humano é violento por si, e no processo civilizatório, a religião teve o papel de estabelecer os princípios morais de justiça e respeito ao próximo”, repassou.
Segundo João Henrique, com a religião, a humanidade continua tendo defeitos, muitos deles graves, mas sem ela seria pior. O padre reiterou que tenha em vista que os sistemas de governo mais ateus e adversos à religião do Século XX (nazismo, comunismo e outros) mataram muito mais pessoas do que os conflitos religiosos.

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2 COMENTÁRIOS

  1. Religião é mansidão e fraternidade, um bálsamo e caminho para com Deus, desde que seja religião verdadeira e não igual a muitas existentes que são verdadeiro comércio e pura enganação.

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