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Rondonópolis
, 18 maio 2024
 
 

Crise impacta transporte rodoviário de cargas

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Foto: Roberto Nunes/A TRIBUNA
Foto: Roberto Nunes/A TRIBUNA

A euforia e os planos de expansão ficaram para trás entre os transportadores de Rondonópolis, conhecida como “Capital Nacional do Bitrem” por conta do grande fluxo de caminhões articulados em circulação nas rodovias federais que cortam a cidade. Os transportadores passaram a vivenciar uma nova realidade: lucros menores, redução de frota e aumento das dispensas de funcionários. A Associação dos Transportadores de Cargas de Mato Grosso (ATC) avalia que o setor de transporte rodoviário de cargas está passando por uma das maiores crises dos últimos 20 anos.
As dificuldades se intensificaram desde o fim de 2014, quando houve um aumento significativo do número de caminhões no mercado. A expectativa de safra recorde e a baixa taxa de juros disponibilizada pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) incentivaram muita gente a renovar ou aumentar as suas frotas. Naquele momento, muitas empresas de outros setores e até profissionais liberais se interessaram e acabaram ingressando no transporte rodoviário de cargas. Em consequência, junto com outros imprevistos nas lavouras, as tarifas de fretes começaram a cair, gerando prejuízos.

Dificuldades se intensificaram desde o fim de 2014, quando houve um aumento significativo do número de caminhões no mercado - Foto: Roberto Nunes/A TRIBUNA
Dificuldades se intensificaram desde o fim de 2014, quando houve um aumento significativo do número de caminhões no mercado – Foto: Roberto Nunes/A TRIBUNA
Diretor-executivo da ATC, Miguel Mendes: “as expectativas não são nada boas”
Diretor-executivo da ATC, Miguel Mendes: “as expectativas não são nada boas”

A realidade no setor de transporte rodoviário de cargas atualmente é preocupante. Segundo informações oriundas do próprio segmento, são inúmeras empresas pedindo recuperação judicial e outras abrindo falência. Também é expressivo o número de caminhoneiros autônomos que está abandonando a profissão, por não conseguir pagar as parcelas de financiamentos de seus caminhões, sendo obrigado a entregar os mesmos para o banco para quitar as dívidas.
O diretor-executivo da ATC, Miguel Mendes, atesta que o setor de transporte rodoviário de cargas é o maior gerador de renda, impostos e de empregos diretos e indiretos de Rondonópolis e região, com estimativa de mais de 20 mil trabalhadores atuando em prol do mesmo de forma direta ou indireta. Quanto aos reflexos desta crise, aponta o aumento do número de desempregados e o enfraquecimento do comércio local, com o fechamento de muitas empresas que dependem do setor.
Conforme Miguel Mendes, a crise no segmento não é fruto de mau planejamento por parte do setor. Ele argumenta que houve uma política errada da presidente Dilma Rousseff em autorizar, há dois anos, o BNDES a financiar, com taxa de juros subsidiadas, a aquisição de caminhões e carretas, com o intuito de fomentar a fabricação e comercialização destes bens. Com isso, reforça que muitos empresários de outros setores acabaram se aventurando no segmento achando que poderiam enriquecer da noite para o dia.
“Também muitos caminhoneiros empregados acabaram pedindo demissão das empresas onde trabalhavam, iludidos que poderiam se tornar caminhoneiros autônomos com remuneração mensal bem maior das que recebiam como empregados: ledo engano, muitos hoje se encontram em situação muito difícil e não possuem dinheiro nem ao menos para custear uma refeição”, afirma o diretor.
Para piorar, Miguel analisa que as expectativas para o segmento não são boas, pois, com a atual quebra da safra de grãos, junto com a crise político-econômica vivenciada no Brasil, a tendência é minorar a demanda por transporte rodoviário de cargas pelo menos para os próximos 02 anos, o que provocará uma grande redução desta que é uma das mais importantes atividades econômicas do País.

CRISE II

Empresário analisa que “mercado está se reciclando”

Márcio Sodré
Da Reportagem

Empresário Dirceu Capeleto, sócio-diretor de uma grande transportadora com sede em Rondonópolis: “ainda em 2014 fizemos uma readequação antecipada”
Empresário Dirceu Capeleto, sócio-diretor de uma grande transportadora com sede em Rondonópolis: “ainda em 2014 fizemos uma readequação antecipada”

Com o mercado regional considerado inchado, o empresário Dirceu Capeleto, sócio-diretor de uma grande transportadora com sede em Rondonópolis, avalia que o futuro do transporte rodoviário de cargas está reservado para aqueles que tiverem uma maior preocupação com a profissionalização. “O mercado está se reciclando”, disse o empresário ao Jornal A TRIBUNA, observando que o setor sempre foi conduzido de forma muito amadora.
Conforme Dirceu, essa transição do amadorismo para a profissionalização já ocorreu com diversos outros setores da economia, tendo como principal exemplo a agricultura em Mato Grosso. Agora repassa que não há como o transporte rodoviário de cargas fugir dessa transição, considerando as muitas dificuldades e incertezas vivenciadas.
Dirceu observa que o setor vive uma realidade em que os custos subiram e os fretes recuaram, fazendo com que as contas não fechem. O cenário é reflexo, segundo ele, em parte de fatores passados, como a saturação do mercado com excesso de frota, e em parte de fatores atuais/futuros, como a retenção dos estoques dos produtores de grãos e a expectativa de quebra da safra atual.
Com a safra 2015/2016, surgiu uma expectativa de recuperação dos prejuízos entre muitos transportadores, mas novos imprevistos surgiram. “Existia uma expectativa muito otimista, que não vem se confirmando”, disse Dirceu. “Esta era para ser uma safra recorde e houve problemas em todas as regiões do Brasil”, acrescentou.
O empresário confirma que o setor está se encolhendo e que vive uma falta de confiança. Em seu caso particular, Dirceu explica que ainda em 2014 procurou fazer uma readequação antecipada, porque percebia que o mercado estava saturado. Atesta que reduziu em 20% o quadro de colaboradores e a frota de veículos.
Conforme Dirceu, uma preocupação existente é que, diferente de outros momentos de dificuldades, o ciclo atual de crise está longo e, por outro lado, a perspectiva de normalização está um pouco distante. Ele atesta que o cenário do setor ainda é um tanto que indefinido.

CRISE III

Transportadores conseguiram prorrogação dos financiamentos

Registro de reunião ocorrida em abril deste ano na sede do BNDES, em Brasília, com o presidente Luciano Coutinho, que anunciou o programa de refinanciamento para os transportadores. Na ocasião também estavam os senadores Blairo Maggi (hoje ministro) e Wellington Fagundes - Foto: Divulgação
Registro de reunião ocorrida em abril deste ano na sede do BNDES, em Brasília, com o presidente Luciano Coutinho, que anunciou o programa de refinanciamento para os transportadores. Na ocasião também estavam os senadores Blairo Maggi (hoje ministro) e Wellington Fagundes – Foto: Divulgação

Márcio Sodré
Da Reportagem

Desde o ano passado, os transportadores vêm buscando junto ao governo o refinanciamento de caminhões vendidos dentro de alguns programas. Diante das dificuldades, a Associação dos Transportadores de Cargas de Mato Grosso (ATC) informa que conseguiu, com o apoio do senador e hoje ministro da agricultura Blairo Maggi, a prorrogação junto ao BNDES dos financiamentos dos transportadores que se utilizaram desta linha de crédito para comprar caminhões e carretas, com carência de 01 ano e com prazo de até 24 meses para pagar.
Conforme o diretor-executivo da ATC, Miguel Mendes, a entidade também têm cobrado das autoridades competentes um maior rigor na fiscalização das leis que beneficiam os transportadores, como a Lei do Vale Pedágio e a Lei da Estadia, que não são respeitadas pela grande maioria dos contratantes dos prestadores de serviço de transporte rodoviário de cargas.
“Já os transportadores não têm muito o que fazer, a não ser se desfazer de patrimônio (com a venda de parte de seus caminhões) para quitar dívidas e renegociar outras, demitir funcionários, suspender todo e qualquer investimento, implantar programas de redução de custos operacionais, enfim, cortar na própria carne se preciso for”, externou.

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