A conta gotas

Os sinais da diminuição na oferta de água tratada não param de aparecer. Todos nós estamos vendo, no estado de São Paulo, a pior crise hídrica em décadas, com cerca de 2,1 milhões de pessoas submetidas a racionamento oficial. As chuvas foram bem abaixo do esperado nas últimas temperadas, baixando os níveis dos principais reservatórios.
Apesar dessa carência, na contramão dessa situação, o Instituto Trata Brasil divulgou nesta semana uma pesquisa informando que, a cada 10 litros de água tratada nas 100 maiores cidades do país, 3,9 litros (39,4%) se perdem em vazamentos, ligações clandestinas e outras irregularidades.
Trata-se de um quadro de alerta para todos os brasileiros, apesar do expressivo manancial de recursos hídricos do País, especialmente das cidades interioranas, como Rondonópolis, que acreditam que o problema da escassez da água tratada é coisa apenas das grandes metrópoles.
A utilização racional da nossa água deve ser uma constante preocupação a partir de agora, sobretudo diante de maus hábitos dos moradores. Se não bastasse o desperdício oficial no momento de distribuição da água, vemos em Rondonópolis, assim como em muitas outras cidades, pessoas que abusam desse bem, mesmo no período da seca, lavando ruas, calçadas, carros, entre outros, sem a menor racionalidade.
A realidade mostra que o desperdício está em todas as esferas e que isso precisa mudar especialmente a partir da postura do poder público, com uma gestão mais eficiente no tratamento e distribuição da água tratada, mostrando um avanço na forma de encarar esse sistema – hoje visto como uma espécie de “filantropia”, sem muita preocupação com eficiência e geração de lucro.
Os números recentes do Instituto Trata Brasil são um aviso para as administrações colocarem a diminuição da perda de água como uma prioridade, investindo fortemente em equipamentos, estruturas e ações para acabar com esse desperdício. Caso não haja uma mudança de postura em relação ao assunto, considerando os constantes desajustes climáticos, em breve, a água tratada estará chegando a conta gotas na maioria das cidades brasileiras – o que seria trágico!