(*) Bernadete dos Santos
Rondonópolis, sem dúvida, é um município que carrega em sua trajetória uma lista abundante de Bens Históricos e Culturais. Entre esses tesouros, a Praça dos Carreiros se destaca como um local de significado profundo, uma vez que é um lugar para além de um ponto geográfico. Ela é testemunho vivo da população e construção da identidade dos rondonopolitanos.
Durante a década de 70, o local utilizado para a realização da segunda feira de Rondonópolis, evento que agregava inúmeros carreiros os quais traziam, em suas carroças puxadas por bois, diversas mercadorias que seriam comercializadas ali. À vista disso, a Praça foi nomeada como Carreiros, justamente em homenagem a esses tantos trabalhadores rurais que foram os verdadeiros motores do desenvolvimento do município.
Naquele terreno se instalavam os circos, que traziam diversão para os moradores. Os desfiles cívicos também se centralizaram ali. Os indígenas Bororo sempre se encontravam na Praça, preferencialmente onde na atualidade foram construídos os quiosques.
Como “Praça dos Carreiros” foi inaugurada no ano de 1982, pelo prefeito Walter de Souza Ulysséia. Desde então, os moradores fazem memórias que houveram ali a concentração dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra; as Caminhadas Católicas e as Concentrações Evangélicas; bem como, os eventos das Secretarias Municipal de Saúde; Educação, Cultura e da Agricultura.
No entanto, mesmo que se tenha conhecimento da importância que a Praça possui para Rondonópolis, este lugar vem enfrentando alguns desafios para manter a sua preservação. Isso porque, lamentavelmente, ela está sendo diariamente negligenciada. Ao se observar a situação atual da Praça, por exemplo, é possível perceber a presença de muito lixo espalhado pelo ambiente, especialmente no coreto que há décadas era utilizado como palco para discursos políticos e apresentações culturais – e na fonte d’ água – que há algum tempo era símbolo de beleza. O que antes era uma marca de cultura histórica, hoje, tristemente, é utilizado como lugar para acumular os lixos jogados pelas pessoas.
Além disso, vale lembrar também que, embora tenha acontecido a revitalização da Praça dos Carreiros no ano de 2020, um detalhe ficou esquecido nessa nova roupagem: a presença de placas informativas, inclusive sobre o artista que produziu o enorme “Carro de Boi” e do outro que elaborou o “Carro de Boi Tradicional em madeira”. Tais placas poderiam ser colocadas em pontos estratégicos do local para narrar, mesmo que de forma breve, um pouco da história e importância daquele lugar. Acredito que esse projeto despertaria nas pessoas que passam pelo local, um dever maior de preservar o lugar, uma vez que teve acesso ao que ele representa para o município de Rondonópolis.
O terminal de ônibus é um ambiente confortável e espaçoso que dispõe de ar condicionado, banheiro e bebedouro para aqueles que aguardam, por vezes durante longos minutos, a chegada dos ônibus. Em seu interior seria adequado uma lanchonete e mesmo lojinhas, como algumas cidades do Brasil adotaram, visando atender aos usuários do Terminal de Transporte Coletivo.
Por fim, a Praça dos Carreiros é um tesouro que não pode ser desprezado. Ela é a memória viva da cidade de Rondonópolis, é um espaço que conta, por meio de cada detalhe, a evolução da comunidade ao longo do tempo.
Portanto, preservar e se comprometer com a manutenção contínua da Praça, tanto em seus aspectos físicos, quanto em relação às suas memórias, deve ser responsabilidade de todos. Pois, como já postulado pelo poeta e historiador brasileiro Tallison Ferreira, “é preciso preservar a memória para que a história não morra.”
(*) Bernadete dos Santos Gomes é estudante do Curso de História na Universidade Federal de Rondonópolis. Acredita no poder transformador do conhecimento e na beleza que há em buscar tornar reais os sonhos ainda dispostos na imaginação
