Crônica da santa hipocrisia

(*) Raimundo Soares

Diante de todos, aquele grande líder, dobrou os joelhos e ergueu as mãos aos céus como dando glórias a DEUS e unanimemente foi aclamado e exaltado como um homem do Senhor. Sim! Seria do Senhor se a sua boca quando abre não falasse tantas palavras sem nexo, pudor, respeito e fundamento, pois ironicamente se comporta como néscio e não como prudente que é o que se espera de alguém que está à frente de uma missão. Na verdade, dobra os joelhos porque isso não exige sacrifício e qualquer um pode fazer, porém, dobrar a língua é um estado de espírito de retidão e humildade, mas a sua arrogância não lhe permite e assim, consegue enganar aos homens, mas não a Deus. Dobra os joelhos diante de DEUS, mas esquece de dobrar a LÍNGUA, que é muito mais importante, SANTA HIPOCRISIA, isso é pura utopia.

Na minha simples sabedoria, eu acredito que DEUS prefere que se dobre a LÍNGUA diante dele do que os JOELHOS. Porque os joelhos, até o mais insano dos insanos, o mais cruel dos cruéis, o mais profano dos profanos, o mais mentiroso dos mentirosos, o mais astuto dos astutos, o mais hipócrita dos hipócritas, o mais fariseu dos fariseus e o mais arrogante dos arrogantes pode dobrar. A língua, porém, fala o que está dentro do coração, porque está escrito:“… a boca fala do que o coração está cheio. Mt 12-3”.

Ofendeu, denegriu, humilhou, mentiu, sorriu e depois disse: ah, era zuera, foi brincadeira! Reflita comigo, é certo exaltar aquele que fala sem pensar, zomba sem analisar, xinga sem medir, finge sem sentir e humilha pra se divertir? Tais ações afastam amizades, cria inimigos, separa famílias e promove guerras entre os povos e as nações. O Rei Salomão, na sua imensa sabedoria escreveu: “O que guarda a sua boca e a sua língua, guarda das angústias a sua alma (Pv 21:23) e como faz bem. Não é a toa que ele se tornou o maior líder da sua época e grande foi sua fama, que perdura até hoje.

Penso que pessoas que usam status de filho de Deus, mas se portam com total falta de respeito ao próximo, independentemente de quem são, o que professam ou acreditam, ofendendo sem pudor, agindo sem amor, caem na cova que os seus próprios joelhos cavaram. A cova da falsidade. “Se alguém se considera religioso, mas não refreia a sua língua, engana-se a si mesmo. Sua espiritualidade não tem valor real algum! Tg 1-26”. Joelhos ao chão faz doer o corpo, mas as palavras proferidas de forma ofensiva machucam no fundo da alma e como demoram a cicatrizar.

Digo mais, sinto vergonha daqueles que se passam por bons, mas no fundo são maus, que tentam usar a mentira como verdade, a antipatia como amigabilidade e a arrogância como sinceridade. Podem enganar as pessoas que se deixam envolver porque qualquer onda de vento, Fake News que na verdade é pura falsidade, mas não conseguem enganar a Deus que tem o olho que tudo vê.

Com toda franqueza, não me representa quem usa o escudo do Senhor para se autopromover e achar-se dono da verdade. Não me representa aquele que não tem papas na língua e a usa sua louca eloquência sem sabedoria como flecha afiada, que quando atirada, não tá nem aí em quem vai acertar. Quem sabe ela volta para o próprio atirador e o veneno na ponta que causa dor, por infelicidade ou sorte, provoque a sua própria morte.

Diante de DEUS, aquele simples líder, levantou a sua voz e disse: Senhor, fazei-me um instrumento de vossa paz. Onde houver ódio, que eu leve o amor. (São Francisco de Assis)

(*) Raimundo Soares de Andrade. Especialista em Gestão Pedagógica/UFMT. Professor da Escola Eunice em Rondonópolis