Já não sinto o medo que sentia da infância,
Não fujo da realidade quando não é boa.
Apenas não consegui me livrar da inconstância,
Vivo trocando de amores simplesmente, à toa.
Já não me entristeço pelos desenganos,
Nem coro ou calo pelos seus beijos.
E tudo aprendi com o passar dos anos,
Até mesmo a refrear todos os desejos.
As indiferenças e injustiças já não me abatem,
Nem tão pouco as mentiras me revoltam.
É como se num instante se calassem
Ou mesmo emitissem sons que não magoam.
Antes eu pensava que lhe amava e não lhe amo,
Acreditava que sem você sofreria e não sofro.
Hoje estou sozinho como vê e não reclamo,
Disse até que morreria e não estou morto.
Antes eu gostava de ficar as estrelas mirando,
De andar num e outro bairro perambulando.
Depois minha vida virou uma chuva eterna,
E caminhar não posso, falta mobilidade na perna.
Antes eu sentia prazer de brincar com as crianças,
De crer no amanhã agarrado à esperança.
Há pouco esqueci todas as lembranças,
Cansei de viver acreditando na bonança.
Antes vivia ligado às coisas materiais,
Dava um valor imenso ao que havia na terra.
E encontrei a paz nos valores espirituais,
E vi neste sentido a verdade que ela encerra.
Então não sou totalmente insensível,
Pois no confronto do saldo dos dias meus
Ficou uma resposta bem visível,
A fé que não perdi do meu bom Deus!
(*) Gilson Lira, escritor, poeta e membro da Academia Rondonopolitana de Letras