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, 21 maio 2024
 
 

A questão da (in)tolerância indígena em pauta

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Luara Conrado L. Baptista - 14-12-13
Neste momento em que comemoramos os 60 anos de emancipação política de Rondonópolis e nos lembramos dos povos indígenas como parte intrínseca desse processo, é oportuno refletirmos sobre nossas práticas em relação aos povos indígenas.  No estudo que realizo no Curso de Licenciatura em História da Universidade Federal de Mato Grosso, Campus Rondonópolis, MT, sob a orientação da professora Ms. Paula Faustino Sampaio, discuto a construção do conhecimento histórico sobre as sociedades indígenas nas obras literárias escritas por Daniel Munduruku.
Este estudo visa desenvolver metodologia de ensino de História que incentive os alunos indígenas e não indígenas das escolas públicas de Rondonópolis a refletir e escrever sobre índios na sociedade brasileira, contribuindo para o processo de esclarecimento acerca do papel social de cada um e de todos.
Com este intuito, inicialmente, analiso a obra “Coisas de Índio – Versão Infantil” (2004) e o livro “Meu vô Apolinário: um mergulho no rio da (minha) memória” (2010)”, ambos voltados para crianças e jovens. Nestes livros, Daniel Munduruku trata sobre a questão da tolerância em relação ao indígena ao longo da história. O autor também evidencia conflitos entre a memória, as imagens e os símbolos pertencentes à sociedade não indígena e a indígena. O autor narra como se deu a sua aceitação da cultura indígena Munduruku, discutindo abertamente porque não gostava que o chamassem de índio. Segundo ele, essa repulsa foi e é causada pelas imagens preconceituosas e estereotipadas em relação aos povos nativos.
Segundo Daniel Munduruku, “a ele [brasileiro] foi ensinado que índio é bicho, atrasado, incompetente no uso da terra, preguiçoso, desumano. Isso é ainda hoje ensinado – se não pelas escolas, em casa – ao inconsciente nacional.”
A hostilidade em relação aos povos indígenas, constatando-se conflitos cotidianos, contribui para os distanciamentos culturais com base na intolerância. Estes conflitos e estigmas denotam que as ideias estão incrustadas no imaginário étnico-sócio-cultural brasileiro, e são amplamente abordadas nas obras de Daniel Munduruku.
Nas narrativas orais e escritas e na atuação do autor pode-se perceber uma memória ancestral comum à sociedade Munduruku, povo de tradição guerreira, região do Vale do Tapajós, Estado do Pará, e também elementos da memória individual. Sua obra traz para o público os conflitos, os embates, a negação e, por outro lado, a aceitação da cultura Munduruku.
Neste sentido, a literatura infantil indígena considerada tradicionalmente pela historiografia como “folclórica” ou ficcional e as narrativas necessariamente permeadas por lendas e contos, tomam outros e ampliados sentidos na compreensão do próprio indígena, o que é um convite à leitura das obras deste literato.
Para Daniel Munduruku, as suas obras tem função social, ou seja, transmitir os saberes do povo Munduruku contendo elementos gestuais e a dramaticidade com que são contados pelos anciões. Em entrevista ao blog Ecofuturo (2013), afirmou: “temos trabalhado no sentido de ajudar nossos parentes indígenas a colocarem seus pensamentos no papel e dar a ele uma forma literária, acadêmica ou apenas como exercício de reflexão”.
Assim, entendo ser urgente estimular a reflexão, a convivência e o respeito às diferentes culturas dentro e fora do espaço escolar, tendo em vista que a Lei Federal 11.645/08 assegura que “os conteúdos sobre a história e cultura [afro–brasileira e] dos povos indígenas brasileiros devem ser ministrados em todo o currículo escolar, principalmente nas áreas de educação artística e de literatura e história brasileiras”.
Deste modo, penso ser útil para professores e alunos das escolas de Rondonópolis a leitura, o estudo e a metodologia para o ensino de História a partir da literatura de Daniel Munduruku.

(*) Luara Conrado L. Baptista, discente do Curso de Licenciatura em História/ UFMT/CUR/ICHS

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