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“Nosso lazer era tomar banho no Arareau”

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A série “Pioneiros”, publicada sempre aos domingos pelo Jornal A TRIBUNA, faz uma volta ao passado de Rondonópolis através da visão do comerciante José Cesar Ferrari, agora com 65 anos de idade. Ele foi proprietário da Bebidas Leste Mato-grossense, distribuidora da Brahma, que chegou a ser uma das maiores empresas de Rondonópolis. Além da trajetória empresarial, Cesar revela como era o lazer da juventude rondonopolitana, que tinha como pontos de referência o Ribeirão Arareau e o antigo Rondonópolis Clube. Confira:


José Cesar Ferrari: “Conseguimos muita coisa em Rondonópolis e perdemos também com a vinda da Ambev” - Foto: Deivid Rodrigues/A TRIBUNA
José Cesar Ferrari: “Conseguimos muita coisa em Rondonópolis e perdemos também com a vinda da Ambev” – Foto: Deivid Rodrigues/A TRIBUNA

O pioneiro José Cesar Ferrari ficou conhecido em Rondonópolis como empresário do ramo de bebidas. Ele foi um dos proprietários da Bebidas Leste Mato-grossense, distribuidora da Brahma que se tornou uma referência na região. Além de importante empresário, foi presidente do Caiçara Tênis Clube, do antigo Rondonópolis Clube, foi esportista, maçom e rotariano, tendo participado ativamente da vida da cidade.
Cesar Ferrari é natural de Bauru, interior de São Paulo, tendo nascido em 4 de julho de 1952. Veio para Rondonópolis quando tinha 15 anos de idade, em 1967, com os pais Wilson Ferrari e Nair Mastrangeli Ferrari e o irmão Wilson Roberto Ferrari. A vinda ocorreu após o pai dele conseguir uma revenda da Brahma em Mato Grosso. “Meu tio era revendedor da Brahma em Bauru e conseguiu uma revenda dessa marca em Rondonópolis para o meu pai”, conta.
Assim, Wilson Ferrari e Nair Ferrari criaram em Rondonópolis, em 1967, a Bebidas Leste Mato-grossense, tendo como primeiro endereço um prédio na Rua João Pessoa com a Avenida Marechal Rondon. Na época, buscavam a bebida em Agudos (SP), local da fábrica, para comercializar em Rondonópolis. Cesar narra que havia uma dificuldade muito grande considerando que, a partir da divisa de São Paulo com Mato Grosso do Sul, a estrada ainda era de terra.

Segunda sede da Bebidas Leste Mato-grossense, na Avenida Cuiabá - Foto: Arquivo pessoal
Segunda sede da Bebidas Leste Mato-grossense, na Avenida Cuiabá – Foto: Arquivo pessoal

Na época da sua chegada, Rondonópolis era formada por poucas ruas. “A Vila Aurora era só uma fazenda. Para o lado de cima, tinha o Rondonópolis Clube e o La Salle, que eram os lugares mais distantes. Quando cheguei, a iluminação era por motor, e tinha um prazo para funcionar: desligava as 23h e retornava às 7h da manhã”, recorda. Também cita que os táxis da época eram charretes.
Cesar Ferrari lembra com saudade da parte educacional da cidade, formada por três colégios significativos: o La Salle, o Sagrado (das Irmãs) e o Emanuel Pinheiro (o Estadual). “Os três colégios tinham fanfarras bem estruturadas. No desfile de Sete de Setembro, essas fanfarras eram o grande destaque. Era muito bonito. Tinha os times de futebol de salão e de campo dos colégios, que movimentavam a vida estudantil da cidade”, externa.
Um ponto de destaque, lembrado por Cesar, eram as opções de lazer na antiga Rondonópolis. “O nosso [ribeirão] Arareau era navegável e a água era potável, sendo que a gente tomava banho e bebia da sua água. Na época, nossos pic-nics, nossos momentos de lazer aos fins de semana, eram tomar banho no Arareau”, atesta. “Na ponte da lavadeira [da Vila Jardim], havia a cachoeira do Massao, e era o lazer da população de Rondonópolis. Frequentamos bastante”, acrescenta.
Outro ponto de lazer daquela época antiga era o Rondonópolis Clube. “Tinha as brincadeiras dançantes e os bailes no Rondonópolis Clube. Depois veio a ABR, o Canadá, que infelizmente fechou. Tinha os bailes de debutantes, que eram um acontecimento na cidade. A família Borges Leal fazia com que o clube tivesse eventos semanalmente. O Marinho Franco era o ponto principal, que estava sempre animando os bailes”, diz.

Terceira sede da Bebidas Leste Mato-grossense, na Avenida Cuiabá esquina com a Rua Floriano Peixoto - Foto: Arquivo pessoal
Terceira sede da Bebidas Leste Mato-grossense, na Avenida Cuiabá esquina com a Rua Floriano Peixoto – Foto: Arquivo Pessoal

Cesar Ferrari também fez história no futebol de Rondonópolis. No futebol amador, foi goleiro no time do Olaria, um dos principais times na categoria. Na fundação do União Esporte Clube, ele estava como um dos goleiros da equipe. Inclusive, informa que participou do primeiro jogo do União como goleiro reserva. Na verdade, continua até hoje como um apaixonado pelo Vermelhinho.
Na trajetória empresarial, a Bebidas Leste Mato-grossense começou a dar os primeiros passos através de uma sociedade entre o pai de Cesar Ferrari, o Wilson Ferrari, e Antônio Artêmio Capeloto. Com a morte do pai, em 1979, Cesar deixou a faculdade de Engenharia, em Ribeirão Preto (SP), para tocar a empresa junto com o irmão, Wilson Roberto Ferrari. Na sequência, eles compraram a parte do sócio na empresa.
Após a primeira sede, a Bebidas Leste Mato-grossense foi para a Avenida Cuiabá, no Centro, na frente de onde hoje é a Ótica Guzzi. Depois, compraram o prédio na esquina da Avenida Cuiabá com a Rua Floriano Peixoto, que sofreu várias atualizações e reformas. Inclusive, esse prédio ainda é da família atualmente, estando alugado para a Unic.
Entre 1979 e 1998, o pioneiro atesta que a Bebidas Leste Mato-grossense vivenciou seu período de maior crescimento. A empresa chegou a ter 70 funcionários. “Maior que a gente tinha a Marajá, que era indústria de refrigerantes, tinha a Casa Araújo, que era outra loja de porte…”, analisa.

Fachada atualizada e modernizada da Bebidas Leste Mato-grossense - Foto: Arquivo pessoal
Fachada atualizada e modernizada da Bebidas Leste Mato-grossense – Foto: Arquivo Pessoal

Contudo, a empresa fechou com a criação da Ambev, formada a partir da junção da Brahma, Antárctica e Skol, em 1998. Assim, as três revendas das marcas perderam a representação na cidade e veio um revendedor da cidade de Várzea Grande. “Conseguimos muita coisa em Rondonópolis e perdemos também com a vinda da Ambev. Nessa transição, perdemos a revenda da Brahma e ficamos em uma situação difícil”, revela.
Na vida pessoal, Cesar Ferrari se casou em 1985 com Maria Luisa de Paula Borges Ferrari, com quem teve dois filhos: o José Cesar Ferrari Filho e o João Paulo. Além disso, teve uma filha na época de juventude, a Glicia Renata. “Minha família está conseguindo uma recuperação e hoje leva uma vida normal na cidade”, argumenta.
Considerado um apaixonado por Rondonópolis, o pioneiro lamenta a gerência política dada ao município por seus gestores públicos. “Acho que Rondonópolis cresce por causa do empreendedorismo das pessoas. Falta muita coisa na cidade, falta um direcionamento político melhor. Você anda no Centro, por exemplo, e é problema grave no trânsito, entre outros”, analisa.
Não por menos, Cesar Ferrari diz que espera que algum dia Rondonópolis possa ser melhor gerida, se modernizar e se organizar em termos de serviços públicos. “Temos um potencial muito grande, que infelizmente não é aproveitado politicamente. Rondonópolis precisa se modernizar mais”, entende.

Wilson Ferrari e Nair Mastrangeli Ferrari, fundadores da Bebidas Leste Mato-grossense - Foto: Reprodução
Wilson Ferrari e Nair Mastrangeli Ferrari, fundadores da Bebidas Leste Mato-grossense – Foto: Reprodução
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3 COMENTÁRIOS

  1. Foi interessante conhecer em pormenor a história de vida do meu grande Amigo César Ferrari, que muito admiro e considero como um irmão. Continuemos em frente com tranquilidade e já sabe em Portugal se quiser, será um lugar um poiso viável. …

  2. História linda e verdadeira. Precisamos de uma Rondonópolis melhor administrada. Bela reportagem. Minha familia também morou muito tempo em Rondonópolis. Meu pai Manoel Crisostomo de Paula que tinha Armazém Crisostomo na Avenida Amazonas.

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