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, 29 maio 2024
 
 

Perdão é dilema nos dias atuais

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Estudos e pesquisas têm mostrado que pessoas que cultivam ressentimento, mágoa ou rancor estão mais propensas a problemas de saúde físicos e emocionais. Não somente religiões, mas algumas vertentes da razão também têm difundido benefícios para o ser humano e para as relações humanas do ato de perdoar ou ser perdoado. Mesmo assim, não se trata de uma questão tão simples no mundo pós-moderno. O perdão, em um mundo de tantos atritos e altamente competitivo, virou um dos grandes dilemas atuais.
O conceito atual de perdão está associado ao reconhecimento de culpa, arrependimento e disposição do ofendido em relação ao ofensor, sendo estabelecido entre pessoas (ofensor e ofendido), não apenas uma dádiva inerente a Deus. Trata-se, portanto, de um processo de mão-dupla: envolve, de um lado, assumir o erro e arrepender-se e, do outro, colocar por terra ressentimentos e mágoa. No entanto, o perdão vem se figurando como uma das atitudes morais mais desafiadoras da atualidade diante da ampliação dos conflitos sociais.
Na vertente cristã, perdoar acaba sendo repetir com o próximo o gesto de Deus para com o homem diante do pecado. A falta de perdão ocasiona doença na alma e traz consigo inúmeros malefícios sofridos pelo homem da atualidade e, por sua vez, o perdão está diretamente ligado à qualidade de vida. Considerando a Psicanálise, a questão não se apresenta com simplicidade. Não se trata apenas de perdoar ou não. Trata-se de uma questão ética, como pode ser visto nesta página.
Em uma reportagem especial, o Jornal A TRIBUNA foi atrás de algumas posições sobre o dilema do perdão no dias atuais. Confira:

Bispo da Diocese da Igreja Católica em Rondonópolis, dom Juventino Kestering: “a pessoa que tem a capacidade de perdoar tem uma vida mais serena, mais tranquila”
Bispo da Diocese da Igreja Católica em Rondonópolis, dom Juventino Kestering: “a pessoa que tem a capacidade de perdoar tem uma vida mais serena, mais tranquila”

Para bispo católico, o perdão é um ato de amor

Para o cristão, o perdão é a característica fundamental de Deus. A afirmativa é do bispo da Diocese da Igreja Católica em Rondonópolis, dom Juventino Kestering. “Deus é amor, e amor é perdão. Deus enviou o seu filho Jesus ao mundo para realizar a reconciliação do gênero humano e a pessoa dentro de si mesma. Quem tem a capacidade de perdoar tem a capacidade de entender o outro; amar e ajudar o próximo… A característica mais marcante de um ser humano é a capacidade de perdoar e ser perdoado”, argumenta.
Além disso, Juventino Kestering enfatiza que o perdão, primeiramente, tem uma referência humana. Ele destaca que todo ser humano, independente da religião, da cultura ou da escolaridade, traz um instituto inato, que chama-se de reserva da consciência, que é a capacidade de tomar certas decisões, como a capacidade de perdoar. Diante disso, acredita que o ser humano necessita dessa experiência do perdão, porque trabalha dentro da pessoa como catarse, um desabafo. “A pessoa que tem a capacidade de perdoar tem uma vida mais serena, mais tranquila, enquanto que aquela que não cultua vive sempre angustiada, com medo, apreensiva e outros malefícios”, externa.
Para dom Juventino Kestering, hoje é tão difícil perdoar porque as pessoas estão caminhando cada vez mais para o individualismo e sentem-se atingidas por qualquer coisa. “A sociedade educa as pessoas para ser o primeiro, para ser o melhor, em um ambiente de extrema competitividade, e não tem espaço para perdoar, mas para dominar o outro”, observa. De forma geral, o bispo da Diocese explicita o consenso de que as pessoas que cultuam os valores da fé e do Evangelho têm mais facilidade de perdoar. Quem cultiva aspectos negativos como a ganância, o poder, segundo ele, tem mais dificuldade de perdoar.

Pastor-presidente do Ministério Sal da Terra, Célio Rosa da Silva: “os derrotados guardam a mágoa na geladeira”
Pastor-presidente do Ministério Sal da Terra, Célio Rosa da Silva: “os derrotados guardam a mágoa na geladeira”

Pastor enfatiza que falta de perdão é ligação direta com a derrota

Assim como o amor é a corda mais forte que prende as pessoas umas nas outras, a falta de perdão é a corda mais forte que prende as pessoas na derrota. O entendimento é do pastor-presidente do Ministério Sal da Terra, Célio Rosa da Silva, observando que aquele que foi ofendido está amarrado com a pessoa que ofendeu, processo que dura de geração a geração se não houver perdão. Ele destaca que Jesus ensinou: “perdoa as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido”.
O pastor Célio Rosa repassa que a pessoa que não libera perdão está vulnerável a qualquer tipo de enfermidade, sendo a ligação direta com a derrota. Segundo ele, a maior parte dos males emocionais vem pela falta de perdão. Nesse sentido, observa que os males que estão atacando a maioria das pessoas na atualidade são a depressão, a ansiedade, a angustia e até o câncer. “O câncer é uma ligação direta com a falta de perdão”, afirma. “A ofensa é como o veneno de uma serpente mortífera. Se a pessoa permite que ela penetre no sangue, o coração bombeia para o corpo inteiro”, alerta.
O caminho para o perdão, segundo o pastor, é a pessoa, mesmo admitindo que não consegue, querer perdoar. Célio Rosa ensina que é preciso querer perdoar com sinceridade, de coração, não apenas da boca para fora. “Os derrotados guardam a mágoa na geladeira, para não estragar e para, quando eles quiserem, ela estar pronta para o consumo”, adverte. Nesse contexto, externa que, a partir da disposição de querer o perdão, Deus começa a agir e atuar na vida das pessoas. “O desejo de perdoar é o principal. O primeiro passo que desencadeia todos os demais é essa disposição. O querer é o antídoto que combate o veneno que está na pessoa”, assegura o pastor.

Psicanalista Sueli Ignoti, correspondente da Delegação Geral de MS/MT, da Escola Brasileira de Psicanálise: “compreender não significa desculpar/perdoar”
Psicanalista Sueli Ignoti, correspondente da Delegação Geral de MS/MT, da Escola Brasileira de Psicanálise: “compreender não significa desculpar/perdoar”

Psicanalista alerta para o risco da falta de responsabilização

Pegando a direção da Psicanálise, a psicanalista Sueli Ignoti, correspondente da Delegação Geral de Mato Grosso do Sul/Mato Grosso (MS/MT), da Escola Brasileira de Psicanálise, ressalta que a questão não se apresenta com simplicidade: perdoar ou não simplesmente. A profissional adverte que se trata de uma questão ética a ser observada.
“Perdoar… dar o perdão. Perdão…. grande perda… dar o perdão. Podemos pensar no sujeito que precisa se haver com suas perdas para dar o perdão. Pode ter sido enganado, injustiçado, traído, humilhado, esquecido… Manda o bom senso que ele esqueça, passe a borracha, delete”, pontua Sueli, reforçando, no entanto, que a ética da Psicanálise orienta, em primeiro lugar, considerar a singularidade de cada sujeito e da situação que vivencia.
Para que deveras seja resolvido o impasse, Sueli Ignoti entende ser fundamental que cada um dos sujeitos envolvidos no dilema se implique com sua responsabilidade na história. “E não basta responsabilizar-se apenas pelo que fez. É da alçada do sujeito escolher também o que fazer com as intempéries da vida. Isso vale para aquele que ofendeu e o outro que foi ofendido”, argumenta.
A profissional da Psicanálise responde que a questão é mais complexa do que aparenta e pode-se considerá-la por duas vertentes. Ela diz que o que traz malefícios ao ser humano, na verdade, é a angústia, que é algo que o sujeito sente, e guardada, toca o corpo. Trabalhada, pela via da palavra, afirma que pode ser transformada em combustível para a vida. “Caso contrário, vira doença”, explica.
Por outro lado, Sueli Ignoti observa que vive-se num momento de permissividade em que a violência, por exemplo, banalizada pela mídia, ocupando o lugar do comum, é confundida como normal. “Pode ou deve ser perdoada? Até quando?”, questiona.
Segundo a profissional, a criança, por exemplo, se é sempre perdoada porque “não sabe o que faz”, nunca se responsabilizará pelos seus atos. Crescerá sem amadurecer. “Não faltam exemplos de adolescentes cinquentões inconsequentes… O mesmo vale para o agressor, aquele que ofende. Não seria o caso de responsabilizá-lo ao invés de perdoá-lo?”, acrescenta.
O questionamento, segundo ela, é se perdoar simplesmente pode levar o ofensor, que não precisa arcar com as consequências de suas ações, a avaliar o que fez e decidir o que fazer com isso, para que uma mudança subjetiva seja operada. “Se não ficamos atentos, contribuímos para que ele passe do lugar de agressor para o lugar da vítima que merece compreensão e perdão. Não! Compreender não significa desculpar/perdoar”, assegura.

Todo caso merece o perdão, ou depende de cada caso?

O grande exercício do perdão realmente parece ocorrer quando se tem de colocá-lo em prática. Quanto mais complexa a ofensa ou agressão, mais complicado o perdão. Traições conjugais, assassinato de alguém próximo, vítima de injustiça, brigas… Diante de tantas situações conflitantes entre os seres humanos, o Jornal A TRIBUNA foi às ruas e perguntou: qualquer situação merece perdão ou depende de cada caso? Veja o que as pessoas responderam.

noAlessandra Pessoa, estudante.
“Acho que o perdão depende de cada caso. Tem certos casos que não tem que relevar, não merecem perdão. Por exemplo, se matar alguém, você não vai pedir perdão porque você matou; não tem como perdoar! Se a pessoa vai fazer alguma coisa, tem que pensar mais de três vezes antes.”

noNilson Maximino dos Santos, autônomo.
“Sou uma pessoa tranquila, calma, gosta de conviver com todo mundo… Todo caso merece perdão, independente da situação. Da minha parte, gosto de conviver muito bem como todos, não tenho dúvidas. Num caso de assassinato, tem que pensar bem como foi o crime. Muitas vezes não merece o perdão”

noErnandes Dias Santana, auxiliar de pedreiro.
“Acho que depende do caso pode merecer perdão ou não. Tem casos que não tem como perdoar, como uma traição… Como pode perdoar uma traição? Não tem como! Merece perdão um caso simples de errar uma ou duas vezes. Quando erra várias vezes, não tem como.”

noJéssica Cristina da Silva Barros, vendedora.
“Havia uma pessoa que eu tinha muita mágoa no coração. Mas passou um tempo e Deus tirou do meu coração. Acho que o ato de perdoar é um ato muito maravilhoso, é um dom. Perdoar uma pessoa que lhe fez mal é um dom de Deus. O Senhor não fez exceção de ninguém. Ele perdoa a todos nós. Então, todos merecem perdão, sim, independente do que fez.”

noMadalena Cáceres, autônoma.
“Creio que todo o caso merece perdão, na minha opinião. Penso que todo mundo erra… O ser humano sempre está errando, então por causa disso todo mundo deve ser perdoado, ter uma segunda chance.”

noRosicléia Pereira Bonfim, vendedora.
“Todo mundo deve ter alguém que queira perdoar ou ser perdoada. Eu acho que todo mundo merece perdão, porque todos estão sujeitos ao erro. Então, todo mundo merece perdão.”

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  1. No livro do profeta Isaias, Deus disse que Ele mesmo é o que apaga as nossas transgressões e dos nossos pecados não se lembra, sabia por quê? Por que Deus pega nossas transgressões e joga no mar do esquecimento, assim que todos nós também temos que perdoar e jogar a mágoa e o rancor no mar do esquecimento, assim como o próprio Deus faz com nossos pecados, perdoamos de coração e com sinceridade e não para deixar a outra pessoa contente e satisfeita, sejam sempre sinceros contigo mesmo e com todos os que lhe rodeiam e verás que serás mais que vencedor.
    Elione Souza Rocha nascido em Rondonópolis no dia 24/10/1971 e atualmente morando em Barcelona/España.

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