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Rondonópolis
, 24 maio 2024
 
 

Exercício de solidão

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Tendo passado recentemente pelo período de festas que sugerem reunião familiar e confraternização com amigos e colegas de trabalho, fica o convite para uma reflexão sobre o estar só, que remete aos mais diversos significados.
Há algumas décadas dizíamos que ficar no quarto “ensimesmado” era uma das características do adolescente que precisa desse tempo para se organizar internamente. Enfim, o tempo necessário para tentar entender todas as mudanças que ocorrem nessa fase, tornando o mundo interno muitas vezes caótico, o que pode se refletir na organização, ou melhor, na falta de arrumação do quarto, lugar de sua preferência na casa.
Indiscutivelmente determinadas alterações sofrem a influência do sistema hormonal, o que não livra qualquer adolescente da responsabilidade de suas escolhas. Um bom começo: escolher o que fazer com essa nova fase da vida que se lhe apresenta com infinitas perguntas ansiando por respostas que ainda serão inventadas, já que as receitas dos adultos geralmente  parecem prescritas. No fundo todo adolescente sabe que tem que se haver com esse rumo na vida. São escolhas que nortearão a continuidade de sua história, sem ter a quem culpar pelos resultados. Portanto, opta por tentar melhor entender o que está acontecendo podendo assim  decidir o que fazer com as mudanças.
Até onde percebemos as necessidades do adolescente não mudaram tanto. Porém, o estar sozinho atualmente difere do ocorrido antes que a Internet fizesse parte do cotidiano da maioria. Aprecia ainda  ficar sozinho no quarto, por um tempo cada vez maior, só que agora “acompanhado por todos que estão na rede”, conectado com os “557” amigos que estão on line; jogando com um grupo de pessoas do mundo todo, conversando com outro e daí por diante. Além disso, é comum a TV estar ligada, o som também… Uma nova forma de se organizar no próprio mundo? Pode ser.
Mas, quando a atração pelo áudio visual ocupa tamanho espaço na vida das pessoas, independente de idade, silêncio se transformou em coisa rara, como se fosse um incômodo do qual todos tentam se livrar.
O silêncio ameaça? É possível. Mas convenhamos: possibilita também grandes coisas a partir dessa experiência de solidão, digamos diferenciada, que nada tem a ver com abandono ou falta de laços afetivos. Vamos considerar o tempo que cada um pode ter para se deparar com as próprias questões, tempo para pensar.
Talvez seja esse o ponto de desacordo que as pessoas tentam sufocar com o barulho, ainda que não percebam. Pensando corremos o risco de desacomodar o que está quieto. No entanto, só assim é possível ir além da calmaria superficial e experienciar dúvidas, perguntas até então silenciadas e ou negadas. Afinal, como se ouvir sem lançar mão do silêncio que propicia o contato com essa essência cuidadosamente guardada?
Pensar, desejar, sonhar, trabalhar pela realização desses sonhos…
No ano que se inicia cada um, adolescente ou não, fará o que melhor entender com os votos trocados recentemente, os próprios desejos, os sonhos que podem alavancar mudanças. Difícil exprimir isso tudo melhor que nosso Carlos Drummond de Andrade, quando poetou o ano, denominando-o tempo em fatias: “…para você neste novo ano,/desejo que os amigos sejam mais cúmplices,/Que sua família seja mais unida,/Que sua vida seja mais bem vivida./Gostaria de lhe desejar tantas coisas./Mas nada seria suficiente…/Então, desejo apenas que você tenha muitos desejos./Desejos grandes e que eles possam te mover a cada minuto,/ao rumo da sua  felicidade!”
E, para se haver com os próprios desejos em muito ajuda uma boa dose de reflexão. E esse exercício é sim da ordem da solidão…

*CRP 14/00435-0
*Correspondente da Delegação Geral – MS/MT – Escola Brasileira de Psicanálise
Psicoclínica 66 3421 5684

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