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Gota d’água…

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Sueli ignoti - 29-11-11

Inegavelmente, o que importa das transformações de cada um é experimentado na solidão. Mas, o exercício para tanto acontece com o outro, já que ninguém vive sozinho. Logo, o ser humano busca fazer laços desde o nascimento e certamente, se haver com esses laços implica nessa prática diária envolvendo todas as emoções e requerendo inovação sempre. Do bebê que tenta agradar a mãe para ter seu amor, ao idoso que administra a grande empresa que fez nascer do nada, todos passam, num momento ou outro pela confusão de sentimentos onde a única certeza consiste na descoberta de que nada mais do que já funcionou um dia surte efeito. Resta apelar para o inédito e constatar que o certo para um momento não garante nada para depois.
E quando paramos para refletir sobre essa caminhada percebemos que na maioria das vezes é um tropeço ou mais, uma queda, que faz parar e pensar em tudo o que podia ter sido feito de diferente para evitar o rompimento de uma sociedade, amizade de longa data ou um grande amor.
É sempre tempo de retomar. Ainda que seja tarde para refazer o laço em questão, sem resolver o que precipitou o final de uma história, outras que possam existir não passarão de repetição num outro cenário, com novos coadjuvantes. Sabemos que a repetição é o que há de mais presente no sintoma de cada um.
Considerando que amor e ódio são inerentes ao ser humano é interessante como nos deixamos assustar pelo ódio e seu poder destrutivo. Claro, enquanto se pensa o ódio como contrário ao amor, cabe-lhe o papel de vilão. Vamos deixar para pensar na transformação dessa força bruta em combustível para a vida num outro momento. Ruidoso como é, difícil esquecê-lo.
Pensemos a indiferença, esta sim contrário ao amor, e o lugar que ocupa nos relacionamentos. Por que diante dela que realmente pode corroer nossos laços afetivos conseguimos nos manter… indiferentes? Nós a deixamos livre para agir sem estardalhaço, protegida pelo silêncio que lhe resta, poderosa o suficiente para destruir qualquer afeto, ignorando sua história.
Conseguimos ficar atentos com a manutenção do carro, do ar condicionado, das cortinas e do jardim, mas esquecemos que vínculos amorosos também perecem e precisam mais que manutenção periódica. Sim, amores também vão se desfazendo nesse silêncio perigoso, no engano dos que acham que não vale a pena conversar.
Quem não conviveu com uma pessoa querida enrolada na queixa depois de um pedido de separação já decidido pelo parceiro? Diante da surpresa a sensação de que acabou assim, sem aviso prévio, sem chances de emendar o que estava roto. Para quem baseou sua felicidade no encontro amoroso apostando na garantia para sempre e vê o laço se desfazer, falta o chão. Mas o que faltou antes, para chegar a isso?
Num primeiro momento a culpa parece ser sempre do outro! E desde quando procurar ou punir o culpado implica em resgate daquilo que se rompeu, na verdade, aos poucos, muito devagarzinho, endossado pela ardilosa indiferença?
Separação… Separar para a ação… Mas por que mesmo não agir antes, questionando o que está faltando numa relação morna que teima em ser apresentada como normal? Que normas regem o normal?…
Ficamos com a sutileza do artista na composição de Chico Buarque retratando essa linha tênue que uma vez ultrapassada pode quebrar o encanto rompendo o vínculo amoroso tecido ao longo de anos, na somatória das pequenas grandes coisas do cotidiano: “Já lhe dei meu corpo, minha alegria/Já estanquei meu sangue quando fervia/Olha a voz que me resta/Olha a veia que salta/Olha a gota que falta pro desfecho da festa//… E qualquer desatenção, faça não/Pode ser a gota d’água…”

*CRP 18/00078
Delegação Geral – MS/MT – Escola Brasileira de Psicanálise
Psicoclínica – 66 3421 5684

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