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Sueli ignoti - 29-11-11

Que foi feito da infância, época das brincadeiras, do sem compromisso, da alegria?
Maria Alzira Marins Galvão Nunes

Criança continua criança e não faz pausa para tentar entender se as coisas sempre foram assim ou passaram por mudanças. Criança só quer sorver a vida degustando cada gole, sem pressa.
Adulto tem invariavelmente seu discurso, com explicações, justificativas e probabilidades. Em nome da tal “otimização” do tempo, acha que tudo precisa ter serventia… Será que isso ajuda na lida com os pequenos ou vai pela vertente do aniquilamento do tempo de ser criança?
Basta um olhar atento e temos a certeza de que os pequenos captam os estímulos de todos os lados, desde o nascimento. Muitas vezes a capacidade dessas antenas muitíssimo mais sofisticadas que o aparato dos adultos é confundida com maturidade. Quanto mais a criança mostra conhecimento maiores são os aplausos. Seria esse o caminho? Demandar tanto da criança que quer apenas tempo para viver a vida? Ela tem sim um amontoado de informações, quantas vezes está à frente de pais e professores em determinado assunto, mas não há o tempo para inventar o que fazer com isso. Ou simplesmente inventar o que fazer com o nada. O bombardeio de informações não acelera o a maturidade. Vamos pensar na diferença da fruta madura colhida no pé e aquela outra, sem dúvida linda aos olhos, desenvolvida com os recursos atuais que aceleram crescimento e amadurecimento…
Assim, os pequenos acham que precisam estar ocupados o tempo todo. Não gostam disso, mas também não conseguem ficar à vontade quando não sabem o que é ter tempo livre para fazer o que for do desejo. Perdidos, buscam no mundo adulto o referencial, tentando descobrir o que é esperado que façam com tudo que sabem. Muitos já ouviram a queixa infantil: “Não tem nada pra fazer…” E mais uma vez o adulto, na melhor das intenções, está pronto para sugerir, orientar, administrar o tempo da criança. E novamente o pequeno perde a oportunidade de experimentar o nada e com ele fazer sua arte. E vê aumentado seu medo de não saber inventar. Teme não ser bom o suficiente para criar do nada. Mas, o que é ser bom quando a vez é da descoberta? Sem receita, não há certo ou errado, passa a existir o novo…
Alguém já parou para pensar na tristeza de não saber o que é estar à toa, de não ter tempo para isso na meninice? E aí as crianças conseguem confundir os adultos: embora se rebelem com o determinado, se embaraçam por não saber expressar o que querem. Só sabem que não querem o tempo todo corresponder ao que delas querem.
Refletindo sobre essa dinâmica familiar com tantos recursos e ao mesmo tempo com a confusão quanto ao emprego dos mesmos, percebe-se que à medida que aumenta a preocupação adulta em estimular as crianças quase ininterruptamente, aumentam também as queixas de hiperatividade, fracasso escolar, dificuldades com as regras, compulsões, angústias, fobias, agressividade escorregando para a violência gratuita. Saturadas com o excesso de informações e demandas as crianças estão perdidas, insatisfeitas, e buscam satisfação o tempo todo. Que fique claro que não estão doentes, mas muitas vezes estão em sofrimento. O que nós adultos podemos fazer por elas?
Longe de tirar a responsabilidade que cabe à criança em suas diferentes etapas do desenvolvimento, podemos pensar na conciliação do que consideram importantes as duas, três e até quatro gerações que aí estão no dia a dia. Certamente cada uma tem muito que aprender com as outras. E, pensando no artista que mistura cores e objetos contrastantes, podemos considerar que é possível colocar as diferenças para conviver, acreditando que elas podem se ajeitar sem perder a singularidade, sem que uma sufoque a outra. Somar sempre porque decididamente a vida pode ser mais leve para todos…

CRP 18/00078
Participante da Delegação Geral MS/MT – Escola Brasileira de Psicanálise
[email protected]

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