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O que quer esta menina?

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Sueli ignoti - 29-11-11

Em meio a tanta balbúrdia sobre a mulher no mês de março pelo seu “Dia Internacional!” e o que vem aí em função do “Dia das Mães” fico a pensar naquilo que cada menina, aspirante à mulher neste mundo pós moderno, está percebendo disso tudo. Há muito sabemos o quanto a mulher precisa estar atenta para não se deixar espremer entre tudo o que é exaltado na “sublime maternidade” e a pressão selvagem para o acúmulo de títulos e honrarias no mundo corporativo, resultando em ascensão financeira.
Mas, não pode então querer apenas uma dessas coisas, não importando qual? Ou resolver assumir as duas sem a mínima pretensão de ser mãe em tempo integral ou chegar ao cargo mais alto, ainda mais comum aos homens, por não estar disposta a arcar com que isso lhe custaria em ausência familiar?
Não sem fadiga, cada mulher, por razões que só a si diziam respeito, por algumas décadas se debateu entre o sair para o mercado de trabalho buscando realizações nunca outrora experimentadas e a culpa por delegar parte do cuidado dos filhos à outra mulher, em casa ou na escolinha. Aquela que cuida de seu filho também está trabalhando fora, logo, o movimento para não se limitar às paredes da própria casa não depende de classe sócio econômica.
Bem, quando parecia ter ficado “normal” estar longe dos filhos para o estudo ou trabalho, o desconforto atinge quem ousa optar pela prioridade dos filhos em determinada fase de suas vidas, em detrimento da carreira.
Mas afinal, o que é normal? Será que a menina acredita que a mãe detém a senha do que é ser mulher no mundo atual? E a mãe, consegue fazer de conta que não lateja em questões? Pode-se pensar, na falta da medida universal, em propiciar a escuta daquela que lhe demanda o saber. Ainda que o percurso na construção da relação mãe/filha seja permeado por encontros e desencontros, vale lembrar o que nos diz Serge André: “A história de uma menina e sua mãe aparece como uma história de uma separação sempre adiada. Para acompanhar Freud, a razão disso seria o duplo estatuto ocupado pela mãe na estrutura da filha: ao mesmo tempo objeto de amor e pólo de identificação, embora o momento em que a filha mais odeia a mãe seja também aquele em que deve se identificar com ela.” (O que quer uma mulher?)
Ainda que a filha possa ficar frustrada ao descobrir que sua mãe não tem para lhe passar o saber sobre o feminino, pode aí sentir-se autorizada a por em palavras o que está em ebulição entre o ser criança e ser mulher.
Abrir o convite para o questionamento do desejo não implica ter as respostas prontas para cada questão. Muito ao contrário, propicia a criação da fórmula própria para desvendar os mistérios da vida em função daquilo que a faz palpitar, não permitindo que o normal culmine em normas para reger uma vida morna.
Ingenuidade dizer que uma menina não sabe o que quer. Muitas vezes lhe falta justamente a escuta descuidada que lhe permite ouvir a própria fala, para que possa deixar aflorar o desejo…
Lembro-me de uma menina que admirava uma amiga da mãe que era “cidadã do mundo” para exercer a carreira escolhida exigindo viagens internacionais por todo o tempo. E dizia querer ser parecida com ela quando profissional. E a escolha do curso superior ia por esse viés apesar de gerar infinita angústia. Quando conseguiu ouvir o que insistia em não calar retomou a escolha anterior concluindo com simplicidade o que parecera tão complexo:
– Eu quero entrar para a faculdade e estudar muito. Quero sim trabalhar e ganhar dinheiro, ser independente. Mas quero também ter filhos e cuidar deles!
“Nessa hora/menina entendeu tudinho./Descobriu que só carinho/é que espanta solidão./E que dor, se dividida,/fica dor menos doída./E que aí,/dá até vontade/de continuar a crescer/pra descobrir/o resto das coisas…” (Adélia Prado – Olha o olho da menina).

CRP 18/00078
Delegação Geral – MS/MT – Escola Brasileira de Psicanálise
66 3421 5684

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