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, 24 maio 2024
 
 

Senhor de seu sintoma

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“Eu não sei dizer/o que quer dizer/o que eu vou dizer…” Zeca Baleiro não perdeu tempo para saber o que estava dizendo. Criou a letra. Simone canta.  Presenteados pelos dois ouvimos a música e percebemos aí, no teor do discurso amoroso, a aposta feita nesse dizer que, embora sem um saber aparente, acredita que vale a pena continuar. Baleiro, ainda que não tenha sido proposital, faz uma metáfora do paciente em análise, ilustrando o que Sigmund Freud nomeou associação livre: poder dizer o que vem a cabeça, sem qualquer preocupação, tecendo, pela via da linguagem a teia da própria história.

Quem é o paciente do analista? Sua demanda, com a qual o psicanalista se confronta, não tem a mesma estrutura daquela endereçada aos outros profissionais da saúde. O que diz esse paciente? A que vem? Na prática psicanalítica é o paciente o senhor de seu sintoma e, como tal, o primeiro a avaliá-lo, muitas vezes, também sem saber que o faz. Com o tratamento pode chegar ao ponto de saber fazer – outra coisa –  com esse sintoma.

O paciente que – sem precisar conhecer a teoria psicanalítica – busca em si mesmo as respostas para tantas perguntas, não depende da demanda familiar ou social para solicitar ajuda. Sua demanda tem origem na forma de interpretação do próprio sintoma, percebendo que para as questões da vida, mesmo quando nelas estão incluídas doenças que dependem de terapia medicamentosa, existe uma verdade singular a ser buscada. Essa busca comporta o que sabe, o que não sabe e principalmente o que não sabe que sabe, de seu sintoma até então. Portanto, em se tratando de sintoma psicanalítico, só existe a partir do momento que é falado pelo paciente. A origem de seu sintoma está em seu discurso e assim vai sendo construído pela via dessa fala, articulada com a escuta diferenciada do psicanalista, possibilitando a operação analítica, na vertente da causa. O sintoma de cada sujeito é único, por mais que possa ter roupagem semelhante ao sintoma do outro.

Vicente Palomera, em “Como a ciência desculpabiliza” adverte que os tratamentos do sintoma resultantes da ciência não atuam sobre o sintoma,mas sobre os afetos que o sujeito manifesta. O que o discurso da ciência oferece são produtos para que o sintoma se torne suportável e, portanto, para que se possa esquecê-lo.

Jacques Lacan definiu a clínica como o real impossível de suportar. Em psicanálise trata-se de um impossível de suportar para o sujeito que muitas vezes já não encontra respostas para a vida diante de um tropeço como uma perda, um diagnóstico, um casamento, um filho, mudança de vida… Esse sujeito não se conforma com mesmice cotidiana, com o saber popular que para tudo tem explicação pronta e vencida.

Ao paciente não basta ser auscultado. Quer ser escutado e arrisca tudo nesse discurso que na verdade não é tão livre assim, visto ser regido pelas leis do inconsciente que o determina.  Como percebe o artista, o homem tem questões a serem resolvidas e mesmo quando ainda não sabe que sabe, continua: “…mas não sei o que/isso quer dizer/eu não sei por que/eu teimo em dizer…” O que o faz teimar em dizer, senão essa escolha pelo saber inconsciente, saber de si mesmo, que vai muito além do que parece óbvio?

Sair das respostas padronizadas e poder criar novas formas de responder ao mundo implica na preferência pelo projeto “A riscado”: riscar o Outro que conforta com o semblante de garantias, para encarar o próprio desejo que não oferece nenhuma garantia de que vai dar certo. Nisso consiste o convite da psicanálise: que cada um possa se responsabilizar pelo que dá certo e também pelo que não dá certo em sua existência. Como pontua Carlos Genaro Gauto Fernández, uma responsabilidade da qual não se pode fugir é sabedoria.

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