Na edição de sexta-feira (15), o A TRIBUNA trouxe uma reportagem sobre o grupo de trabalho criado pelo governo federal para a produção de um guia para uso consciente de telas e, coincidentemente, na mesma edição, na Opinião do Leitor, foi publicado o artigo “Era uma vez em uma escola na Suécia”, do doutor em Educação Daniel Medeiros, que mostra a experiência do país europeu em educar crianças com o uso quase que exclusivo de recursos digitais.
Os dois assuntos acabam chegando na mesma questão que é a do impacto da utilização dos meios digitais por crianças e quais os impactos que produzem no desenvolvimento educacional, cognitivo e emocional.
No caso do grupo de trabalho, a iniciativa visa a entender demandas e propor caminhos para um uso consciente de telas que precisa envolver Estado, família e toda a sociedade, com orientações para familiares, cuidadores e educadores, além de servir de base para políticas públicas nas áreas de saúde, educação, assistência social e proteção do público mais vulnerável.
Com a relação a Suécia, depois de anos educando as crianças quase que exclusivamente com recursos digitais, o Ministério da Educação do país começou a perceber alguns sintomas perturbadores nas suas crianças: deficiência na leitura e na compreensão de textos apropriados para a idade e muita dificuldade de escrever.
Além disso, perceberam que as crianças também começaram a apresentar dificuldades para expressar o que sentiam, pois lhes faltavam vocabulário até mesmo para descrever cenas breves ou relatos de emoções simples. Muitas dessas manifestações, resultantes da falta de exercício cognitivo e motor, assemelhavam-se a alguns transtornos psicológicos.
Por lá, a Suécia resolveu mudar e agora estimula fortemente o uso de livros em vez de laptops, como também incentiva a leitura em voz alta, as rodas de conversa e a prática da escrita – inclusive ditados – com o objetivo de reverter o cenário que se desenhava catastrófico para o futuro.
Por aqui, no Brasil, é fundamental que o assunto comece a ser levado a sério, até porque a interação de crianças com as telas ocorre cada vez mais cedo e de forma ampla. Cerca de um terço dos usuários da internet no mundo é de crianças e adolescentes.
É fundamental compreender os impactos e definir as melhores estratégias para lidar com a questão.
Não se trata, é óbvio, de impedir a utilização dos meios digitais. Isso não seria o caminho adequado. Mas sim compreender como definir o uso consciente das telas, ao mesmo tempo em que se garanta o desenvolvimento integral de habilidade motoras, cognitivas e socioemocionais nas crianças.