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Rondonópolis
, 16 maio 2024
 
 

Quem paga o pato?

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Ciro Rosolem

Mais uma vez, os alimentos aparecem como vilãos da inflação. Certa vez foi o tomate, depois, alface, batata, até o pobre do chuchu já pagou o pato. Agora, parece que será o feijão de cores, junto com o arroz. Se bem que vai ser difícil, porque o preço do pato deve ter subido também. Estamos vivendo um ano complicado para o agronegócio. Primeiro foi o atraso nas chuvas, atrasando a semeadura da safra de verão. Depois a seca de abril/maio, prejudicando o arroz, feijão, soja, algodão e, principalmente o milho de segunda safra. Agora o frio, geada, prejudicando frutas e hortaliças.
O resultado é uma safra de grãos um pouco menor que a anterior, uma quebra não só da safra, mas também dos sucessivos recordes batidos ano a ano. Mas, e a tal propalada pujança de nossa agricultura? Se somos tão eficientes, como isso ocorre com frequência no Brasil? Muito bem, vamos colocar cada coisa em seu lugar. O primeiro ponto é que, embora os preços dos alimentos, nas últimas décadas, tenham caído em nível de produtor, no varejo eles têm mais ou menos acompanhado a inflação. Nos últimos 16 anos: inflação acumulada de 194,31% e aumento acumulado da cesta básica de 191,00%. Mas, ainda há outro fator muito importante: em janeiro de 2000, um salário mínimo nacional comprava 1,01 cestas básicas, em maio de 2016 comprou 2,24.
Então, vamos combinar que não são os alimentos que detonam o orçamento familiar, certo? O fato é que, em função dos problemas climáticos, vai piorar um pouco. As carnes e o leite devem subir ainda, pois o milho e a soja são componentes importantes das rações. E houve queda na produção de ambos. O fato é que quando se produz bastante, os preços caem e o produtor é desestimulado, e produz menos no próximo ano; quando há quebra de produção os preços sobem e o consumidor paga o pato (olha ele aí outra vez). Quem é responsável por essa gangorra? Existe uma coisa de chamamos de Estoque Regulador.
Ou seja, em anos com superprodução, o governo deve garantir os preços ao produtor, de modo a mantê-lo produzindo de modo correto, sustentável, comprando e armazenando o excesso produzido, por preço justo; em anos de produção prejudicada, os estoques devem ser colocados no mercado, de modo a não sacrificar o consumidor, e controlar a inflação. Os estoques estão baixos no Brasil. Políticas públicas podem e deveriam minimizar este tipo de problema. A manutenção de estoques implica em uma política correta de preços mínimos e de seguro rural, além de política fiscal coerente para o setor. Por mais que o agro seja eficiente, por mais técnica que se empregue na agricultura, por mais que a ciência tenha se desenvolvido, ainda não temos ferramentas que anulem os efeitos climáticos. Talvez nunca tenhamos. E, com o possível aquecimento global, isso vai piorar. Como lidar com isso tudo? Governos com um mínimo de comprometimento com os cidadãos. Governos que governem para o País e não para se manter no poder. A história é antiga… Por quanto tempo ainda teremos que achar alguém, ou algum produto, para pagar o pato?

(*) CIRO ANTONIO ROSOLEM é vice-presidente de Estudos do Conselho Científico para Agricultura Sustentável (CCAS) e professor titular da Faculdade de Ciências Agrícolas da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (FCA/Unesp Botucatu)

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