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Branco ou Tinto ou o Sujeito ressentido

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Rodrigo Brito - 04-08-14

Neste ano, a banda Branco ou Tinto (B.O.T.) lançou o seu novo álbum intitulado de “50 segundos”, que conta com o total de dez canções. Composta por Welliton Moraes no vocal e guitarra, Marcus Tubarão na Bateria e Thiago Araújo no baixo, a banda traz a melodia combinada com a literariedade das letras que possibilitam ao ouvinte explorar diversas sensações.
Sou um fã da banda e as músicas do novo álbum provocam-me sensações que até hoje ainda não sou capaz de compreender. Por ser um admirador de B.O.T., decidi compartilhar com os leitores uma nova possibilidade de interpretar as músicas. Assim, ao ler as letras com mais atenção, percebi a presença do ressentimento em todas as músicas, porém, para esta resenha, o meu foco está nas canções de títulos provocativos: Presente de Grego e O Amor Caiu em Desuso.
Sendo o ressentimento uma mágoa nunca superada ou esquecida de algum prejuízo real ou não, deflagra-se o processo de vitimização e o ressentido, diante de sua certeza de superioridade moral, passa a sofrer silenciosamente. Nos estudos sobre o ressentimento de Kehl como referência, Izabel Cruz, mestre em Estudos de Linguagens (UFMT), afirma que o ressentido não deseja vingança e, sim, a justiça, pois a certeza de sua pureza moral impede-o de assumir um desejo de vingança ou se comprazer nele. A vingança dissolveria o processo de culpabilização e acusação do outro, porém, o ressentimento é o afeto próprio daquele que nunca se vinga e por isso mesmo a chama do ressentimento permanece sempre acesa, alimentada pelo ódio secreto que se manifesta em forma de lamentos sem fim.
Nessa perspectiva, ao ouvirmos Presente de Grego, deparamo-nos com as indagações que explicitam as definições de ressentimento: “Toda essa raiva aqui dentro vai passar?”, “Enxugue essas lágrimas falsas porque eu não posso mais te esperar”, “Já me feri o bastante e não tenho uma gota sequer pra sangrar”. Qual seria então o Presente de Grego, já que a letra manifesta um sujeito que no auge de seu mal-estar, expressa a sua dor íntima com o máximo exagero? Acredito que esse “presente” seja a eterna ruminação das dores que um outro causou e que, por isso, a salvação e a busca tornaram-se impossíveis.
Os questionamentos nas letras de O Amor Caiu em Desuso são semelhantes ao que já foi desvelado. Salvo a exceção dos versos perturbadores: “Pra que nos preocuparmos? Se nem mesmo a miséria ou as tragédias não chocam mais” em seguida do refrão: “Eu acho que o amor caiu em desuso”. No conforto do lugar da queixa, o ressentido goza com as acusações e da não luta de superar o mal que lhe foi feito. Todas as tragédias chocam, porém, o sujeito da música não as percebe por causa de seu egocentrismo de não ter a sua dor no centro do universo. Não compreende também que o amor não está fora de moda, apenas mudou as suas maneiras de representação.
Então, o Rock’n’Roll de B.O.T. proporciona muito mais do que momentos especiais. As músicas, além de nos fazerem sentir as ressonâncias no coração, ainda apresentam questões para estudos e compreensão da Cultura atual. Em manifestação artística, as canções selecionadas proporcionaram-me reflexões para aprofundar conteúdos que aguardavam um novo sentido ou interpretação.

(*) Rodrigo Brito é mestrando em Estudos de Linguagens e autor de Solstício ao Luar

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