O legado da Copa 2014

Estamos a quatorze meses da realização, aqui no Brasil, de um dos maiores eventos esportivos do mundo, a Copa do Mundo de Futebol em 2014, e o governo da presidente Dilma, revestido de demagogos e políticos sensacionalistas, está todo otimista e eufórico com a expectativa de que este seja um dos melhores eventos futebolísticos já realizados em todos os tempos pela FIFA. Convenhamos, que há sim essa possibilidade, afinal de contas os bilhões de reais, e olha que são muitos bilhões a serem gastos, já foram disponibilizados aos sortudos empreiteiros companheiros, e o nosso país é lindo, repleto de belezas naturais, povo hospitaleiro e festivo, enfim, somos os únicos pentacampeões deste esporte.
Em contrapartida, o país enfrenta sérios problemas de ordem social e estrutural, bem como na logística e execução das obras de mobilidade urbana, portos, aeroportos e rodovias. Sem contar que as obras consideradas essenciais estão fora do cronograma ou paralisadas por suspeitas de fraudes em licitações, superfaturamento e ou desvio de recursos, a exemplo do VLT da capital Cuiabá que está sendo preparada para receber apenas 04 (quatro) míseros jogos.
Há ainda o calcanhar de Aquiles, que é a questão da segurança pública, que conta com policiais mal remunerados, baixo efetivo, fragilidade nos sistemas de inteligência e recursos materiais escassos, e que ainda tem que se submeter a um Código Penal arcaico, elaborado com a finalidade de proteger os bandidos e punir o cidadão de bem. Só pra se ter uma idéia, no estado de São Paulo existem hoje cerca de 140.000 mandados de prisão que não são cumpridos por falta de estrutura nos presídios e por conveniência, ou seja, os presídios estão superlotados, não há investimentos, são uma verdadeira “bomba relógio”, enquanto a Secretaria de Segurança Pública finge que estes criminosos são foragidos da Justiça, disponibilizando apenas 20 investigadores para a delegacia de capturas numa metrópole com quase 20 milhões de habitantes.
Porém, suponhamos que esses problemas sejam enfim solucionados, e que realmente esta seja a melhor e maior de todas as COPAS, ainda que com o Brasil campeão ou não, que seja um evento inesquecível, mas e depois? O que herdaremos, qual será o legado da Copa de 2014? Será que as pessoas ainda continuarão morrendo nas filas do SUS, será que nosso trânsito continuará matando por ano mais pessoas que a guerra do Vietnã, será que teremos ainda este caos na Segurança Pública, será que teremos vencido a guerra contra as drogas, existirá ainda as cracolândias, será que nossas escolas e Universidades ainda estarão sucateadas e adeptas do ensino moderno, “eu professor finjo que ensino e vocês alunos fingem que estudam e no fim do ano letivo todo mundo está aprovado”, como estarão as nossas rodovias, todas privatizadas e esburacadas, quantas famílias ainda estarão sem um teto digno para morar, será que os sem-terra que ganham a terra e depois vendem, como ocorreu na região da Gleba Rio Vermelho e que hoje está em quase sua totalidade nas mãos de pessoas ricas e bem sucedidas em nossa cidade, será que estes mesmos sem-terra ainda estarão invadindo terras produtivas em nosso país, teremos a BR-163/364 duplicada no trecho Rondonópolis a Cuiabá, será que nossos professores, bombeiros, policiais, garis, auxiliares de serviços gerais, enfim, todo o funcionalismo terá um salário compatível com sua função.
Infelizmente, não, não teremos nada disso, segundo renomados economistas, especialistas em segurança pública, educadores, gestores de hospitais públicos e a própria ONU, a perspectiva é das piores possíveis, nosso país parou de crescer, a educação, saúde e segurança não têm futuro nenhum, o desemprego aumentou, o setor energético está falido, a Petrobras vem pelo terceiro ano seguido fechando no vermelho, as obras do PAC viraram grandes elefantes brancos e o dinheiro o gato comeu, a transposição do Rio São Francisco consumiu 9 bilhões de reais e está abandonada, enquanto milhões de nordestinos que endeusaram o Sr. Lula estão passando fome e sede, a espera da obra tão prometida em palanques, ou por um milagre de Deus “a chuva”.
Por estas e outras razões, como falta de comprometimento, planejamento e uma administração estratégica, teremos um divisor de águas na história deste país, o Brasil de antes e o depois da Copa de 2014, e se não houver uma drástica mudança no rumo dos trilhos, o Brasil vai descarrilar e, como sempre, o vagão do povo será o primeiro a se espatifar.
Copa do Mundo pra quê, para quem, só para inglês ver, este, amigos, será o triste, muito triste legado da Copa do Mundo de 2014.

(*) Evair de Paula Freitas, biólogo, formado pela UFMT – Rondonópolis,  investigador de Polícia,   cidadão rondonopolitano