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Reminiscências de meu pai!

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Uma terça-feira, eu acordei às oito horas da manhã, porque fui dormir às três horas da madrugada, fiquei lendo  os romances para melhorar  minha narrativa. Na tarde do dia seguinte, fui visitar o jornal A TRIBUNA. Eram cinco  horas da tarde, quando entrei na sala de recepção desse conceituado veículo de comunicação de nossa Rondonópolis. Nesse ambiente  da informação, fui muito bem recepcionado ou atendido pelas duas funcionárias. Enquanto esperava  pelos jornalistas para ser entrevistado, passei a ler as breves notícias das manchetes do jornal.
Quando ainda eu tinha de doze para treze anos, meu pai já estava escrevendo para o A TRIBUNA. Wilson Lemos era assim seu nome. Foi meu querido pai, um homem de estatura pequena, olhos  verdes e vivos, seus cabelos castanhos escuros e uma cabeça enorme e persuasiva ou instrutiva.  Fora meu poeta Wilson um intelectual no melhor sentido do predicativo.
Lembro-me, com muita longanimidade e paciência que, para ele escrever os artigos para esse jornal, sentava-se pela manhã após um ligeiro café, uns pães.  No escritório, era assim que ele nominava uma sala que estava na varanda da casa; com duas cadeiras, um arquivo de aço e uma escrivaninha povoada de objetos.
Nesse ambiente aristocrático e tranquilo, confortável, isso porque tinha o ar-condicionado. Ele, o poeta se desvencilhava do mundo, das coisas de fora, do tempo. Era como se estivesse lendo o romance de Júlio Verne nos seus enredos da “Volta ao Mundo em 80 Dias” ou  na narrativa muito instrutiva de “Dom Casmurro”, de Machado de Assis, onde o narrador  cria o ambiente, espaço e todas as partes da narrativa descrevendo o personagem de  Capitu, aquela sincera, leal e tão inocente quanto fantasiosa.
Ah! Se meu destino fosse assim, como a Vicentina que fora embora depois de três meses de convivência? Pergunto de mim para comigo. Mas, voltando ao poeta Lemos, quero continuar a contar. Eu me aproximava algumas ocasiões para vê-lo, conversar, observar meu nobre pai escrevendo. Queria ouvi-lo falar dos assuntos que rodeava seu pensamento, queria ser como aquela vizinha curiosa que imagina o que seu vizinho faz de bom, de instrutivo; mas, ainda não teve a oportunidade de ver com seus olhos. No entanto, o que eu obtive como resposta do poeta Wilson Lemos  era assim.
– Pai, como está! O que estás a escrever agora? Perguntava-lhe ansioso pela resposta.
– Estou escrevendo o artigo para o jornal, por favor não me interrompa.
Então voltando sua feição já desenhada pelas rugas do tempo, das lutas enfrentadas; e também por intempéries dos aborrecimentos e desgostos dessa vida ele dizia:
– Como está o livro que estás escrevendo contando da Vicentina, a peregrina?
– Quer saber mesmo? Está ótimo! Estou indo bem, criar todo ambiente, a narrativa ou verbalização dos fatos narrados tem sido proveitoso, muito instrutivo. Isso porque li os romances do Eça de Queirós, pai, e tenho me esforçado para conseguir narrar. No enredo da minha prosa, conto da Praça dos Carreiros, das viagens que fiz nos ônibus de Rondonópolis a Cuiabá. Também do meu primeiro encontro com Vicentina que no livro é a Rute Laura. Então.. Meu pai leitor, era um cidadão muito culto, instruído ao extremo porque desde criança procurava ir para as bibliotecas da sua cidade para ler, deixava as aulas pra ler os romances, contos e poesias e também os filósofos, historiadores. Era realmente deixando de lado esse saudosismo exacerbado que trago comigo. Ele era um homem fantástico. Mas, um pouco enigmático. Sua distinção de caráter, seu comportamento civilizado me deixava  ansioso e surpreso. Isso porque nunca ou jamais tinha visto alguém com aquele modo fino de tratar seu semelhante.
Porém, logo que entrava na sala, era acolhido pelo sorriso do poeta Lemos, que fizera  sua expressão um romance de vida, de seu lirismo poético uma escola literária sem escândalo ou vulgaridade. Os momentos mais prazerosos e alegres que senti durante a vida. O poeta Wilson Lemos me escutava diante da mesa que estava povoada com seus objetos mais íntimos. Talvez, não fosse o filho estreitamente ligado como José Ferreira; no entanto , ele demonstrava consideração por mim.  Recordo quando ou na ocasião que levara a Vicentina Lima para conhecê-lo, para apresentar à minha mãe e meus familiares. Ele, o poeta, ficou surpreso em ver aquela mulher, mulheraça comigo, em desenvolvido arrebatamento e desmedido carinho ali na sala de jantar de casa. A mulher que tenho amado e que embora distante de mim, conservo na lembrança os melhores momentos que vivemos juntos.
Foi nesse momento que reafirmei ao meu pai Wilson que lhe admirava profundamente. Por seu afeto, sua afeição por mim. Com a amabilidade filial. A grande Vicentina que sua beleza idealizo no romance. Sou romancista e dos bons!! Oh! Que vaidade é a minha. Ela, Vicentina, permaneceu acanhada diante do patriarca dos Lemos, o poeta Wilson.
Com experiência dos anos vividos, todas as palavras dele de incentivo, de conselho guardava.  Deixei junto com Vicentina a casa de meu pai aquela tarde de fevereiro. Me despedindo dele com saudade que agora me fez recordá-lo outra vez e escrever esse artigo que parece ser mais uma crônica Rubembraguiana.
Termino esse enredo que mas parece como disse antes, pedindo ao nobre jornalista para entrevistar-me contando do livro de Vicentina a Rute Laura que escrevi de janeiro a junho e que agora estou a fazer a revisão. São memórias de minha cidade, a Rondonópolis. Um abraço ao Wilson, Vicentina e ao amigo Almir que ainda está conosco nessa jornada de levar a informação à população dessa tão conceituada cidade.

(*) Wagner Vinícius Lemos  é poeta e romancista

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