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Rondonópolis
, 20 maio 2024
 
 

Religião, política e esperança

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Nestas últimas semanas, algumas pessoas me procuraram perguntando se, de fato, seria candidato a algum cargo político nas próximas eleições em nosso município. Como sempre, expus a minha admiração por aqueles que dedicam tempo e entusiasmo na construção deste universo, deixando claro que o campo da minha atuação está mais voltado para dimensão metafísica, ou seja, o mundo religioso.
Todavia, vale ressaltar que não partilho da visão de que religião, política e futebol, dentre outros temas, não devam ser discutidos pela sociedade brasileira. Pelo contrário, na medida em que se problematiza os ideais partidários, religiosos, acadêmicos e científicos, temos a abertura para o nascimento de novas maneiras de se ler e resignificar os vários fenômenos sociais que nos atravessam todos os dias.
Nesse sentido, é importante que se faça uma leitura crítica e desapaixonada de tudo aquilo que nos cerca, valendo-nos, por exemplo, do conceito de complexidade do antropólogo e filósofo Edgar Morin. Para ele, todo o conjunto cósmico é constituído por linhas distintas, que numa relação dialética, dialógica e alteritária, constituem o imenso desenho sociocultural da humanidade.
Esse pressuposto nos remete a conclusão de que tanto a religião quanto a política se perfilam como construções participativas deste enredo cósmico, determinando o modo de vida e a relação que muitas pessoas possuem com o mundo concreto.
Entretanto, é lamentável que a religião cristã no presente contexto esteja se distanciando cada vez mais de sua função mediadora entre os céus e a terra, tornando-se, em muitos casos, apenas uma agência de teor capitalista, com o propósito de implantar um reino de caráter econômico, utilizando, desta maneira, a espiritualidade humana para fins lucrativos de proporções ilimitadas.
Uma grande parcela de líderes religiosos, que deveria conduzir-se por um sentimento de indignação contra qualquer espécie de domínio opressor, tem transformado templos em espaços de alienação, opressão e demonização do outro. De tal modo que “a morte se esconde atrás dos templos”, como disse o músico brasileiro João Alexandre, na canção, “Tudo é vaidade”.
No âmbito político a realidade também, em muitos casos, não se configura de modo tão diferente. Muitos políticos perderam a dimensão de seus papéis na construção de um estado democrático, criando pequenos reinos personalistas, marcados por imposições, regalias e apadrinhamentos de pessoas e organizações, que se beneficiam estrategicamente de toda a estrutura pública.
Há, até mesmo, um discurso político de que o nosso estado se projeta nacionalmente como uma região privilegiada, cujas implicações econômicas, culturais e sociais do gigante mato-grossense, dar-lhe-á um papel singular na história de nosso país.
Contudo, preocupa-me os seguintes fatos: por que um gigante desta suposta envergadura geopolítica não consegue ter rodovias adequadas, que estejam interligando-o com todo o desenvolvimento nacional? Ou, por que não há investimentos maiores no campo da pesquisa científica e tecnológica? Sem tais investimentos, continuaremos justificando o estereótipo do imaginário popular de que somos apenas um grande pedaço de terra que recebe sementes sobre si quando, na verdade, temos habilidades cognitivas para criar e redefinir a própria composição desta semente.
Em qual Mato Grosso estamos vivendo? No Mato Grosso de discursos messiânicos, de manipulações políticas partidárias, de pequenas cidades que são esquecidas nas mãos de grupos políticos que, por sua vez, as consideram como suas fazendas e os cidadãos como seus empregados? Ou moramos no Mato Grosso histórico, de crenças e valores diferentes, de lutas sociais contínuas, de necessidades concretas, dos abandonos políticos, e de um povo que tem desejo real de viver uma nova etapa histórica de sua vida?
Tanto a religião quanto a política vivem momentos de aridez, violência e insensibilidade, governando-se por determinados grupos que implantam seus reinos triunfalistas, mas que não se preocupam com aqueles que vivem sob suas normas e que estão a procura de verdades que transcendam os limites cartesianos e mercantilistas oferecidos pelos seus líderes.
Diante de tal contexto, evoca-se a esperança, a fim de que seja produzido um comportamento religioso crítico e sensível, que não se divorcia do conhecimento científico, mas que saiba que nem tudo é explicado a partir da filosofia empírica, uma vez que a realidade metafísica nos conclama a olhar para céus, mesmo quando os seus supostos representantes estão apenas olhando para a terra e as suas riquezas.
Sendo assim, governar e administrar esses benefícios vindos dos céus para realidade terrena é uma das tarefas dos que exercem a função política na realidade terrena. Como mordomos do Criador, somos convocados para compreender que a terra não pertence a determinados grupos, mas a todos aqueles que labutam diariamente com honestidade e trabalho, precisando de resoluções sábias advindas do poder público para concretizar seus sonhos.
Na verdade, o que me move a cada dia é a convicção de que Deus utiliza pessoas para provocar mudanças significativas na história da humanidade.  Sob esse prisma, todas as pessoas são chamadas à produção de algo melhor, a fim de que todos recebam oportunidades iguais, vivam numa sociedade em que seus direitos são resguardados pelo Estado e sejam livres e respeitados ao manifestar suas convicções.

(*) Emerson Arruda é teólogo protestante, professor de antropologia da educação, psicopedagogo, pastor da Igreja Presbiteriana do Brasil em Jaciara e mestrando em Educação pela UFMT – Campus de Rondonópolis

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  1. Eu realmente sou daquelas exceções… onde muitos dizem que política e religião não se misturam, penso que ambas sempre estão etrelaçadas uma na outra inevitavelmente JUNTAS! E por mais que atualente as vejamos em “momentos de aridez, violência e insensibilidade, governando-se por determinados grupos que implantam seus reinos triunfalistas”…Devemos ter em mente que concordo com a opinião do leitor quando ele diz: “o que me move a cada dia é a convicção de que Deus utiliza pessoas para provocar mudanças significativas na história da humanidade”. Assim resta nos deixar levar por Deus, que nos utiliza, nos conduz, e nos pondo a frente de uma candidatura, se depender de muita gente aqui de Jaciara certamente que EMERSON ARRUDA, seria um desses conduzidos. PARABÉNS PELA MATÉRIA! PASTOR!

  2. Marlon acredito que talvez não tenha conseguido transmitir a idéia central na minha visão da realidade. Acredito que tanto a política quanto a religião são construções que podem ser utilizadas de maneira benéfica para a vida das pessoas. De fato, Estado é laico, não devermos ter um Estado com determinações religiosas. Todavia, compreendo, a partir de uma análise antropológica, a religião está presente, e deveria produzir a capacidade das pessoas no mínimo, conviverem com as várias crenças e valores.

  3. Notei em seu texto uma defesa do uso de ideais religiosos para a manutenção de determinados aspectos da política.

    Devo dizer que isso soa como fundamentalismo. É como interpretei seu texto.
    Não concorda que política e religião devem estar sempre separadas? Afinal o Estado é, ao menos em tese, laico. Não acha que esse tipo de ideia é prejudicial, e abre margem para vários disparates, como as ações da Frente Parlamentar Evangélica?

  4. Parece que mais e mais pessoas se dão conta que não existe candidato natural, ungido pelos deuses. O Mato Grosso é um reduto de voto de cabresto, comprado e pago em espécie. Sem contar que os partidos não passam de feudos pertencentes ao modernos coronéis, sejam eles produtores rurais ou sindicalistas.
    Em termos políticos o Mato Grosso é um Maranhão da vida, com seus sarneyzinhos.

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