Agora que conquistamos espaço no mercado de trabalho e aprendemos conciliar alguns papeis pode parecer lugar-comum e até fora do tom falar sobre a importância do papel e da luta das mulheres neste milênio. Mas, não podemos esquecer que os avanços vivenciados hoje pelas mulheres resultam do esforço de milhares e milhares de brasileiras que se rebelaram contra a situação estabelecida: éramos índias contra a violência dos colonizadores, negras contra a escravidão e brancas contra a cultura vigente.
Vamos girar a máquina do tempo e voltar para 31 de dezembro de 1899. Quais seriam as angustias de nossas bisavós? Quais as reivindicações e esperanças para o novo século? Quantas ousariam nos seus mais ousados sonhos? Que lugares, profissões e comportamentos almejavam? Algumas preocupações provavelmente eram de caráter amplo como educação para os filhos, melhores cuidados médicos para a sua família e mais segurança no parto; talvez as inquietações com a miséria da maioria da população e dos negros, recém-libertos. As raras mulheres que tinham acesso à informação talvez começassem a se indagar porque não votavam (direito conquistado somente em 1932). Pouquíssimas questionavam o modelo patriarcal, a dependência e a submissão total ao pai e depois ao marido.
Hoje, no alto das nossas conquistas, como liberdade sexual, consequência da pílula nos anos 60, o divórcio em 1977, frequentar universidades, o direito a salários e oportunidades iguais aos homens, inclusive no poder político. Quais as perspectivas para este milênio?
Evidentemente estamos mais livres, seguras, soltas, magras e independentes financeiramente que nossas avós. Ouso dizer que mais felizes, apesar de sobrecarregadas e desconcertadas com as mudanças tão rápidas, com a responsabilidade de educar os filhos, ainda tão solitárias para muitas, perdidas no consumo excessivo e escravas de padrões de beleza absurdos. Mas e a alegria de poder escolher, com quem, onde e como? De poder ter seu próprio dinheiro? De saber “se quiser eu chego lá”?
Na verdade não é bem assim. Ainda somos uma minoria nos cargos executivos, a desigualdade salarial persiste, a agressões físicas por parte dos companheiros. Mesmo as mulheres vítimas da violência doméstica carregam a culpa dentro de si. Tem imensa dificuldade em romper o silêncio para denunciar seus companheiros e sentem-se co-responsáveis pela violência de que são vitimas.
O fim do século XX marca uma ruptura com a história de invisibilidade das mulheres e ao que a elas se referem. Estamos construindo uma nova história, na qual mulheres e homens terão que encontrar novos pactos de convivência, novas referencias de relacionamentos públicos e privados. Ao mesmo tempo que nos adaptamos a um mundo tecnológico, que muda com rapidez precisamos exigir novas formas de participação popular, maior acesso ao conhecimento e aos bens coletivos. Com isso estaremos combatendo a exclusão social e os privilégios, dos quais as mulheres são as maiores vítimas. Queremos a ética do cuidado, a não hierarquização, a descentralização, o respeito aos valores humanos. Valores que já eram das nossas bisavós e que faremos prevalecer no 3º milênio.
Nosso desafio será reaprender a ser mulher, pronta para amar os filhos e o companheiro, administrar o lar e continuar sendo a profissional que revolucionou a história da humanidade.
(*) Maria da Conceição de Góis, funcionária publica e catequista Paróquia Nossa Senhora Aparecida
Maria, fale em decênio e deixe esse negócio de milênio para os místicos. Vamos espernear por igualdade de oportunidades para todos os brasileiros, sem nenhum tipo de discriminação.