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Dilson, oráculo ou gênio perspicaz?

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Em 1989 eu era o diretor de tecnologia da informação (informática) de um tribunal superior em Brasília. Ao meu lado trabalhava um analista de sistemas, chamado Dílson Modesto, que entre outras qualidades tinha a inteligência privilegiada. Eu, sempre aproveitador das boas cabeças, conversava longamente com ele em nossos encontros sociais e principalmente, nas viagens regulares que fazíamos a Oracle do Brasil em São Paulo onde estudávamos juntos sobre banco de dados.
Além de saber tudo de programação de computadores, Dílson adorava esportes, vida e política. Nossos papos sempre duravam uma viagem de Brasília a São Paulo e dali retomada no jantar, no hotel e no café da manhã. Nenhum assunto era proibido, até fofocas de nossos ministros fazíamos como se fossemos adolescentes.
Ocorre que a insistência dele (em 1989) num tópico me incomodava e dava uma discussão danada: Educação pública no Brasil. Além de trabalhar no Tribunal, também trabalhava na UnB, como professor da pós-graduação em Análise de Sistemas e alguns dias pela manhã lecionava nos cursos de Processamento de Dados e Sistemas de Informações na UNEB, também em Brasília. Isso me dava o respaldo para divergir dele e dizer das agruras da Educação brasileira com um monte de variáveis impedindo o sucesso das políticas públicas nessa área.
Ocorre que a maldita lógica do Dílson resumia-se numa só frase, repetida incessantemente em nossos debates: Meritocracia! Põe professor ganhando dois mil dólares por mês nas escolas públicas e os problemas vão embora. Eu ficava roxo de raiva e começava a citar os especialistas em educação que pesquisaram o fracasso escolar e tinham mil outros problemas para justificar o insucesso. Ele desdenhava de todos e voltava à cantilena: Meritocracia!
Claro que nunca perdemos a linha em nossos debates acalorados, pois ficávamos sempre no campo das ideias. Depois atacávamos as pizzas paulistas e íamos dormir felizes por resolver os problemas brasileiros numa mesa de pizzaria do elegante bairro de Moema.
Vinte e um anos depois, ele permanece servidor do Tribunal, agora merecidamente elevado a cargo de direção. Desisti do mercado e decidi socializar o conhecimento que amealhei na vida tornando-me professor em tempo integral. Coisas da vida. Ocorre que ao ler os resultados de uma pesquisa realizada por Eric Hanushek, líder de um grupo de pesquisa em análise econômica de questões educacionais da Universidade Stanford, nos Estados Unidos, fiquei estarrecido ao ver a tese do Dílson ser comprovada e sintetizada numa frase de Hanushek: “Sem meritocracia, não há como atrair as melhores cabeças de um país para a docência”.
Uau! Só se atrai gente inteligente, capacitada e motivada pagando bem. O Dílson é um oráculo, ou o cara é um gênio stanfordiano enrustido de analista de sistemas. A lógica dele é simples demais: 1. Salário inicial de professor na rede pública fixado em US$ 2,000.00; 2. Concurso público nacional para essas vagas, independente se a rede escolar é municipal, estadual ou federal; 3. Avaliação frequente desses professores e de seus alunos; 4. Se o desempenho de seus alunos cair, demissão sumária do professor; 5. Se o desempenho do aluno melhorar, mais dinheiro no bolso do professor, algo como dobrar o salário em cinco anos. Fim.
A tese é simples, inovadora e acaba com o maldito corporativismo onde o mérito nunca é julgado. E quando ocorre uma avaliação, não serve para nada, a não ser para encher uma gaveta qualquer.
E os demais problemas levantados pelos pesquisadores especialistas? A violência, a fome, a falta de material escolar, a pobreza, o desinteresse do aluno pela escola, a omissão dos pais em relação à educação dos filhos, a corrupção que rouba quase 80% dos recursos destinados à escola, como ficam?
Não sei! Mas sei que o Dílson tinha razão em fixar o mérito do professor como algo capaz de mudar ou até mesmo revolucionar o quadro educacional brasileiro. Ou, alguém acredita que algo vai mudar na Educação sem que o professor esteja na linha de frente dessas mudanças?
Valeu Dílson Modesto, meu oráculo, o pessoal de Stanford comprovou tuas ideias. Pena que você pensou nisso vinte anos antes e ninguém te deu ouvido.

(*) Ruy Ferreira é professor da UFMT e morador em Rondonópolis.

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