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, 19 maio 2024
 
 

Carpintaria de José

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(*) Dom Walmor

Maio, mês dedicado pela Igreja Católica à Maria, Mãe do Salvador, começa sempre com a Festa de São José Operário, pai adotivo de Jesus. A celebração oferece a oportunidade de reavivar, na memória, pérolas sobre o sentido do trabalho humano, conforme os ensinamentos da Doutrina Social da Igreja. Celebrar São José Operário possibilita, assim, uma iluminação preciosa, que desenha horizontes indispensáveis à missão de efetivar uma ordem social justa e solidária.

A carpintaria de José, pai adotivo de Jesus, é exemplar, por muitas razões, particularmente por revelar o engajamento do Homem-Deus, Jesus, Redentor e Salvador, dedicado a aprender o ofício de seu pai adotivo. É da tradição judaica o filho aprender a profissão do pai. A dedicação de Jesus ao aprendizado de um ofício é importante referência no ensinamento social da Igreja Católica, à luz da fé cristã, oferecendo parâmetros de compreensão que precisam ser traduzidos em diferentes iniciativas cidadãs, inspirando, especialmente, políticas públicas capazes de qualificar o contexto sociopolítico.

A partir do trabalho, o ser humano garante o seu sustento e contribui para avanços na sociedade. Para além de características ou singularidades, todo tipo de trabalho é importante, efetivando aptidões e serviços, fecundando a humanidade de cada pessoa. O trabalho expressa a condição humana de ser imagem e semelhança de Deus. A partir de cada ofício exercido, alcança-se melhor compreensão sobre o sentido da própria existência, percebendo com mais clareza a condição de filho e de filha do Deus criador. Por isso, a necessidade de se colocar permanentemente em pauta a realidade do trabalho, reconhecendo as mudanças sociais provocadas, sobretudo, por avanços tecnológicos.

De modo especial, deve-se buscar a superação da dolorosa ferida causada pelo desemprego. O desenvolvimento da ciência e da técnica deve ser acompanhado de medidas capazes de levar esperança, alívio e bem-estar às pessoas, promovendo direitos humanos fundamentais. Há de se encontrar meios para salvaguardar o direito ao trabalho, que é intocável.

A Igreja Católica compreende que o trabalho é importante dimensão da vida em sociedade. A narrativa do Livro do Gênesis, nos 13 primeiros capítulos, inspira a compreensão do trabalho como dimensão fundamental da existência humana. Criado à imagem e semelhança de Deus, o ser humano recebe do Criador o mandato de reger a criação. É pelo trabalho que se participa da permanente construção da sociedade. E tenha-se presente a indicação imperativa do Criador ao dizer: “Submetei a terra”.

Trata-se da confirmação do domínio da humanidade sobre a natureza. Um domínio que deve ser traduzido em cuidado inteligente, humanizado. Não pode ser confundido com um tratamento predatório dedicado ao meio ambiente na Casa Comum. Na tarefa de dar continuidade à obra de Deus, cada pessoa constitui a sua identidade a partir do próprio trabalho, que é oportunidade para alcançar realizações. Essa verdade expõe a dolorosa situação dos que não têm trabalho, ou daqueles que são remunerados de modo injusto por seus ofícios, realidades que ameaçam o sustento e a dignidade humana.

O valor ético do trabalho precisa ser considerado, percebendo-o como caminho para a realização de cada pessoa, conforme orienta a Doutrina Social da Igreja Católica. Portanto, não se pode tratar o trabalho de modo reducionista, a partir de premissas materialistas. Trabalho não é simples mercadoria e sua complexidade deve inspirar abordagens nas esferas política, social e econômica, nas relações internacionais. Para adequadamente tratá-lo, deve-se observar o imprescindível princípio da solidariedade, essencial à promoção do desenvolvimento integral da civilização contemporânea. Movimentos de solidariedade no campo do trabalho são indispensáveis e necessários, especialmente em favor dos grupos sociais excluídos, em condições desumanas, compondo cenários vergonhosos de pobreza e marginalização.

Governantes e políticos, líderes nas instâncias do poder, mas também cada cidadão, precisam se engajar e encontrar respostas para combater o desemprego e a desvalorização dos trabalhadores. A complexidade do mundo do trabalho requer estudos, adequado tratamento científico, técnico e político, para que sejam alcançadas melhorias no tecido social. Essas melhorias não podem ser confundidas, simplesmente, com avanços estatísticos. Devem, efetivamente, beneficiar grande parte da população.

A carpintaria de José tem lições importantes para os que buscam promover a dignidade humana a partir do mundo do trabalho. São José, pela simplicidade e grandeza, é amado, reconhecido como aquele que não desampara, um operário que inspira caminhos novos para o atendimento das urgências dos pobres, dos trabalhadores e trabalhadoras.

(*) Dom Walmor Oliveira de Azevedo é arcebispo metropolitano de Belo Horizonte

 

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