Manhã de sábado. Churrasco da turma organizado pelo aluno do ensino médio, líder do colégio todo. Está longe de estar entre os melhores em notas ou comportamento, mas, com certeza é aquele que sabe que é imitado pelos meninos mais novos e atrai o olhar e suspiros das meninas de diferentes idades.
Ele chega quando a metade da turma já está reunida. Como não admirar esse menino lindo, inteligente, simpático com todos, sempre sorridente e sedutor, mestre em contornar as situações mais embaraçosas, conseguindo invariavelmente sair-se bem? Enfim, na linguagem da moçada, é “o cara”.
E também tem bom gosto. O Jeans de marca e a camiseta vermelha legendada em dourado “Não tenho culpa” vestem perfeitamente.
Poderíamos concluir que nada há de novo nisso tudo. No entanto, prestando mais atenção percebemos a dimensão do que se transmite, ainda que sem intenção.
Há muito sabemos que, na falta de rostos de ídolos para estampar as camisetas, a priori “uniforme” dos jovens, hoje copiado por todos, do bebê ao idoso, os estilistas das grandes marcas estampam seu logotipo das mais criativas maneiras, propaganda gratuita garantida exatamente com a clientela alvo. Ou melhor, mais que gratuita, propaganda rentável – o consumidor paga para fazê-la.
Outra forma de atingir essa clientela e alcançar outros interesses, sempre latentes, é escrever mensagens cujo significado dificilmente é motivo de reflexão das pessoas, quando escolhem a peça pela beleza que agrada aos olhos. No entanto, principalmente quando usada pelo líder da turma, o recado se transforma sutilmente em regra a ser cumprida sem que ninguém tenha que cobrá-la.
Os publicitários – e nós! – sabemos do potencial da propaganda, especialmente nesse público influenciável, à procura de uma referência com a qual possa se identificar.
Não se trata de discutir essa ou aquela possível culpa do jovem que desfila com a camiseta. A questão é muito mais ampla. Perguntamos: como ensinar às crianças e adolescentes a importância da responsabilidade quando a mídia contribui o tempo todo para perpetuar o que ficou como a “Lei do Gérson” que manda levar vantagem em tudo, o que implica em se safar de todas as culpas, se possível antes mesmo de ser apontado?
Ouvíamos de nossos pais: “Se você quebrar um jarro de cristal é um jarro de cristal que deve pagar”. Eles se responsabilizavam se o filho era menor, e em casa a conversa era outra.
Não é novidade para ninguém que os valores éticos são transmitidos inicialmente na família quando, ainda durante o desenvolvimento infantil, o super eu – responsável pela censura – começa a ser esboçado nos pequenos, de acordo com o que é transmitido enquanto lei nesse meio.
Estamos sim em outros tempos quando a verticalidade das relações afetivo-sociais deu lugar à horizontalidade, como propõe Jorge Forbes. No entanto, ainda não foi descoberto um substituto à altura da família na formação do homem. O avanço de todas as áreas, por nós vivenciado nas últimas décadas faz sobrar informação, mas em nenhum momento abraçou a causa da formação.
Aliás, com a horizontalidade das relações os pais tentam se aproximar dos filhos pela via da igualdade, tentando nivelar de acordo com a idade deles, na tentativa de estreitar os laços de amizade e intimidade. Em nome disso, a mãe pode fazer da filha sua confidente e amiga. O pai bebe com o filho e garante a cumplicidade no mundo dos homens onde não cabem a esposa e a irmã. Esquece que as mulheres selecionadas para entrar nesse clube também são esposas e irmãs…
Sim! Todos se entendendo muito bem, correndo o risco até de disputar a mesma mulher ou o mesmo homem, afinal isso não é raro entre os amigos…
Mas quem disse que pai e mãe têm que ser amigos de seus filhos?
E para quem mesmo pode ser delegada a formação?
Formação… Formar para a ação no mundo…
Isso é para sempre e parece-me, não é acadêmico…
*CRP 14/00435-0
Correspondente da Delegação Geral – MS/MT – Escola Brasileira de Psicanálise
Psicoclínica – 3421 5684
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