Com ou sem solenidades, Rondonópolis comemora hoje, dia 10 de agosto, 98 anos de sua fundação oficial e em 10 de dezembro, data da emancipação político-administrativa, 60 anos de história de município independente.
Rio Vermelho era nome do povoado que em 1918 foi denominado de Rondonópolis pelo deputado Otávio Pitaluga com a finalidade de homenagear o então General Rondon – comandante da comissão que construía as linhas telegráficas no Norte e Centro-Oeste do país.
O povoamento propriamente dito de Rondonópolis veio a acontecer a partir de 1902, com a fixação de famílias procedentes de Palmeiras de Goiás, Cuiabá e outras regiões do Estado que vêm em viagens isoladas e se fixam às margens do Rio Vermelho, sob a liderança de José Rodrigues.
Eles construíram o povoado que, em 1915, era habitado aproximadamente por setenta famílias, que detinham certa organização econômica (com economia de subsistência) e certa organização social e política – além de uma preocupação com as primeiras letras, efetivadas com a criação de escola.
CERTIDÃO DE NASCIMENTO
No mesmo ano, o povoado recebeu a sua certidão de nascimento: o Decreto nº 395 – assinado pelo Presidente de Estado Joaquim da Costa Marques, que concedia 2.000 hectares de terras ao patrimônio para efetivar a colonização local.
O Decreto Estadual 395 deu respaldo à Câmara Municipal para aprovar a Lei Municipal 2777, de 22 de outubro de 1997, que foi homologada e sancionada pelo prefeito então Alberto Carvalho e que determina o dia 10 de agosto de 1915 como a data oficial da fundação da cidade.
CONQUISTAS DO POVOADO
Em 1915, foi nomeado o primeiro professor pelo Estado, o Sr. Odorico Leocádio Rosa;
Em 1918, foi concluído o projeto de Otávio Pitaluga intitulado “Instruções para a Construção do Rio Vermelho”; projeto que incluía a medição, alinhamento, estética, higiene e postura do povoado – tal projeto somente foi executado em 1948, pelo engenheiro Domingos Lima, que edificou o traçado do atual quadrilátero central da cidade de Rondonópolis;
Em 1919, foi fundado o primeiro cartório de registros civis e houve a nomeação do primeiro Juiz de Paz, o Sr. Benjamin Rondon; e, também a nomeação do primeiro delegado, para cuidar da ordem e da segurança, o Sr. José Rodrigues;
Em 1920, Rondonópolis, o antigo Povoado do Rio Vermelho, foi promovido à categoria de Distrito através da Resolução No 814, com um projeto de autoria do deputado Otávio Pitaluga. Assim, Rondonópolis passa a ser Distrito de Santo Antônio do Leverger e Comarca de Cuiabá;
Em 1922, sob os auspícios de Rondon foi inaugurado o posto telegráfico em Rondonópolis.
DESPOVOAMENTO
De 1920 a 1930, ocorreram acontecimentos inesperados, como a mudança de líderes goianos, os problemas ligados a enchentes, epidemias e doenças e a descoberta e exploração dos garimpos de Poxoréu. Disso resultou o enfraquecimento e o esvaziamento de Rondonópolis.
Foi nessas duas décadas que, enquanto o distrito de Rondonópolis ficava quase que completamente abandonado, Poxoréu crescia com a exploração de diamante e conseguia em 1938 a sua emancipação política. Diante da proximidade, Rondonópolis foi reconhecido como distrito de Poxoréu, através do Decreto-Lei nº 218 de 26 de outubro de 1938, mas continuava Comarca de Cuiabá.
EMANCIPAÇÃO E CRESCIMENTO
De 1947 em diante, inicia-se o processo de retomada de crescimento, período em que o distrito de Rondonópolis é inserido no contexto capitalista de produção como produtor de alimentos, seguido de constantes fluxos migratórios.
Em 10 de dezembro de 1953, Rondonópolis consegue a emancipação através da Lei 666 e a partir de 70, o município conhece um processo acelerado de produção, voltado para a monocultura de exportação da soja; na década de 90 a economia local desenvolve o agronegócio; e, hoje, o município assiste ao crescimento da cadeia de produção industrial.
IDENTIDADE CULTURAL
Rondonópolis é um município que ainda constrói a sua identidade cultural, porém, concomitantemente, apresenta um conjunto de fatores que faz dela a maior e a mais importante cidade do interior do Estado de Mato Grosso – cidade polo de outras dezoito cidades da região.
A começar pela hospitalidade e pela força de trabalho de sua gente: migrantes nordestinos, mato-grossenses, paulistas, mineiros, sulistas, ao lado de libaneses, japoneses, sul-americanos e outros, que juntos construíram e constroem a pujança rondonopolitana.
No âmbito da história de Mato Grosso, o que diferencia Rondonópolis das demais cidades é o fato de seu povoamento ter sido iniciado em 1902, apresentado um crescimento até 1920, seguido de um processo de despovoamento e, somente depois de 1947, ter apresentado uma retomada de crescimento e progresso. Tanto assim que a emancipação de Rondonópolis só veio a acontecer em 10 de dezembro de 1953.
(*)LUCI LÉA LOPES MARTINS TESORO, Doutora em História Social pela USP e autora do livro “Rondonópolis-MT: um entroncamento de mão única” – [email protected]
