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Como as usinas de etanol de milho têm revolucionado Mato Grosso

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As usinas de etanol têm ajudado a viabilizar o milho de segunda safra no Estado, com a maior produção do Brasil

 

Dez anos atrás era notório o desalento dos produtores de milho no Estado de Mato Grosso diante dos baixos preços da cultura. Era preciso ficar de olho no subsídio do governo e, ainda assim, muitas vezes, não se cobria nem o preço mínimo. Hoje, o cenário é outro: a cultura do milho protagoniza uma revolução na economia de Mato Grosso, voltando a trazer esperança aos produtores de milho. Essa mudança nos rumos do setor tem sido gerada em função da viabilidade das usinas de etanol de milho, que tem se multiplicado no Estado.

As usinas de etanol de milho tem gerado uma verdadeira euforia nas regiões onde têm se instaladas. Na verdade, acredita-se que elas têm sido responsáveis pelo mais forte processo de agroindustrialização do Estado de Mato Grosso nos últimos 20 anos. E essa ascensão, perceptível no momento principalmente no médio-norte do Estado, tem uma relação direta com a demanda crescente de etanol no Brasil, em função principalmente da nova política de preços da Petrobras, implementada pelo Governo Federal a partir de 2016, que parou de subsidiar o preço da gasolina, que começou a refletir o custo de produção. Assim, a gasolina passou a ter preço real, bem mais alto ao consumidor.

Nesse cenário, o presidente-executivo da União Nacional do Etanol de Milho (Unem), o produtor mato-grossense Ricardo Tomczyk, explica que o etanol passou a ser um produto mais valorizado e viável, despertando uma oportunidade gigante para o Estado de Mato Grosso, por conta da enorme produção estadual de milho. Para se ter uma ideia, Mato Grosso é o maior produtor de milho do Brasil. Na safra 2018/19, foram 4,741 milhões de hectares de área plantada com milho no Estado, um crescimento de 2,67% sobre a safra anterior, segundo dados do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea). A estimativa de produção é de 29,365 milhões de toneladas, um crescimento de 6,46% sobre a safra anterior.

 

Com a mudança na política de preços de combustíveis, houve um aumento bastante forte de demanda pelo etanol hidratado, aquele que substitui a gasolina no veículo. E o etanol de milho vem tendo vantagem sobre o etanol de cana-de-açúcar em função da situação do setor sucroalcooleiro, que teve enormes problemas advindos da época de preço subsidiado da gasolina e que se arrastam até hoje. Consequentemente, o setor sucroalcooleiro tradicional ainda tem dificuldades em fazer novos investimentos para produção de etanol, bem como para aumentar o plantio de cana-de-açúcar, cultura que demora bastante para ser implantada e para estabilizar a produção.

 

Presidente-executivo da União Nacional do Etanol de Milho (Unem),o produtor Ricardo Tomczyk:
“Essas usinas de etanol vão ajudar bastante na estabilização dos preços do milho durante todo o ano”

 

Por sua vez, os números e a realidade vista aos olhos dos mato-grossenses mostram que o milho é abundante no Estado, tornando-se uma excelente opção de matéria-prima para produção de etanol hidratado. Não por menos, as usinas de etanol têm ajudado a viabilizar o milho de segunda safra no Mato Grosso. Ricardo Tomczyk aponta que as usinas de etanol são uma demanda importante que estão surgindo, sendo atualmente algo bastante representativas para a economia estadual. “Com certeza, essas usinas de etanol vão ajudar bastante na estabilização dos preços do milho durante todo o ano, porque criam uma demanda constante. Elas demandam milho o ano todo e vão trazer essa estabilidade de preços, principalmente nas regiões onde estão se instalando”, analisa o presidente da entidade.

A viabilidade do milho, então, passa pela industrialização dessa produção dentro do Estado. O entendimento é que, quanto mais milho industrializado mais estabilidade de preços, mais geração de empregos e mais arrecadação para o Estado serão gerados. Apesar da crescente demanda pelo milho mato-grossense, essa procura ainda é muito pequena diante da imensidão da produção estadual. Isso quer dizer que o espaço para o crescimento das usinas de etanol de milho em Mato Grosso é muito grande, com muito ainda a ser explorado.

Diante da proximidade da produção, atualmente tem havido, em um primeiro momento uma concentração das usinas de etanol de milho e de novos projetos da área no médio-norte do Estado. Contudo, a expectativa é que, em um segundo momento, as indústrias possam descentralizar sua atuação um pouco, considerando que haverá uma superconcentração de empresas nessa atividade em uma mesma região.

“Entendo que todas as regiões que produzem milho no Estado tem potencial de terem usinas de etanol. É um tipo de indústria que tem crescido bastante rápido e vai ocupar todas as regiões de Mato Grosso no médio prazo. Num curto prazo, especificamente no médio-norte, onde concentra 45% da produção de milho no Estado. Então, é natural que os primeiros projetos se instalem naquela região”, diz Ricardo.

 

Usinas de etanol de milho por todo o Estado

As primeiras usinas em Mato Grosso a operarem com milho para produção de etanol foram unidades flex, ou seja, indústrias de cana-de-açúcar tradicionais que também passaram a produzir o novo combustível. Foi em 2012, na cidade de Campos de Júlio, que a primeira usina, a Usimat, a partir da produção flex, passou a produzir etanol de milho no Estado. Depois vieram a Usina Libra, na cidade de São José do Rio Claro, e a Usina Porto Seguro, da cidade de Jaciara, ambas flex.

 

Atualmente tem havido uma concentração das usinas de etanol de milho e de novos projetos na área no médio-norte do Estado. Na foto, a unidade da FS Bionergia, em Lucas do Rio Verde

 

A primeira usina de grande porte “full”, totalmente dedicada à produção de etanol de milho no Estado fica em Lucas do Rio Verde, sendo a FS Bionergia, que já está construindo uma segunda planta na cidade de Sorriso e que deve entrar em operação em fevereiro do próximo ano. Uma terceira unidade da FS Bionergia está sendo iniciada. Há ainda em construção da unidade da Inpasa, na cidade de Sinop, que deve entrar em operação no começo deste segundo semestre. Esta mesma empresa, em parceria com o Grupo Etanol, está iniciando a construção de uma segunda planta em Nova Mutum. Essas duas unidades, ressalta-se, são bastante grandes.

Contudo, os projetos de usinas flex continuam florescendo no Estado. Assim está prevista a operação de uma usina flex no município de Campo Novo dos Parecis, da Etamil, do Grupo Coprodia, em fase final de construção. Vale observar que outros municípios possuem potencial para ter usinas flex, como Nova Olímpia, através da Itamarati, e Barra do Bugres, através da Barralcool, que estão planejando investir na área. Há ainda projetos de instalação de usinas nas cidades de Primavera do Leste e Campo Novo do Parecis.

Além disso, a União Nacional do Etanol de Milho (Unem) aponta que existem grupos estudando projetos no Araguaia e no Xingu e também na região de Rondonópolis, mas no médio prazo, ou seja, em um segundo momento de aproveitamento do milho, mas também como viabilidade. E tem até produtores por trás de projetos de usinas nessa área. Um exemplo é o projeto de iniciar a construção agora no meio do ano de uma usina “full” na região de Nova Marilândia/Deciolândia, onde produtores rurais formaram a empresa chamada Alcooad. A Usina Etamil, do Coprodia, também é toda formada por produtores rurais. Outro projeto originado de agricultores está sendo estruturado na região de Sorriso.

 

A riqueza gerada pelas usinas de etanol de milho

Além do etanol (anidro e hidratado), as usinas de etanol em Mato Grosso estão sendo vistas como grande otimismo devido à alta valorização dos seus produtos, como o DDG (farelo de milho), de grande aceitação no mercado de alimentação animal, o óleo de milho, que pode ser usado para ração animal ou para refino e, assim, na alimentação humana) e também na cogeração de energia elétrica.

O presidente-executivo da União Nacional do Etanol de Milho (Unem), o produtor Ricardo Tomczyk, observa que todas essas usinas de etanol de milho demandam uma geração muito grande de vapor para movimentação do processo industrial, o que pode ser aproveitado na cogeração de energia elétrica, cuja parte da produção é usada na própria indústria e o excedente vendido no sistema de distribuição de energia.

 

Construção das usinas de etanol tem gerado emprego e criado euforia econômica nas regiões onde tem se instalado. Na foto, unidade da Inpasa, na cidade de Sinop

 

Como se vê, essas usinas vem exercendo grande importância não só para os municípios que as abrigam, mas para o Estado de Mato Grosso, considerando ainda a crise financeira enfrentada. Vale observar esse ganho econômico considerando o milho, uma cultura de baixíssimo valor agregado e hoje exportado em maior parte sem agregação de valor.

Nessa nova onda, vários municípios têm recebido grandes investimentos na construção de grandes indústrias, gerando milhares de empregos tanto na parte da construção civil quanto na operação das unidades. Há ainda o incremento na arrecadação de ICMS, com um produto que antes seria exportado sem agregação de valor. Há ainda um fortalecimento de outras cadeias. No atual ritmo, projeta-se que as usinas de etanol de milho no Estado gerem em breve uma demanda de 10 a 15 milhões de toneladas de milho produzidas aqui no estado.

Segundo Ricardo Tomczyk, as usinas de etanol de milho não funcionam isoladamente, apenas com o fornecimento do cereal. Precisam de uma grande quantidade de biomassa para abastecer as caldeiras e gerar vapor industrial. Assim, cria-se oportunidades para o setor de florestas plantadas se desenvolver, bem como outros tipos de biomassa, como restos de serraria, pó de serra e até caroço de algodão e brachiária. No caso do DDG (farelo de milho), é altamente valorizado na pecuária, com garantia de expressiva produtividade para o gado.

E as perspectivas são de que esse ciclo virtuoso continuem, uma vez que inúmeras fábricas estão em construção ou em projeto, se valendo do setor de biocombustíveis em aquecimento. Um chamariz deve ser o Renova Bio, um programa de incentivo aos biocombustíveis no Brasil, que tende a fortalecer a demanda de consumo do etanol hidratado. A Unem avalia que a substituição do combustível fóssil deve ser cada vez maior, gerando oportunidade para usinas de etanol e para os produtores de milho.

 

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