O herói sem holofote

Ele não defendeu uma bola a gol como fizeram Samir e Silva, os goleiros do União Esporte Clube neste Estadual. Ele não fez um cruzamento perfeito como fizeram Calado e Leonardy neste Campeonato Mato-grossense, ele não tirou bolas que corriam risco de entrar a gol como Rodrigão, Neguete e Gabriel fizeram, não distribuiu o jogo com a categoria de Romeu, Paulo Almeida e Danilo Cruz e muito menos marcou gols importantes e decisivos da forma que fizeram Didi Cearense e Valdir Papel e muito menos comandou o time do banco de reservas como fez Everton Goiano. Mesmo sem fazer nada disso, para mim, ele foi o principal herói da conquista do Estadual deste ano pela equipe do União. Quase um mês depois do título épico, reconheço que o grande mentor dessa conquista atende pelo nome de Arni Spiering.
Gaúcho, metódico e avesso aos holofotes, foi dessa forma que ele conduziu o Colorado fora de campo para o título. Falo que ele foi herói pois tomou uma decisão que marcou a conquista do União em um momento crucial do campeonato. Em dado momento da competição, a equipe comandada por Everton Goiano despencava pelas tabelas e conseguia a proeza de perder para o Palmeiras do Porto, um time que eu cheguei a chamar neste espaço como perigoso e depois eu mesmo vi que era uma das equipes mais fracas deste campeonato, prova disso é que foi parar na Segunda Divisão ao fim da primeira etapa da competição.
O próprio presidente esbravejou, em público, quando viu o Glorioso ser derrotado pelo frágil Palmeirinhas. O desabafo dele mexeu com o brio dos jogadores que, após aquela partida, não perdeu nenhum jogo na competição.
Mas, a maior decisão de Spiering foi tomada após a realização de uma grande reunião entre colaboradores e diretores que pressionaram o presidente a mandar embora o técnico Everton Goiano. Até mesmo o treinador havia pedido o chapéu ao presidente. Spiering, ao contrário de todos, defendeu sozinho a ideia de manter o treinador e ignorou os narizes torcidos de uma maioria absoluta.
Ele sabia que o time estava em boas mãos e sabia que o grupo poderia assimilar, de maneira negativa, a troca de treinadores. Pessoas próximas a Spiering disseram que a decisão de manter Goiano foi tomada em razão da experiência que teve anteriormente. No ano passado, Arni acatava os mais diversos pedidos e o resultado foi um fracasso histórico. O presidente teria dito, nos bastidores, que se fosse para errar queria errar sozinho e dormir com a consciência limpa. O resultado foi um acerto na mosca e, com certeza, ele não se arrependeu de nada que fez neste Estadual. Desta forma valeu a pena, no caso, manter uma convicção.