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Rondonópolis
 
 

Rondonópolis: cidade que nos encanta

Que possamos nos encantar cada dia mais com a nossa cidade, cuidar dos nossos espaços com carinho

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A pacata Rondonópolis de 1953 não possuía asfalto em suas ruas. Na imagem, a Avenida Marechal Rondon – (Foto: Arquivo pessoal)

 

Rondonópolis completa sessenta e seis anos de emancipação política, mas conta com outros cinquenta anos de organização do povoado do Rio Vermelho (10 de agosto de 1915), elevação à categoria de distrito de Santo Antônio do Leverger (1920) e depois, de Poxoréo (1938). Desde os povos indígenas, primeiros habitantes desta terra, dos goianos, os primeiros a fixar residência às margens do rio Vermelho até aos atuais moradores dos bairros mais distantes, todos têm a mesma importância na história do município.

Ao refletir sobre o aniversário da cidade, tantas lembranças perpassam a vida das pessoas que escolheram essa cidade para habitar. Fazer memória do processo de organização desse espaço geográfico é também valorizar tantas Marias e Josés que deixaram suas marcas nas estradas empoeiradas que desbravaram o sertão mato-grossense, em busca do “Eldorado”, como analisa a professora Dra. Luci Léa Lopes Martins Tesoro. O ouro sonhado não foi encontrado, mas o “Eldorado” se fez na década de 1960 com a produção do algodão, como destaca a música gravada pelo saudoso maestro Marinho Franco: “encontraram em Mato Grosso/ a flor mais bela do sertão /é Rondonópolis / Cidade colosso / Rainha do algodão”.

 

Casinha de adobe no antigo campo de pouso de aviões, no bairro Santa Cruz – (Foto: Arquivo pessoal)

 

Na década seguinte a riqueza viria com a produção do arroz, motivo pelo qual Rondonópolis se tornou a “Princesa do Leste”, época em que este jornal recebeu a denominação de “A Tribuna do Leste”. Já na década de 1980, com o processo de globalização, com a divisão do estado de Mato Grosso (1979) e a necessidade de colonização do norte do estado, a soja ocupou o palco de destaque fazendo de Rondonópolis a capital do agrobusiness e uma nova fronteira agrícola. Com a projeção da soja em nível nacional, o município passou a receber mais moradores, mais investimentos e investidores, chegando a uma população de 123.171 habitantes em 1991, conforme dados do IBGE.

Nos últimos anos, os trilhos da ferrovia imprimiram nova feição ao município e possibilitaram melhor escoamento à produção local que, conforme dados do IBGE, em 2013, contava com a produção interna bruta “em torno de 7 bilhões de reais”. Contudo, a riqueza produzida em nosso município ainda se encontra concentrada nas mãos de poucos e grande parte da população sobrevive com cerca de um salário-mínimo ou menos. Lutar por mais igualdade social ainda é um desafio.

 

Vista aérea de Rondonópolis no ano de 1954, com poucas ruas ainda – (Foto: Arquivo pessoal)

 

A pacata Rondonópolis de 1953 não possuía asfalto em suas ruas, muitas pessoas sequer possuíam um rádio para se comunicar, o telegrama era a forma mais rápida de comunicação, mas de acordo com relatos de pioneiros, prevaleciam relações de amizade e de companheirismo entre os moradores. A maior parte das casas não possuía muros e a partilha até mesmo de bens de consumo era algo normal: assistir televisão na casa do vizinho, pegar “água da rua” no vizinho de melhor condição financeira e até mesmo convidar os mais próximos para “aguar” a rua na mesma hora para evitar a poeira eram cenas comuns no cotidiano rondonopolitano. Gestos simples mas que expressavam a confiança mútua e o espírito de solidariedade que foram se perdendo no emaranhado da modernização…

Saudades daquela Rondonópolis na qual a maioria da população se conhecia pelo nome e se reunia na igreja, nos bolichos, nos armazéns, nas ruas, na feira e nas praças. Muitas mudanças aconteceram, mas Rondonópolis continua sendo um lugar acolhedor para aqueles e aquelas que buscam melhores condições de vida. Desde o início Rondonópolis tem recebido migrantes e imigrantes com o mesmo colo de mãe: japoneses, libaneses, palestinos, portugueses e nos últimos anos, haitianos, venezuelanos e tantas outras pessoas que chegaram, gostaram e aqui ficaram.

 

Desfile de 7 de Setembro nos anos 60 em Rondonópolis – (Foto – Arquivo pessoal)

 

Infelizmente, o avanço tecnológico ao mesmo tempo que encurta distâncias, separa imensamente as pessoas e reforça um individualismo sem medida. Nesse ano o IBGE estima que a população de Rondonópolis é de 232.491 habitantes, moradores da zona urbana e rural. Façamos o compromisso de renovar nosso sentimento de pertença a essa terra e aos moradores que nos acolheram e que partilham conosco o mesmo espaço. Nossos vizinhos são nossos companheiros na história da vida. Ainda é tempo de investirmos na “proximidade no mundo urbano”, como nos orienta a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil e dedicarmos mais tempo às pessoas do que aos objetos… Os objetos preenchem o tempo, mas somente o amor, o abraço, o carinho e a ternura preenchem o vazio da alma. Façamos das nossas casas espaços de portas abertas para acolher, amar e ser amados, espaços de vivência do amor. Como realça Michel de Certeau, o que “fica na memória é o vivido”

Que possamos nos encantar cada dia mais com a nossa cidade, cuidar dos nossos espaços com carinho de filhos e filhas e, assim, certamente teremos uma Rondonópolis muito mais bonita e solidária. Parafraseando o poeta e músico Olímpio Alvis possamos dizer: “Rondonópolis, eu descobri, sou teu irmão. Também corre um rio Vermelho dentro do meu coração”. Parabéns Rondonópolis!!!

(*) Laci Maria Araújo Alves é historiadora e professora doutora na Universidade Federal de Mato Grosso, hoje Universidade Federal de Rondonópolis.

 

 

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1 COMENTÁRIO

  1. Gostei da reportagem, nessa ultima foto reconheci meu tio Manoel Alves Damasceno, com sua lambreta ano 1960, ele trabalhava na oficina São João, do seu João Juvino pai do Lourenço, Antonio, Zezinho, Kincas.

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