A Universidade Federal de Rondonópolis é uma jovem senhora, cheia de sonhos e projetos para o futuro, mas desgastada por velhas relações de poder que insistem em perdurar nas concepções de gestão de seus atores.
Por algumas décadas, a UFR foi um campus da Universidade Federal de Mato Grosso e, agora, recém emancipada, continua trabalhando para se consolidar como um centro de formação de referência para o ensino superior nesta região do estado. Todavia, além de ter sido criada em um cenário político desfavorável e ter sofrido os percalços da pandemia, esta universidade tem tido uma gestão provisória com uma visão centralizadora de administração, que barganha apoio e desprestigia o tão salutar e necessário diálogo entre seus pares.
Tal postura reflete diretamente em decisões que poderiam ser tomadas de forma mais amadurecida, com espaço para a manifestação de opiniões divergentes, na busca por soluções que realmente possam aumentar a procura pelos nossos cursos, diminuir as taxas de evasão e dar visibilidade a projetos de impacto social relevantes.
Para ilustrar essas contradições, narramos aqui, brevemente, uma dentre algumas das situações que já apresentamos à reitoria da UFR, mas que não foram solucionadas e, ao contrário, estão sendo silenciadas, e refletem diretamente no gestar de boas práticas do serviço público que prestamos à sociedade.
No primeiro mês letivo deste ano, um servidor pertencente ao primeiro escalão da reitoria, ao presenciar a diretora de um dos institutos da universidade se preparando para dar uma entrevista, sobre os cursos que dirige, a uma das emissoras de televisão da cidade, interpelou-a, dizendo que esta não poderia dar entrevistas sem anuência do setor de comunicação.
No dia seguinte, este mesmo servidor encaminhou um ofício a todas as emissoras de televisão da cidade, informando que não seriam permitidas gravações na universidade sem autorização do setor do qual ele é responsável. Este ofício, além de não ter respaldo legal, não foi replicado à comunidade acadêmica, numa clara tentativa de silenciamento de manifestações públicas de diretores da universidade contrários à gestão temporária da reitoria.
Tal arbitrariedade foi denunciada (em reunião e sob forma de processo) à reitora pró-tempore, que nada fez para revogar o ofício, demonstrando-se conivente com o autoritarismo do seu subordinado. Talvez por força do hábito, este mesmo servidor esteve em manifestações antidemocráticas no final do ano passado, apoiando publicamente aqueles que perseguiram e censuraram muitos professores de universidades do Brasil nos últimos anos.
Há outros vários episódios que refletem a velha política de controle, censura e cerceamento de opiniões, como, por exemplo, o fato do mais importante conselho da universidade ser formado em sua maioria por servidores e professores ligados diretamente ao gabinete da reitoria provisória, não se realizando eleições para que outras vozes possam ser ouvidas e que votos e deliberações não sejam aparelhados nas decisões colegiadas superiores.
Este cenário demonstra a pungente necessidade de um reitorado eleito na Universidade Federal de Rondonópolis, que possa ser composto por gestores com vocação democrática e plural, que aceitem críticas e saibam trabalhar com todos, para que, dessa maneira, talvez possamos juntos transformar os sonhos da jovem universidade em realizações significativas para Rondonópolis e região.
(*) Dr. Agameton Ramsés Justino, professor do Curso de Letras/Português; Diretor Adjunto do Instituto de Ciências Humanas e Sociais da Universidade Federal de Rondonópolis.
Parabéns, Agameton. Todas as instituições republicanas têm o dever de realizar a rotatividade de poder, no mínimo a cada 4 anos. Mas, há pessoas e grupos sociais que não querem desapegar do poder e dos privilégios que ele pode conceder.