Antes de iniciar esse tempo penitencial, os fiéis desde sempre, tinham o costume, celebrando carnaval, de se despedir da vida mundana, que viveram.
O carnaval então é uma festa de se despedir da vida mundana, no sentido de: Hoje ainda podemos sentir-nos à vontade, curtir a liberdade (libertinagem). Amanhã precisamos entrar novamente no jeito. Hoje ainda reina o Rei Momo. A partir de amanhã vale novamente a ordem estabelecida, a seriedade da vida. Hoje ainda, tudo o que normalmente é proibido, é permitido. Hoje ainda posso brincar, dançar, cantar, ser alegre, posso dizer com franqueza o que penso, porque hoje ainda vale a liberdade de expressão. Posso sentir-me um folião ou um bobo de corte. Hoje ainda posso vestir-me, imitar toda a pompa de um nobre (que só me é possível sonhar), posso ser aquele que gostaria de ser. (Os desfiles das escolas de samba no Rio). Posso usar uma máscara e atrás dela me esconder. (Os bonecos do carnaval de Recife).
No carnaval o povo exterioriza o que está abafado. Carnaval é uma maneira jocosa, irreverente, em tom de brincadeira, mas também com ironia criticar a ordem estabelecida e a opressão sentida pelo povo e dizer aos poderes estabelecidos, tanto cívico como eclesiástico umas verdades que normalmente se deve calar.
Uma observação interessante: Diferente das Igrejas reformadas, que viram esta festa com reservas, a Igreja católica sempre tolerou as manifestações. Ela é humana e leva o humano a sério. Ela é capaz de dar risadas sobre si mesma e reconhecer os seus defeitos. Ela sabe que a vida presente é passageira e que no fim é Deus que reina.
Na meia noite entre a terça-feira de carnaval e a quarta-feira das cinzas os foliões ainda mascarados frequentavam as igrejas, para fazer penitência. Terminou o reinado dos foliões, recomeçou a seriedade da vida.
Ainda um esclarecimento a respeito do nome “Carnaval”. Este nome nas línguas germânicas é “Fast-nacht”. É uma junção de duas palavras. “nacht” traduzido significa “noite”, “fasten” significa “jejuar, abster-se da carne”. Fastnacht é a noite antes do início do jejum.
O nome carnaval em português, (carneval em latim) vem do latim e é uma junção das palavras “carne–levare” que significa provavelmente “levar a carne embora ou tirar a carne”. Inicia o tempo de jejum, ou uma outra interpretação: “carne-vale” significa “a Deus a carne”.
O carnaval é expressão da irreverência, do disfarce, da alegria, da exibição e da liberdade, mas também da verdade e da vontade de reassumir com seriedade a vida e voltar de todo coração a Deus.
Por Padre Gunther A. Lendbradl.
Há um possível equívoco na informação. Sabe-se que o Carnaval é um festival pagão, praticado em diversos lugares do mundo, em formas variadas, muito antes de Nosso Senhor Jesus Cristo vir ao mundo. Obviamente o festival pagão caiu no agrado popular por lhes permitir comportamentos exagerados (inúmeros). A Santa Igreja Católica tentou por diversas ocasiões reprimir a prática pagã inutilmente, quando, por volta do ano 800, passou a incorporar e simbolizar o carnaval como festa cristã, certamente para não haver uma debandada de fiéis. Resta evidenciado o suposto equívoco em dizer que trata-se o carnaval de um festival cristão em raiz.