Detenho uma coleção de mais de duas mil fotos que tirei do monumento e está enriquecida com a doação de alguns trabalhos que recebi do Valter Arantes, Rivian Dias e Roberto Barcelos, que me presentearam e os guardo com carinho.
O concurso tinha como tema a imagem do pé de ipê-amarelo florido da Praça Brasil de Rondonópolis, Mato Grosso, que era parte do conjunto de uma das sete maravilhas da cidade. Devendo ser explorada sua beleza natural, o espetáculo grandioso que merecia ser apreciado com calma, reverência e eternizado, com fotografias capturadas em 2014, e que foram avaliadas conforme os critérios de adequação ao tema, criatividade, composição, iluminação, enquadramento e harmonia, agregados ou não a outros elementos. Foi uma promoção cultural, com inscrição gratuita e participação de qualquer pessoa maior de 18 anos. Os vencedores foram: 1º Lugar – Robson Ludwig Zimmermann, 2º Lugar – Doutor José Aparecido Alves Pinto, 3º Lugar – Cleverson Soares Vilela. Eternizadas em cartão postal no tamanho 15cm por 21cm e distribuídos graciosamente aos vencedores, patrocinadores e a população.
Informaram-me que nos anos que antecederam ao concurso havia alguém molhando o ipê e isso prejudicou sua floração.
Fiz inúmeras fotos com meus filhos posando na sombra, em cima do banco, sobre a grama e o tapete amarelo-ouro que suas flores teciam ao sabor do vento, até então um vento sereno.
Curtia um fim de tarde com minha esposa no Casario, tomando suco de laranja e degustando tapioca, no dia dez de março de 2017, quando um temporal nos fez abrigar dentro do casebre. Assim que parou retornamos para nossa moradia e quando passávamos pela Praça Brasil já notamos os estragos, e jamais imaginei que presenciaria uma cena tão tacanha. O tombo de parte de um bem tombado pelo povo, reconhecido, aprovado, promulgado e sancionado por lei, foi muito triste. Ofereci ali mesmo uma prece para que a eternidade fosse o seu melhor jazigo. Despedi com uma estrofe do meu único poema premiado: “Ele nos deu a terra para viver o amor fraterno. E após a morte: o universo para ser eterno”.
O culto Túlio Silva provocou a reação do povo que gosta da contemplação do belo. Daí foram inúmeras as palavras de carinho, choro e saudades. Provocado também fiz a minha homenagem à missa de sétimo dia. Então:
Velando o Ipê-amarelo – Já era um ente/ Querido./ Um ponto frondoso,/ Florido./ Umas das sete maravilhas,/ Perfeito,/ Rejubilou/ Eleito./ Escolhido/ Em dois mil e sete./ Vergou/ Em dois mil e dezessete./ Choramos aos prantos/ Velando nosso filho,/ Numa cripta imaginária,/ O seu eterno brilho./ Uma lufada de vento/ O derrubou…/ No sétimo dia,/ Deus descansou.
A árvore contextualiza a praça e é difícil imaginar a segunda sem a primeira, mesmo não desmerecendo outras como os ipês roxos, amarelos, palmeiras, flamboyants, o coreto, a herma do marechal, o monumento Seriema, de Valcides Arantes e, Progresso, de Thiago Alencar, o paisagismo, a arborização e os arredores, como a Escola Estadual Marechal Otávio Pitaluga – EEMOP, o Museu Rosa Bororo, a Paróquia Sagrado Coração de Jesus – Igreja Matriz. Fica parecendo à maçã da Apple, mordida e faltando um pedaço. Falta o complemento da quarta maravilha de Rondonópolis, escolhida com 7,85% dos votos, numa ação histórica do jornal A TRIBUNA.
Agora é o vereador Adonias Fernandes quem conclama os rondonopolitanos, sem xenofobia, a construírem alguns poemas para transformar num livro, quando fará um concurso, e dar ao povo uma lembrança palpável para que possamos velar melhor o nosso pé de ipê famoso, porém vergado, mas que nenhum vento o levará dos nossos corações.
(*) Hermélio Silva é escritor e membro fundador da Academia Rondonopolitana de Letras, cadeira número 6
