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Viúvo

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gabriel novis neves - opiniao - 27-01-12

Há alguns anos me encontro neste estado civil. A viuvez para quem fica acarreta sentimentos de insegurança e desamparo. Apesar de terem se passados alguns anos da minha perda, não consegui assimilar muito bem meu luto. Encontro-me ainda em período de ajustamento em muitos aspectos da minha vida. O pior deles, sem dúvida alguma, é a solidão. Creio mesmo que ela irá me acompanhar para todo o sempre. Com o tempo fui forçado a aprender a lidar com as solicitações que a realidade, no funcionamento cotidiano, me apresentava. Inclusive, e principalmente, com a estrutura doméstica.
No nosso antigo sistema de organização social, o marido geralmente era o provedor e a mulher a executiva dos trabalhos domésticos. Nos tempos atuais a mulher está cada vez mais presente no mercado de trabalho. As tarefas domésticas, então, são muitas vezes compartilhadas com o esposo. No entanto, sou da época antiga e fui traído pela ausência prematura da minha mulher. Quanta coisa eu tive de aprender! Com grandes dificuldades fui me adaptando ao meu novo e assustador estilo de vida. Isso me fez valorizar ainda mais o papel feminino na vida da família e os trabalhos domésticos.
Não é fácil administrar uma casa! Não possuía nenhuma noção de tão complexa é essa tarefa. São tantos detalhes no gerenciamento de um lar, que só o destino – professor de causas impossíveis – foi capaz de me ajudar. Após nove anos de muitas tentativas de acertos, motivadas pela inexperiência e solidão, parece que estou começando a aprender a difícil arte das lides domésticas. Sem falar, é claro, que tive de aprender a tomar conta de mim mesmo, tomar minhas decisões e superar as dificuldades.
Sabia ser o trabalho caseiro de grande valia na vida de uma família, mas, não tinha ideia da dimensão da sua complexidade. O tempo é o melhor aferidor sobre tudo que realizamos. Com erros e acertos caminhamos, e agora, quase no final da linha exercemos – não com a mesma eficiência – o trabalho outrora exclusivo da grande ausente. Viúvo é aquele que fica na face da Terra na solidão da multidão, sujeito aos embates não agradáveis do nosso cotidiano, sem a parceria no momento das decisões do dia a dia. A presença da ausência é o único legado para quem fica.

(*) Gabriel Novis Neves é médico em Cuiabá e foi reitor da UFMT

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