Lutar contra a própria natureza é tarefa das mais árduas e, nesse sentido, parabenizo o povo sofrido por se insurgir contra os desmandos e a exploração vigentes. No entanto, lamento a forma como alguns protestam, voltando-se contra outros pares (imersos em igual sofrimento), projetando-lhes toda a ira que deveriam canalizar de modo construtivo para despertar a consciência de tantos adormecidos.
Não é depredando lojas nem destruindo o patrimônio público que iremos alcançar nossos objetivos. Penso que não é justo destruir o que alguém construiu só para extravasar revolta e dor acumulada por anos de exploração consentida. É preciso haver uma mudança na mentalidade do povo, e tomara que isso esteja ocorrendo mesmo; mas temo que seja somente um espasmo de incômodo que não levará a uma real modificação de hábitos já arraigados e largamente praticados entre as pessoas do nosso país.
Desde que sou pequena presencio feirantes e pessoas do comércio praticando pequenos “equívocos” na hora da pesagem, no estabelecimento do preço e do troco. Também percebo funcionários levando para casa materiais de trabalho num visível “empréstimo sem devolução” ao patrão; também vendedores e viajantes fraudando notas de refeições e abastecimento em postos de combustíveis… É assim ou não é?! Como age o povo brasileiro? Fica fácil entender porque nossos líderes políticos se comportam de igual forma só que em maior escala. A procedência é a mesma, o pensamento é o mesmo: levar vantagem; assegurar o meu a custa da exploração e enganação do outro. Óbvio, não?
Quer mudar o país? Comece mudando a si mesmo! Seja mais honesto, humano, solidário. Seja responsável, verdadeiro, íntegro. É difícil? Lógico que é! Mas, educando seus filhos assim, terá chance de construir um país melhor para os seus netos e bisnetos. E o que vai nos restar hoje? Isso que estamos vendo na TV. O resultado da nossa omissão, aquiescência, conformismo, acomodação e tolerância pessoal ou coletiva. Puxa; não sabia que ia dar nisso! Que pena, não é mesmo? Às vezes, a gente tem de sentir na pele o efeito do nosso cruzar de braços quando há tanto a ser feito.
Vamos recolher muitos cacos; mas, quem sabe possamos aprender o valor de uma boa educação, respeito, honestidade e amor ao próximo. Deixemos de lado a passividade e a inércia que nos acompanham há anos e anos. Lutemos por um Brasil melhor, mas tendo consciência que mudar o país implica em mudar a nós mesmos. E que Deus nos ajude!
(*) Maria Regina Canhos é escritora – e.mail: [email protected])