Tenho sido convidado para conversar com professores e jovens que estão no final do ensino médio, sobre o futuro do perfil profissional e a formação preferencial para aqueles que visam ingressar numa universidade. De modo geral, há uma preocupação indelével dos pais e, por consequência, dos próprios adolescentes para que escolham assertivamente os seus respectivos cursos e, além disso, ou com ele, sejam felizes como seres humanos.
Normalmente, são duas responsabilidades que vão além das capacidades disponíveis aos jovens nesta fase da vida. Decidir o futuro sem um adequado juízo de valor sobre as nuances das profissões e mesmo sobre o perfil inerente aos profissionais de destaque, independente da profissão, é uma das tarefas mais árduas do ser humano.
Uma das questões relevantes é que a dinâmica de universo que nós construímos parece que nos aprisionou num círculo vicioso e está nos obrigando a decidir, cada vez mais cedo, sobre o que e como seremos no futuro, como se isso fosse uma decisão que dependesse apenas de nós.
Primeiro, devemos ter em mente de que podemos escolher os objetivos e até mesmo o caminho, mas frequentemente o destino, de modo caprichoso, coloca obstáculos ou mesmo oportunidades que fazem nossas escolhas, antes difíceis e dolorosas, parecerem em determinados momentos, burlescas, ou ao menos hilárias.
Em segundo, de que mais importante do que a formação acadêmica específica, a parte do sucesso profissional que depende de nós, está muito mais vinculada ao nosso perfil pessoal, notadamente à dedicação, empenho e às capacidades de adaptação, liderança e dinamismo, do que à escolha, muitas vezes prematura, desta mesma formação.
É lógico que a vocação inerente às aptidões humanas tem um peso fundamental nessa escolha, e deve antes de tudo ser observada, uma vez que representa o mínimo de lógica num ambiente antes cercado por achismos onde o principal fator de decisão era o curso da moda ou aquele mais propalado pela mídia.
É óbvio que muitas profissões requerem empenho e qualidade técnica que, por sua vez, exige anos a fio de experiência, mas boa parte dos profissionais de sucesso (o próprio termo é subjetivo, porque afinal, o que significa ter sucesso?) não necessariamente o são pela sua formação específica, e sim pela sua capacidade individual de se adaptar e captar as informações do ambiente e então se dedicarem com afinco superior para que sejam excelentes em suas atividades.
Outros dois aspectos são preponderantes e que estão associados à formação acadêmica. A primeira é o espaço temporal para o qual esses futuros profissionais pretendem se preparar e a segunda é o espaço geográfico de atuação.
Dito de outro modo, tenho percebido que os adolescentes e os próprios pais, normalmente e evidentemente sem culpa, procuram realizar a formação dos seus filhos com foco no ambiente que está e não naquele que será, quando estes entrarem definitivamente no mercado.
Na prática é como disparar um míssil num alvo que está em movimento, mas considerá-lo como se estivesse parado. Quando o míssil chegar ao pretenso alvo, ele já não estará mais lá.
Em relação ao espaço geográfico, é importante que todos tenham claro de que é necessário ampliar a visão de mercado presente e futuro. Significa que a formação deve antes de tudo se ater a capacidade de entender, e de forma rápida, o que ocorre no ambiente, dando oportunidade para que, independente de sua formação, o profissional seja capaz de atuar onde a oportunidade apareça.
Neste particular, a diversidade experiencial dos profissionais anda muito valorizada no mercado, e se os pais ou os próprios adolescentes tiverem desprendimento para estimular a aprendizagem de modo a experimentar realidades diferentes desde cedo, mais fácil será, no momento de escolher o local onde este exercitará a sua profissão ao sair da faculdade à procura de ocupação para o seu cérebro-obra.
Boa semana de Gestão & Negócios.
(*) Eleri Hamer escreve esta coluna às terças-feiras. É Diretor de Relações com o Mercado do IBG, professor e palestrante – [email protected]
