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Rondonópolis
, 13 maio 2024
 
 

Haitianos já fazem parte do cotidiano da cidade

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Grupo de haitianos que escolheu a cidade de Rondonópolis na esperança de uma vida melhor – Foto: Denilson Paredes

Uma cena muito comum no cotidiano dos rondonopolitanos é se deparar com imigrantes haitianos nas ruas, filas de mercado e em outras situações. Afinal, a migração deles para o Brasil é considerada o maior fluxo migratório da última década e foi intensificada logo após o grande terremoto que devastou o Haiti, no início do ano 2010 e que matou mais de 300 mil haitianos. Com as cidades e sua economia em frangalhos, grande parte da população mais jovem se viu obrigada a deixar o país em busca de oportunidades, tendo o Brasil como um dos seus principais destinos, sendo que muitos deles acabaram por se estabelecer em Rondonópolis.
Não há dados atualizados e precisos, mas de acordo com dados do Sistema de Tráfego Internacional (STI) da Polícia Federal, 72.406 haitianos entraram pelas fronteiras brasileiras entre 2010 e 2015. Estudos da Fundação Getúlio Vargas (FGV), feita com os haitianos, mostra que a escolha do país como destino não foi aleatória e se deve principalmente ao contato que já mantinham com os brasileiros da Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti (MINUSTAH). Nessa escolha, Rondonópolis é alvo frequente devido à localização em um importante entroncamento rodoviário do País.

Haitiano Jacques LeDolphin: “Tem brasileiro que trata a gente de boa e tem brasileiro racista também, mas nunca teve violência não” –
Foto: Denilson Paredes

Em sua maioria calados ou de poucas palavras, talvez em parte por conta da dificuldade com o manejo da língua portuguesa, os imigrantes haitianos demonstram serem pessoas alegres quando reunidos em grupo, mas ainda reticentes quando interpelados por brasileiros, deixando claro com suas palavras e ações que vieram atrás de trabalho, coisa escassa em seu país, e assim poder ajudar a manter a família.
Um dos casos típicos é o do haitiano Jacques LeDolphin, 26 anos, solteiro, mas pai de dois filhos, que chegou no Brasil em 2015 e veio direto para Rondonópolis, por conta de seu pai já ter vindo antes para a cidade, ainda em 2013. Hoje, ele trabalha em um grande frigorífico na cidade, manda regularmente dinheiro para a família no Haiti e diz não ter planos de voltar para o país de origem, mas se fixar de vez por aqui.
De acordo com ele, nos seus primeiros dias aqui, passou por situações constrangedoras, por conta da língua e do preconceito, que, segundo ele mesmo, existe de forma geral. “Todo lugar que a gente passa tem… Tem brasileiro que trata a gente de boa e tem brasileiro racista também, mas nunca teve violência não. Mas eu gosto muito do Brasil e na minha cabeça eu penso em trazer meus filhos e minha mãe para morar aqui também”, disse, ainda com o sotaque carregado de estrangeiro.
Enquanto trabalha e envia dinheiro para ajudar ao filho, a mãe e a avó, Jacques mata a saudade da família e amigos pela internet, mas ele já se mostra completamente integrado na cidade, tendo inclusive uma namorada brasileira.
Outro que já está razoavelmente adaptado ao Brasil é Yderson Richard, de 30 anos, que já está há cerca de um ano em Rondonópolis e que deixou esposa e uma filha no Haiti. “Eu agora pretendo trazer eles daqui a um ano para morar comigo. Eu gosto muito do Brasil”, declarou.
Questionado sobre se já sofreu com o preconceito na cidade, ele respondeu com ar de desconfiado que já foi vítima, mas demonstra que não deu maior importância para o fato. “Já sim, mas está tudo bem”, disse, dando por encerrado o assunto, mas deixando no ar que o tema o deixa desconcertado.

Imigrante Magali Aristides: “Eu me sinto bem no Brasil e o único problema mesmo é que ainda consegui encontrar um emprego. Mas eu espero. Quero ficar aqui” – Foto: Denilson Paredes

Já Magali Aristides, de 43 anos, casada, deixou um casal de filhos no seu país de origem e veio com o marido para o Brasil há cerca de um mês tentar a sorte e já fazem planos de trazer o resto da família. “A gente veio para cá porque tem filhos e não estava trabalhando lá, não conseguia trabalho. A gente tem que trabalhar, conseguir um emprego para trazer eles para cá”, disse, com a ajuda de um amigo haitiano que já está há mais tempo no Brasil e que a ajuda a encontrar as palavras certas no português.
Aqui, ela se reúne com outros imigrantes haitianos para conversar e treinar as primeiras palavras em português, enquanto está à procura de um emprego como vendedora, o que pretende encontrar nos próximos dias. “Eu me sinto bem no Brasil e o único problema mesmo é que ainda consegui encontrar um emprego. Mas eu espero. Quero ficar aqui”, concluiu.
O Haiti é um país caribenho, onde se falam quatro idiomas, sendo os principais o crioulo, língua nativa dos haitianos, e o francês, que herdaram dos colonizadores franceses, ambos com pronúncias completamente diferentes do nosso português, o que se torna uma das grandes dificuldades apontadas pelos imigrantes no seu processo de adaptação em terras tupiniquins.

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