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Psicólogo alerta para a prática da automutilação entre jovens

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Antônio Lima alerta que apoio emocional resulta em saúde mental para os adolescentes – Foto: Deivid Rodrigues

O índice crescente de automutilação – o “cutting” – entre jovens e adolescentes em Rondonópolis, surpreende pais e professores e causa preocupação na comunidade escolar. O psicólogo e psicoterapeuta Antônio Marcos Lima Vieira alerta que a prática é um problema de saúde mental que precisa, com urgência, da atenção dos pais e do olhar responsável do Poder Público. Ele defende a implantação de programas de prevenção e a presença de psicólogos dentro das escolas.
A demanda registrada no consultório e também nas escolas onde atua voluntariamente, avalia Antônio Lima, é apenas uma pequena parcela da incidência alta de automutilação que acontece entre a população jovem de Rondonópolis. A maioria dos casos é na faixa etária entre 13 e 16 anos e, praticada principalmente pelas meninas. Um índice menor é referente a jovens e adultos.
Nos casos de adolescentes, Antônio Lima observa que muitas vezes, os pais deixam de buscar tratamento psicológico por não quererem levar o caso adiante e, com isso, impedir que essa informação chegue a outras pessoas. “As escolas estão gritando socorro pelo número de casos que surgem e, os pais pensam que têm de resolver o problema dos filhos estarem se cortando entre eles”, observa.
A falta de entendimento da gravidade do cutting, na avaliação do psicólogo, está presente também nas escolas. Ele conta que desde os tempos que atuava como estagiário já identificava a incidência de automutilação dentro das escolas. E ouvia alguns professores classificarem o fato como ‘modinha’ entre os adolescentes. “Não é modinha! Esses adolescentes precisam expressar o sentimento e, em casa não tem isso. Aí quando chega a história, a bomba, os pais dizem ‘ah, o meu filho está se cortando, mas eu dou tudo para ele’. Realmente, dá presente de Natal, um feliz aniversário, mas a presença não tem”, alerta.
Além da ausência e falta de atenção dos pais, Antônio Lima associa a automutilação ao bulling e a relato de outros jovens pela internet. Ele explica que a dor emocional é tão forte, nesses casos, que o adolescente provoca a dor física com a automutilação para tentar sufocar o sofrimento emocional. Os sentimentos que levam os adolescentes a optarem pela dor física na expectativa de superar a confusão que está na cabeça, segundo Antônio, estão relacionados ao processo de transição da infância e a juventude – incrementada pela explosão de hormônios e a autoafirmação.
“Nessa fase, os adolescentes acham que sabem de tudo e os pais não sabem de nada. Quem serve de exemplo é o amigo. É uma fase difícil, em que eles vivem o primeiro amor e querem se autoafirmarem, serem os donos do mundo. E é onde nasce o perigo. Eles participam de um mesmo grupo e, entre eles, acham que isso é correto. Mas, o que leva a isso é a falta de estrutura familiar”, aponta.
O psicólogo diz que o fortalecimento emocional de jovens e adolescentes depende de uma base sólida no seio familiar. “Todo adolescente que traz um problema para dentro do consultório, a origem dele está na base, infelizmente. É o pai e a mãe, quem cuida deles que não está ao lado para orientar, dizer que eles vão passar por essas transformações. Outra coisa: tem muita família que não frustra a criança. Quando chega na adolescência, essa criança não vai conseguir reagir a uma frustração simples, como um insulto. Essa criança não está tendo apoio emocional. Falta amor, falta limites e aí, quando os pais se dão conta, essa criança está se cortando, está tentando suicídio, porque querem fazer tudo de uma vez e não conseguem”, explica.
REAÇÃO DOS PAIS
Antônio Lima conta que muitos dos pais só decidem impor limites aos filhos depois que descobrem que esses adolescentes estão praticando a automutilação. E alerta que este não é o momento. “Muitos decidem que vão tirar o celular, o tablet quando descobrem que os filhos estão se cortando. Gente, o momento não é esse! O momento agora é de acolher esse adolescente, dar apoio, dizer que vai ficar junto com ele, em tudo que está passando”, orienta.
Os adolescentes que praticam automutilação, conta o psicólogo, geralmente adotam estratégias para esconder os cortes. Ele diz que é comum fazerem os cortes em locais que ficam sempre cobertos pelas roupas, como coxas, ou adotarem o uso de acessórios para esconder. Geralmente usam muitas pulseiras para ocultar os cortes no pulso.
ESTATÍSTICAS
A incidência de automutilação apresenta números preocupantes. Antônio Lima conta que as estatísticas apontam que mais de 20% população de adolescentes e jovens no Brasil praticam a automutilação. Ele cita levantamentos da Hospital das Clínicas em São Paulo, onde os casos de automutilação superam os de suicídios e drogas e, alerta que a automutilação não tem distinção social. A solução, reforça o profissional, é o fortalecimento emocional desses jovens e mais orientação para os pais.
REPERCUSSÃO
A repercussão do crescente número de casos de automutilação levou alguns ídolos de adolescentes a recorrerem à mídia e as redes sociais para dizer que passaram por dramas semelhantes e conseguiram superar. Antônio Lima conta que o ator Johnny Depp revelou que teve dificuldades para lidar com problemas familiares durante a juventude, especialmente com o divórcio dos pais. O astro confessou ter praticado automutilação.
Outro caso de famosos apresentado pelo psicólogo é o da estrela teen Demi Lovato que, aos 17 anos, foi internada por cometer automutilação, além de se envolver com drogas. Ela diz que começou a se mutilar com 11 anos e revela que era uma forma de expressar a vergonha que tinha dela e do próprio corpo. A jovem conta que sofreu muito bullyng e agora fala abertamente sobre isso para tentar ajudar o público de fãs que enfrenta problemas parecidos.


Profissional aponta um caminho

Coracy Lima
Especial para o A TRIBUNA

Antônio Lima aponta como principal medida, capaz de amenizar o problema, a adoção de políticas públicas que levem programas de saúde mental para dentro das escolas. Ele defende a necessidade de se ter um psicólogo dentro de cada escola, com a missão de ouvir o aluno e ajudá-lo a superar as dores emocionais. É fundamental que tenhamos políticas públicas de promoção da saúde mental dentro das escolas. Com isso, vamos poder trabalhar o emocional dessas crianças”, defende.
O psicólogo alerta que é preciso quebrar o tabu de que ‘não se deve falar sobre temas como automutilação e suicídio com os jovens’. Ele entende que é necessário e fundamental falar, para conscientizar, mostrar caminhos de solução para os problemas emocionais e prevenir essas práticas. Ele lembra que o mês de janeiro é dedicado à campanhas neste sentido. É o Janeiro Branco. “Falar sobre saúde mental gera saúde mental”, alerta.
Antônio Lima defende ainda que é necessário incluir os pais nos programas de saúde mental dentro das escolas, para orientá-los sobre como lidar com os filhos adolescentes e, com isso, conseguir fazer a prevenção a partir da família. Ele já oferece palestras gratuitas de conscientização e informação dentro das escolas.
Na avaliação do psicólogo, as dores emocionais que levam os adolescentes a práticas como a de automutilação é a ausência dos pais, consequente da correria de homens e mulheres que trabalham a semana inteira e, diante do cansaço, deixam de promover o entrosamento familiar que pode acontecer, naturalmente, nos passeios ao ar livre e tantos outros entretenimentos nos fins de semana e horas de folga. “Os pais precisam priorizar o tempo de estar com os filhos, ouvi-los e saber o que estão sentindo. Isso é fundamental para garantir saúde emocional de crianças e adolescentes”, recomenda.
A recomendação do psicólogo para os pais é a de “desacelerar” e acompanhar de perto a vida dos filhos. Interessado em conscientizar alunos e professores e atuar na prevenção da automutilação, Antônio Lima oferece palestras de graça nas escolas. Ele conta que muitas vezes se ausenta do trabalho para atender a demanda das comunidades escolares neste sentido. E diz ouvir os alunos reclamarem que os pais não lhes dão atenção.
Psicólogo e psicoterapeuta, Antônio Lima já ingressou num curso de pós-graduação em diversidade e educação inclusiva da UFMT que deve lhe preparar ainda mais para atuar no consultório e também junto às escolas e, ajudar o público adolescente a superar problemas emocionais. Ele integra a equipe de psicólogos que atuam no Projeto Arco-íris implantado na Escola Estadual André Maggi.

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