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“Falta muito, mas Rondonópolis promete muito”

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A série de entrevistas com pioneiros de Rondonópolis segue hoje com a enfermeira e pedagoga Maria de Lourdes Nunes Matos. Moradora na cidade há 45 anos, a pioneira fala de suas memórias em Rondonópolis. Vale informar que a série Pioneiros, do Jornal A TRIBUNA, encerra hoje o seu primeiro ano, com grande sucesso e com a perspectiva de continuar retratando e valorizando em 2018 aqueles que ajudaram a construir a Rondonópolis de hoje. Confira a história deste fim de semana:


Maria de Lourdes: “Construímos aqui mais do que minha ambição desejava” – Foto: Denilson Paredes

Moradora antiga e pioneira na área da educação na cidade, a enfermeira e pedagoga Maria de Lourdes Nunes Matos, hoje aos 71 anos, é natural do distrito de Maria da Fé, região de pecuária no sul do estado de Minas Gerais, filha de lavrador que sustentava a família com o que obtinha do trabalho em sua pequena propriedade. Ela e o marido, o dentista Ari Ferreira de Matos, já falecido, chegaram em Rondonópolis no ano de 1973 e aqui construíram sua família e sua vida.
A professora começou seus estudos na roça mesmo, numa época em que era muito comum que, após os primeiros estudos, as mulheres voltarem para seus lares e se dedicarem a afazeres domésticos, mas seu espírito inquieto a levou a continuar os estudos. Ela foi para Itajubá, ainda em Minas, onde se tornou auxiliar de enfermagem, graças a uma bolsa de estudo que ganhou de freiras católicas.
Aos 20 anos, foi trabalhar em Pindamonhangaba, no Vale do Paraíba, na divisa com São Paulo, onde conheceu o homem que viria a ser seu esposo, na época estudante de segundo grau, com quem se casou depois de cinco anos de namoro. Após o marido se formar em odontologia, ambos foram contratados pelo Exército Brasileiro, por meio do coronel José Meirelles, para trabalharem como profissionais de saúde na obra de construção da rodovia BR-163, que liga Cuiabá a Santarém, e vieram inicialmente morar em Cuiabá, indo logo em seguida para o acampamento construído no trecho da grande obra, convivendo com os mosquitos e a malária que atacava os trabalhadores.
Depois de quase dois anos no acampamento, com o avanço das obras, o casal resolveu se fixar no estado e a cidade escolhida para começarem a nova vida foi Rondonópolis, muito por conta da maior proximidade com os estados do Sudeste, onde ficaram os parentes de ambos.

A pioneira Maria de Lourdes e seu marido, o dentista Ari Matos, quando a mesma esperava a primeira filha – Foto: Arquivo Pessoal

Os primeiros tempos
O início na nova cidade, onde chegaram no ano de 1973, não foi fácil, pois assim que retornaram de Campo Grande (MS), onde foram comprar os equipamentos para a montagem de um consultório odontológico na cidade, o casal sofreu um acidente de carro e Ari Matos se machucou com gravidade, levando mais de um ano para se recuperar completamente, período em que sua esposa precisou lhe dedicar cuidados exclusivos.
Após esse percalço inicial, o casal instalou o consultório, um dos primeiros da região, e aí começa efetivamente sua história na cidade. “Nós alugamos primeiramente uma casa da dona Cida, mãe da (ex-deputada) Teté Bezerra. Eu lembro até hoje como de tarde ventava e as ruas, todas de terra ainda, ficavam cobertas de poeira. Isso invadia as casas, que também não eram forradas naquela época e ficava tudo coberto pela poeira. Foi um tempo muito difícil, mas também foi muito bom, pois éramos muito unidos”, conta, nostálgica.
Na cidade, tiveram um casal de filhos, Ariadne, bióloga e perita criminal, e Arilson, também odontólogo como o pai, o que limitou seu tempo e a impediu de continuar na profissão de enfermeira, por conta dos longos plantões, muitos deles noturnos. “Eu cuidei das minhas crianças até a minha filha entrar no primeiro ano e o menor entrar no pré-escolar. Aí fui fazer magistério no colégio Sagrado Coração de Jesus, entrando em seguida no curso de Pedagogia na UFMT, onde me formei em 1986 e comecei a dar aula como professora concursada do Estado”, lembrou.
A primeira experiência como professora foi na escola Dom Wunibaldo, onde lecionou para as séries iniciais por cerca de um ano e meio, indo em seguida trabalhar na antiga Delegacia Regional de Educação e Cultura (DREC), ficando por pouco tempo, por preferir o trabalho em sala de aula. “Eu não me senti bem com o trabalho administrativo. Eu dizia para os colegas que o que queria era sentir o cheiro dos alunos, principalmente depois do recreio, que ficam todos com um cheirinho muito bom”, disse Maria de Lourdes.
Ela então se integrou ao quadro da escola Santo Antônio, que estava em formação na época, onde permaneceu por vinte anos lecionando e auxiliando na administração da unidade escolar, até se aposentar no ano de 2007. “Eu amei muito as minhas duas profissões, a enfermagem, onde aprendi muito sobre ética e doação. Na educação eu terminei de me completar, pois a educação também é pura doação”, afirmou.
No ano em que se aposentou ela concluiu um curso de psicopedagogia, mas não tinha mais a pretensão de retornar para as salas de aula, pois desejava novos desafios. Surgiu aí a oportunidade de trabalhar com a formação teórica de novos motoristas, prestando serviços para o Detran. “Eu gostei muito desse trabalho, pois com ele eu podia passar minha mensagem de valorização da vida para esse futuros motoristas, porque era isso que a gente ensinava para eles: como valorizar a sua própria vida e evitar envolver outras vidas em acidentes. Me senti uma privilegiada por poder ter feito isso”.
Como a vocação de educadora sempre foi muito forte na sua personalidade, a professora aproveitou a oportunidade para também ir até as escolas ensinar noções de trânsito para estudantes e professores.

Foto de sua formatura em Pedagogia, já no campus da UFMT de Rondonópolis, em 1986 – Foto: Arquivo Pessoal

Assim que deixou de ensinar teoria para novos motoristas, decidiu se dedicar às artes plásticas, para em seguida começar com o corte e costura “para fazer roupas para os netos”, hobby que mantém até hoje, tendo em um dos cômodos de sua casa um ateliê de costura, onde costuma passar horas costurando e ouvindo sua coleção de CD’s de músicas clássicas, herdadas do marido, já falecido. “Eu gosto de ouvir música de outra época. As músicas que tocam hoje judiam muito da gente, são muito apelativas. Eu consigo até gostar de algumas melodias, mas as letras eu não gosto, prefiro as minhas clássicas. Não nos fazem crescer”, diz, criticando a atual geração de cantores que fazem sucesso nas mídias.
Seu marido faleceu aos 57 anos, no início dos anos 2000, vítima de um aneurisma na aorta abdominal após uma pescaria que tinha feito com o filho. Dele, a professora diz ter as melhores recordações possíveis. “Para mim, como esposa, foi uma pessoa perfeita. Foi uma âncora, um porto seguro. Eu convivo com ele até hoje no meu dia a dia, eu trato a situação como se ele estivesse simplesmente viajando. Não tem nada que o substitua. Ele gostava de se informar, amava muito os filhos. Era uma pessoa simplesmente admirável”, declarou, claramente emocionada.

O futuro
Sobre a Rondonópolis, ela diz sentir certa nostalgia ao se lembrar da pequena e pacata cidade de outrora, mas afirma preferir a cidade movimentada de hoje, devido ao maior conforto que pode oferecer aos seus moradores. “Nesse 63 anos, como não poderia deixar der ser, a cidade evoluiu muito, melhorou em todos aspectos mas, no meu entender, os nossos gestores ainda não conseguiram construir uma infraestrutura digna da cidade. Nós ainda carecemos de muita infraestrutura habitacional, de saneamento básico, por exemplo. A saúde é outra situação traumática. Temos uma boa estrutura, mas falta gestão. Já tivemos muito avanços, mas falta que os novos gestores deem continuidade nas obras de seus antecessores. Falta muito, mas Rondonópolis promete muito”, pontuou.
Mesmo sendo crítica quanto aos problemas, a pioneira se declara seu amor pela cidade que escolheu para construir sua vida e sua família. “Não é por causa dos problemas que eu poderia dizer que não gosto da minha cidade. Eu fiz minha vida aqui, tive meus filhos aqui, fui muito feliz aqui, construí muitas amizades. Construímos aqui mais do que minha ambição desejava e tenho muito amor e orgulho da cidade que vi crescer diante dos meus olhos”, concluiu Maria de Lourdes.

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1 COMENTÁRIO

  1. Parabéns querida professora! A antiga Rondonópolis está escrita em cada cantinho dessa nova cidade. Tem muitas marcas da senhora por aí. Abraços!

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