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, 25 maio 2024
 
 

Professor analisa a conjuntura política e destaca nomes em Rondonópolis

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Professor Plínio José Feix, mestrado e doutorado em Ciências Políticas – Foto: Roberto Nunes/A TRIBUNA

O professor lotado no departamento de História do campus local da Universidade Federal de Mato Grosso, Plínio José Feix, mestrado e doutorado em Ciência Política pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), fez uma análise para o jornal A TRIBUNA sobre a atual conjuntura política no âmbito nacional e os seus reflexos no Estado de Mato Grosso e Rondonópolis, destacando os nomes com potencial para futuras candidaturas. De acordo com o estudioso político, ainda não há uma definição conclusa sobre os acontecimentos dos últimos quatro anos e os seus reflexos sociais.
“É uma situação muito complexa, pois são muitos fatores a serem analisados para tentar compreender que conjuntura política é essa, inclusive sobre o que vai dar isso, ainda mais com as eleições gerais do ano que vem quando serão eleitos deputados estaduais, federais, senadores, governadores e o presidente da República. Mas a partir do aspecto histórico, que julgo importante, o Brasil nunca foi concebido prioritariamente como nação, ou seja, constituíram um povo que seria o dono do país, com a esperança de ser beneficiado com os recursos naturais e riquezas do Brasil. Mas como conta a história, não foi isso que aconteceu. Desde o Brasil colonial, foi sempre as elites que dominavam. Os coloniais da elite já chegaram para saquear o país. Mesmo a partir da independência, que foi nada mais do que um acordo negociado, sempre uma elite muito reduzida dominou o país. O Brasil já começou nas mãos da elite e continua nas mãos dela”, resgata o professor de história e doutor de Ciência Política.
Ele cita que no livro “Os Dono Poder, de autoria de Raymundo Faoro que foi um jurista, sociólogo, historiador, cientista político e escritor brasileiro, escrito em 1958, já falava que esta elite também foi liderada por Dom Pedro I, o qual destituiu os constituintes por perceber que a constituição não estava indo na direção que ele queria, pois, na verdade, almejava uma constituição importante primeiramente para ele e depois para o país. “Na verdade o autor diz em seu livo que esta elite se pôs acima do Estado e sociedade. E isso vem se mantendo até a data de hoje. São vários grupos de elite que disputam o poder, e para a população só restavam as migalhas. Até o século passado, a economia era totalmente agroexportadora, os donos das terras era a elite que estava no poder. Depois veio a industrialização com Getúlio Vargas, começou com ele dando uma mão para a elite agrária e outra para classe burguesa industrial emergente, por isso, já naquela época não surgiu a reforma agrária, uma legislação rural, pois eram tudo acordos. E até hoje funciona desta forma, são acordos políticos e econômicos. Se observamos hoje quais são as elites mais importantes, iremos perceber que ela tem seus representantes no Congresso Nacional, que são os representantes do agronegócio. Esta elite nunca teve como compromisso prioritário em desenvolver o país como uma nação justa, com integração da sociedade no usufruir das riquezas do Brasil, por isso, temos tantas desigualdades sociais. Este é um aspecto importe a ser destacado para esclarecer a atual política e economia da nação”, revela Plínio Feix.

O golpe

Conforme o professor, entre os anos de 2002, ano da primeira vitória à Presidência da República, do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva, e 2016, ano em que a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) foi destituída do cargo, foi o período histórico em que se houve uma tentativa de pensar o Brasil de outra forma fora das garras da elite, com a integração da sociedade, ou seja, a redução dos pobres.
“Foi um trabalho limitado dos petistas, pois ainda a elite permaneceu muito forte e Lula não conseguiu avançar mais, principalmente na estrutura econômica. O impeachment de Dilma surgiu para barrar esta tentativa de enfraquecer o poder da elite, pois Lula ao deixar o poder depois de dois mandatos,escolheu Dilma justamente porque avalia a petista muito mais ideológica, sendo muito mais de esquerda. Ele mesmo disse que arrumou a casa para a sucessão ser de um presidente mais a esquerda,comprometido com as reformas mais profundas, mas tendo em vista mais igualdade social. No entanto, a elite que não é boba, já começou a inviabilizar a eleição de Dilma no primeiro turno fazendo de tudo para não reelegê-la, mas ela conseguiu, porém, depois veio o impeachment. Sempre ouve no Brasil um projeto de esquerda e de direita. Aquilo que se alegou para retirar a Dilma do poder foi irrisório. Qual o governo que não comete pequenas irregularidades? Se eles adotassem este critério para todos, não sobraria ninguém nem mesmo o presidente Michel Temer (PMDB), agora com várias denúncias contra ele”, avaliou.
Conforme o professor, os poderosos empresários e investidores provocaram o enfraquecimento da economia do Brasil, sendo este o ponta pé inicial do impeachment que viria mais tarde. “Com Dilma presidente, a primeira crise foi econômica, uma vez que, os grandes investidores pararam de investir dado a direção política. Pararam de investir por estratégia de criar uma crise para desgastar a Dilma e a esquerda, afim de, votar o projeto neoliberal que foi interrompido ainda na eleição do Lula em 2002. Essa questão do Brasil está ligada à toda América Latina, ou seja, os conservadores sempre tentando derrotar as esquerdas”.

Governo Temer
Para o professor Plínio José Feix, a chamada elite teve seu sucesso destituindo a ex-presidente Dilma e agora se beneficia das ações do governo Temer que está claramente a favor das elites. “São vários elementos claros, como a reforma trabalhista, previdenciária e até a redução de R$ 10,00 do salário mínimo. O atual presidente não tem política social e não está criando políticas sociais. Algum programa social que venha a surgir é só para ter discurso de que não está só com projetos conservadores”, considera o professor.

Lula

Recentemente se falam pelo Brasil de pesquisas onde apontam que se as eleições fossem por agora, o ex-presidente Lula teria de 30% a 35% das intenções de votos. Para o professor Plínio José Feix, esta é uma realidade. “Acredito que Lula hoje está na frente das atuais pesquisas eleitorais, mas não arrisco dizer se ele volta a presidir o país ou não. Estes porcentuais na casa do 30%, o Lula sempre manteve no Brasil, são de pessoas que compreendem as realidades históricas e ideológicas do Brasil, a atual política e economia, que sabem o que quer a direita e a esquerda. Além disso, aqueles que se beneficiaram com os projetos sociais da era PT, como princialmente a região nordeste”, externa.

Local

Para o mestrado e doutorado em Ciência Política, a situação em Mato Grosso e Rondonópolis são reflexos do que vem acontecendo nacionalmente. “É basicamente uma reprodução no Estado sobre o sistema político nacional. Porém, sobre a presidência do PT, nós tivemos muitos investimentos em obras como asfaltos, duplicações, pontes, expansão das universidades. No governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), as estradas eram cheias de buracos, não havia expansão da educação e nem se falava na duplicação da Rodovia BR-364.
Quanto a administração do governador Pedro Taques (PSDB), o professor Plínio afirma que não vem entregando o que prometeu na campanha eleitoral do ano de 2014. “Está documentado que a campanha dele foi a mais cara no país em termos de custos de votos e números de eleitores. Mas de onde veio o recurso, não sabemos. O grande problema do Taques é que ele se abraçou e foi apoiado pelas elites como do agronegócio e outros setores. Ele não tem autonomia e liberdade como se esperava devido o histórico dele de enfrentamento de certos grupos que viviam na ilegalidade.

Quanto ao quadro das eleições gerais de 2018, Plínio Feix argumenta que será preciso ver quem dos políticos tradicionais vão sobrar para disputar as eleições. “Até agora, certamente o deputado federal Adilton Sachetti (PSB), e o prefeito Zé Carlos do Pátio (SD), são nomes em potencial de concorrer a grandes cargos eletivos em Mato Grosso. Os políticos mais conhecidos e que não tem denúncias, hoje são os candidatos em potencial e vão usar este argumento na campanha. Isso é um apelo popular muito forte. Também diante deste apelo popular alguém de fora da atual política poderá levar a vitória”, prevê.

Rondonópolis

Nas avaliação do professor, Rondonópolis é uma cidade com características políticas diferentes das demais do Estado. “È um município bastante singular em um aspecto positivo, pois existe muito rodízio no Poder Executivo. Nas últimas eleições, tivemos três candidatos mais competentes e com certo capital político. Foi uma disputa interessante e com perfis bastante diferentes, princialmente Rogério Salles (PSDB), de direita e Zé do Patio, que para mim é de centro direita, pois no fundo não é esquerda, sendo que, não quer ajudar os pobres, mas faz exatamente para ter este eleitorado como seu grupo eletivo. Tem fundo populista mas só quer o apoio do povo. Fazer política que parece que é do povo. Sempre teve apoio do ex-deputado estadual e presidente da Assembleia Legislativa José Riva. A Coder está falida, e aonde está o dinheiro? Se fosse do povo não iria aceitar isso”, alfinetou.
Ainda na avaliação do professor Plínio, Percival Muniz (PPS), derrotado nas últimas eleições municipais, é um político cansado, não tem projetos e com muitos processos na justiça. “Rogério Salles nunca conseguiu passar para a população que ele gosta da política. Sempre vendeu a imagem de empurrado para as disputas eleitorais. E agora disse que se aposentou da política. Muito articulado com o setor do agronegócio. Bem o perfil de direita para lutar em prol ao agronegócio”, disse.

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4 COMENTÁRIOS

  1. Agradeço ao Plínio pela resposta.
    Além das explicações de cunho teórico, ele me esclareceu sobre o que é necessário para ser amigo de alguém: endereço, email e conversar longamente.
    Aprendi agora. Retiro o amigo e substituindo-o por colega.
    No mais, a amizade é um caminho de via dupla e nem sempre acontece assim.
    Que pena.
    Nada como o debate. A Tribuna é assim: democrática desde sempre.

  2. Resposta às críticas feitas pelo colega Ruy Ferreira à minha entrevista publicada no jornal A Tribuna em 15/10/2017.
    Em primeiro lugar, com todo respeito, não sou amigo do Ruy. Nunca soube onde ele morava enquanto trabalhava no nosso Câmpus/UFMT, assim como não faço ideia onde ele mora atualmente. Nunca tive e não tenho o número do telefone dele, nem o e-mail. Nunca conversei longamente com ele no Câmpus, a não ser cumprimentos e pequena troca de palavras quando nos cruzamos nos corredores daquela Instituição de Ensino Superior.
    Em segundo lugar, a terminologia e o desenvolvimento das ideias numa entrevista não é tão precisa como a escrita. Além disso, os cortes feitos na publicação tornam muitos conceitos e ideias mais imprecisas ainda, descontextualizadas, mudança no significado.
    Em terceiro lugar, tenho, sim, certa aproximação com o PT, mas sou muito crítico a este partido. Portanto, sinto-me muito livre para analisar a política e expressar o meu pensamento enquanto cientista político. O Ruy perde a linha, a elegância quando alguém se aproxima de uma tendência política de esquerda. Isso é compreensível para quem possui formação militar! Já passou da hora dele assumir publicamente a sua posição político-ideológica!!! Eu me considero de esquerda (não petista), o que significa que defendo uma sociedade o mais igualitária possível (Norberto Bobbio). Isso não quer dizer, necessariamente, socialismo e muito menos comunismo. Essa discussão capitalismo versus comunismo está superada, sim! É preciso pensar politicamente como avançar com o capitalismo rumo a uma distribuição mais justa da riqueza! Diria, é necessário procurar articular a iniciativa privada com a República (coisa pública, coisa de todos). Tenho como referência os países escandinavos (norte da Europa), e, pelo que eu saiba, são todos capitalistas. A nossa desigualdade social é vergonhosa, obscena! Isso precisa ser enfrentado, não me importa como vamos designar o sistema social a ser construído.
    Em quarto lugar, Ruy, o PT na Presidência da República (não o Governo Federal), tentou, sim, dentro das possibilidades políticas, enfrentar a pobreza, reduzir as desigualdades sociais. Os limites políticos foram gigantescos: necessidade de compor o governo com partidos políticos de direita (conservadores), pressão do capital internacional, instituições sociais conservadoras (empresariado, mídia, religiões, Constituição, etc.). Ruy, você se lembra do motivo da publicação da Carta ao Povo Brasileiro feita pelo Lula antes da sua eleição para Presidente da República? O jogo é duro!!! Querer construir uma sociedade mais igualitária contrariando interesses dos grupos poderosos é uma tarefa muitíssimo difícil. Esses grupos privilegiados têm um enorme poder de obstrução.
    Em quinto lugar, Ruy, está sempre mais evidente que o projeto de sociedade desejado pela Dilma foi o motivo do seu impeachment!!! Só cego para não ver isso! É só analisar as políticas econômicas e sociais adotadas pelo atual Presidente para confirmar isso. Quando falo em “pequenas irregularidades”, refiro-me às acusações usadas para destituí-la do poder. A corrupção cometida nos últimos 15 anos no nível federal não foi só do PT, e sim de todos os partidos políticos que compunham o Governo Federal. Talvez o Ruy não saiba essa diferença, uma coisa é Presidência da República, outra coisa é Governo Federal!!!
    Finalmente, quando digo elite, uso esse termo para designar os setores da economia que estão no topo da pirâmide social em termos de concentração de riqueza, e secundariamente os políticos tradicionais que são os seus representantes no poder do Estado. Enfim, são as elites dominantes. Acho que os leitores “desarmados’ entenderam perfeitamente o significado. E o conceito conservador usado, no caso brasileiro, se aproxima de direita, pois significa conservar o atual status quo, as desigualdades sociais e privilégios vigentes. Essa terminologia não é tão precisa entre os intelectuais como o Ruy quer dar a entender. Entre os teóricos das ciências sociais há muitos usos e compreensões diferentes.
    Agradeço imensamente ao jornal A Tribuna pelo espaço democrático que é cedido aos leitores e cidadãos em geral. Este jornal está sendo um parceiro do Câmpus Universitário de Rondonópolis/UFMT. Grato!

  3. Realmente o meu velho e querido amigo petista Plínio permanece fiel a suas ideias antigas e ultrapassadas. O discurso também não se moderniza. (usei aqui uma tática de debate que desqualifica o opositor antes de iniciar o debate e que aprendi com os comunistas).
    Obrigado à Tribuna por permanecer um espaço democrático de imprensa (coisa rara).
    Sobre as afirmações do amigo:
    1. A situação política do Brasil é complexa, com ou sem eleição no ano que vem. A eleição não torna mais complexa a situação atual.
    2. Elite é verbete de dicionário e quer dizer etimologicamente “o que há de mais valorizado e de melhor qualidade, especialmente em um grupo social”, não tem essa conotação panfletária que tenta se dar. Em respeito ao dicionário, prefiro se governado por uma elite.
    3. Nada há de mais democrático que grupos e partidos almejem o poder. A Política é isso. Não se pode demonizar que o outro, o adversário queira chegar ao poder.
    4. As oligarquias brasileiras nunca tiveram compromisso com o Brasil. Basta mudar elite para oligarquia e eu concordo plenamente com ele.
    4. Concordo com Plínio que entre 2002 e 2016 a oligarquia de esquerda no poder tentou transformar o Brasil em uma Venezuela. É verdade. Tentou.
    5. discordando frontalmente de Plínio, não há crime irrisório. Crime de responsabilidade tem como consequência o impeachment, essa é a regra desde 1951. Ou só vale para o Collor e não para a Dilma. O Collor cassado pela pressão do PT levou uma elba de propina enquanto os atuais levaram a Petrobrás inteira.
    6. Plínio relativiza o crime com uma facilidade infernal quando o criminoso é esquerdista: “Qual o governo que não comete pequenas irregularidades?” Amigo, nunca antes nesse país se saqueou o ESTADO sistematicamente para se manter um projeto de poder. O roubo foi tanto que até torcedor do flamengo (politicamente alienado em geral) está indignado. Acorda homem!
    7. Não votei no Temer, pois não votei na Dilma. Se alguma “elite” votou e elegeu não foi a do mérito individual.
    8. Acabo de fazer uma imersão no Nordeste e temo contrariar o colega. Lá, o povo anda muito chateado com a traição (eles usam essa palavra) do Lula. Que nordestino, de origem pobre, deu esmola para eles e encheu a burra de grana.
    9. A análise feita sobre o Zé do Pátio é cruel, pior dizer que a esquerda é a favor do povo parece não tirar o conservadorismo característico do esquerdista em tutelar o eleitor.
    10. Para não ser tão chato, lembro ao amigão que em Ciência Política, teóricos como Corey Robin definem o conservadorismo como posição política que defende a desigualdade social e econômica. E mais, o antônimo de conservadorismo é liberalismo e não esquerda. O oposto de esquerda é direita e ela não é sinônimo de conservadorismo.
    Novamente parabéns ao jornal e abraços saudosos no velho Plínio.

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