A decisão de suspender os vôos diretos para fora do estado pela única companhia aérea que atua na cidade foi recebida com indignação por diversas entidades do município, que expuseram preocupação em relação aos prejuízos e transtornos que a mudança irá causar aos usuários do serviço. A suspensão dos vôos operados pela Azul Linhas Aéreas, que comprou a Trip, com destino a Curitiba (PR), com escala em Maringá (PR), e para Guarulhos (SP), com parada em Araçatuba (SP), foi publicada ontem (13) pela companhia ao jornal A TRIBUNA.
Para o presidente da Associação Comercial, Industrial e Empresarial de Rondonópolis (ACIR), Luiz Fernando Homem de Carvalho, o Luizão, a medida reflete prejuízos e atinge diretamente os empresários do município, visto que muitos utilizam o transporte aéreo para realizar negócios fora do estado. “Isso é péssimo para nós. Já enfrentamos dificuldade em relação a pouca oferta de vôos e os valores absurdos que pagamos para a única companhia que opera e agora acontece isso. Voltamos à estaca zero realmente”, desabafou.
O representante dos empresários na cidade afirmou que está buscando junto à Prefeitura de Rondonópolis – responsável pela administração do aeroporto – explicações sobre as motivações para que a companhia tenha decidido pela paralisação desses serviços. “Nós temos que buscar respostas e tentar resolver. Essa situação não pode se concretizar”, disse.
A presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL), Eliane Queiroga, também lamentou o anúncio da suspensão dos vôos e lembrou o potencial da cidade, que não deveria estar passando por isso. “É realmente um retrocesso. Esses dois vôos já eram poucos, pois estavam sempre lotados. Rondonópolis tem porte para ter, além dessa, várias outras companhias quererem se instalar aqui e operar. Mas infelizmente o que a gente vê em relação a isso é andando na contramão”, expressou.
Representando a classe produtora da região, que constitui boa parte da fatia que usufrui do serviço de transporte aéreo, o vice-presidente da Associação dos Produtores de Soja de Mato Grosso (Aprosoja/MT), Ricardo Tomzyck, também esboçou preocupação quanto a decisão da Azul. “É preocupante, haja vista que a cidade tem crescido cada dia mais e, com a instalação da ALL, aqui deve aumentar o número de empresários e executivos em movimentação por aqui. Sem esse suporte é complicado”, comentou.
Na opinião de Nezir Ribeiro de Freitas, presidente do Observatório Social de Rondonópolis, entidade que tem acompanhado de perto essas questões, para a companhia ter chego a essa decisão é sinal de quem algo não está certo – embora a própria Azul negue qualquer problema no aeroporto. “Alguma parte não cumpriu com o combinado para ter chegado a este ponto. Essas rotas operadas pela Azul são um filão de ouro para eles [companhia]. Por isso não querem indispor com a administração pública”, argumentou.
SUSPENSÃO – A Azul Linhas Aéreas, única companhia atuante na cidade, deixará de operar os dois vôos para fora do estado (com destino à São Paulo e Paraná) a partir do dia 6 de fevereiro. Em nota, a empresa alegou “ajuste na malha aérea”.
Especialista reforça deficiências do aeroporto municipal
Técnico em prevenção de acidentes aeronáuticos pelo Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) e ex-gerente do departamento aeroportuário de Rondonópolis, tendo atuado em 2009, Roberto Cavalcante de Mendonça afirma com veemência que o real motivo da Azul Linhas Aéreas ter optado por deixar de operar vôos para fora do estado saindo de Rondonópolis ocorreu em virtude da falta de condições estruturais de segurança no aeroporto.
“Foi uma decisão operacional. A companhia já vinha alertando a administração do aeroporto sobre a possibilidade de parar esses vôos por não conter os equipamentos de segurança necessários. A estrutura não oferece nenhum auxílio seguro para pouso. Aqui [Rondonópolis] a aterrissagem ainda é realizada como há três décadas atrás, com apoio apenas de uma biruta – que é aquele arco grande com uma espécie de meia que indica para onde está o vento”, disse.
Os equipamentos em questão, segundo explicou Mendonça, seriam uma estação permissionária de telecomunicação e tráfego aéreo (EPTA), que auxilia pilotos com informações meteorológicas de uma localidade, um NDB (radiofarol) e também um “Papi”, aparelho de aproximação das aeronaves com o solo que indica a trajetória de aproximação com precisão. “Um depende do outro. A instalação do Papi, por exemplo, só pode ser feita com a EPTA já funcionando”, lembrou.
Para efeitos comparativos, o técnico citou a postura da companhia aérea Azul, em relação às cidades de Dourados e Três Lagoas, ambas localizadas no estado de Mato Grosso do Sul. “Lá, a companhia não aceitou operar vôos grandes de forma nenhuma enquanto os aeroportos não se adequarem com esses equipamentos”, disse.
isto e uma vergonha para o poder pubrico