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Empréstimo

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Winnicott nos fala da mãe suficientemente boa. Jacques-Alain Miller alerta que a mãe só é suficientemente boa se não o é em demasia. Indo além, qual a medida para que a casa dos pais seja boa para os filhos, porém, não em demasia? Ao oferecer um colo exageradamente bom os pais correm o risco de manter aqueles que estão sob seus cuidados na acomodação, temerosos de não conseguir criar algo melhor. O ideal fica muito distante e o desafio de alcançá-lo ameaçador.
Então, é preciso que haja certo desconforto nesse colo que aconchega. É bom que fique pequeno para o filho crescido como ficou pequeno o útero para o bebê no final da gestação. São muito interessantes as falas dos adolescentes, ainda que em momentos de revolta, objetivando fazer outra coisa – sempre melhor – que os pais fizeram. Quem já não ouviu desses seres desejosos de abrir caminho a promessa de que criarão os filhos – se resolverem tê-los – completamente diferente do que estão sendo criados? Ou aquele discurso básico do “quando eu tiver a minha casa…”?
Ótimo! Que bom desejar administrar a vida apostando no resultado do diferente. O que não for possível será outra história a ser resolvida. Ter a própria casa deveria implicar em capacidade para assumir toda a responsabilidade pela mesma. Sabendo o custo disso certamente serão criadas medidas para as apostas.
Mas esse crescimento dos filhos traz consequências também para os pais. A cada momento novas considerações a serem feitas. As respostas que funcionaram ontem estão prescritas hoje.
Recentemente, diante da metáfora “ele está batendo asas para muito longe” em relação à partida do filho, a resposta foi pontual: sinal de asas fortes.
Sim senhor! Os pais se desdobram para fortalecer suas crias. Consequentemente, maior a possibilidade de alçarem voo para distante.  E o que fazem os pais com esse misto de satisfação e sentimento de perda? Será que é preciso sofrer com a dor da saudade? Afinal, saudade só aparece quando existiram coisas boas. Bom, talvez seja o momento de perceber que tem início um novo ciclo vital tanto para o jovem que parte quanto para aqueles que ficam.
Quando tomamos emprestado determinado valor em dinheiro fazemos a devolução ao final de um prazo, computados juros e correções. Trabalhamos para pagar por isso enquanto usufruímos do que esse dinheiro nos proporciona.
E quando consideramos que filho é um ser emprestado pelo tempo suficiente para ser preparado para o mundo?
Claro que os pais trabalham por ele e esse trabalho vai muito além do labor diário. Para pais que não querem simplesmente repetir história o trabalho interno não cessa.  Ainda que seja fruto do desejo, ter um filho desacomoda tudo o que estava encaixado. Os questionamentos surpreendem. Dúvidas ocupam lugar de certezas. Pergunta-se: onde foi que os pais dos pais acertaram para que esses tivessem a coragem e ousadia suficientes para assumir o cuidado de uma nova vida? Por que ninguém avisou que essa decisão traria ao mesmo tempo sentimentos de onipotência e impotência tão intensos? E o que dizer dos ganhos dessa experiência de vida que não são contabilizados e tão pouco podem ser nomeados?
Longe de ter explicação a relação pais e filho é pura implicação. Sente-se na carne e pronto!
Fico com José Saramago e sua definição: Filho é um ser que nos emprestaram para um curso intensivo de como amar alguém além de nós mesmos, de como mudar nossos piores defeitos para darmos os melhores exemplos e de aprendermos a ter coragem. Isto mesmo! Ser pai ou mãe é o maior ato de coragem que alguém pode ter, porque é se expor a todo tipo de dor, principalmente da incerteza de estar agindo corretamente e do medo de perder algo tão amado. Perder? Como? Não é nosso, recordam-se? Foi apenas um empréstimo.

*CRP 18/00078
Correspondente da Delegação Geral – MS/MT – Escola Brasileira de Psicanálise
Consultório 66 3421 5684

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