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, 24 maio 2024
 
 

“Aprendizagem de desaprender”

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Concordamos que os sonhos ultrapassam tempo e cultura, impulsionando o ser humano enquanto há vida a ser vivida. Mas os sonhos dos jovens do século XXI seriam semelhantes aos sonhos dos jovens de um passado remoto quando ainda não se falava no mundo globalizado?

Na sociedade moderna considerava-se a fase de transição pela qual passavam os adolescentes, deixando o mundo infantil para ser gente grande, com tudo que isso implica, incluindo a escolha de uma profissão. No entanto, percebemos que a responsabilidade dessa escolha era minimizada pelo curso quase natural da vida: aprendia-se o ofício do pai, ou se preparava para continuar gerindo os negócios da família, ou ainda para iniciar a carreira numa empresa, numa função de linha, almejando chegar ao topo como Presidente. Havia um caminho a ser seguido, uma ordem a ser cumprida, sem muitos questionamentos para aqueles que evitavam o confronto com o desconforto.

E agora? Na atualidade vivemos um momento de transição histórica do qual ninguém escapa. Se o cinquentenário cogita a possibilidade de mudar de profissão, tornando-se especialista naquilo que nunca fez até então, o que dizer dos jovens que muito antes do vigésimo aniversário são pressionados a decidir o que cursar no ensino superior que se avizinha, ouvindo ainda (pasmem!) que uma profissão tem que ser para o resto de sua existência. Esse resto ficou muito longo para a expectativa de vida atual.

Enfim, o adolescente se depara com a demanda do mundo externo que aponta para as múltiplas opções, sugerindo que a escolha seja feita considerado o mercado de trabalho, com a régua do custo benefício, num futuro próximo; as profissões do momento; a aprovação familiar e social; as expectativas dos familiares que por ele sonharam antes mesmo de seu nascimento…  Para muitos, soma-se a tudo isso a saída da casa dos pais, tendo que administrar a própria vida sem curso preparatório.

Com tanta racionalidade e estudo intensivo na tentativa de preparar-se para o vestibular, sobra espaço para considerar que “é preciso amor pra poder pulsar”, como sugere Almir Sater? Sim, é preciso ter uma causa própria para “tocar em frente” com garra, pagando o preço da escolha, porém sem tédio, estresse ou depressão. Estar atento aos desejos próprios, considerando seu momento, nem de longe seria perda de tempo. O que é estar motivado, senão ter motivos para a ação. Esses motivos vêm de dentro, tem a ver com os sonhos, com a realização daquilo que o faz mais gente, enfim, o combustível imprescindível para a vida.

Em resumo, há de se considerar o que o mundo do qual não pode saltar fora demanda, e o que o mundo interno exige de cada um para ser feliz. Ou seja, a arte da escolha, conciliando o que tem de realmente importante nesses dois mundos que mesclam cada história. Para essa tomada de decisão em particular, não bastam os conselhos, experiências de vida dos mais velhos, orientações e tudo mais que faz parte dos bem intencionados. O preço do desejo só pode ser pago pelo próprio sujeito, arcando com as consequências de todas as escolhas que faz a cada momento, inclusive porque renunciar à escolha já é uma escolha, sem falar no risco implicado em toda decisão. Garantias?… São ilusórias.

Oxalá possa contribuir com nossos jovens nesse momento tão importante de suas vidas, sem receitas prontas, mas com uma proposta que vai pela vertente do “O que nós vemos”, de O guardador de rebanhos – Alberto Caeiro: O essencial é saber ver,/ Saber ver sem estar a pensar,/ Saber ver quando se vê,/ E nem pensar quando se vê/ Nem ver quando se pensa./ Mas isso (tristes de nós que fazemos a alma vestida!),/ Isso exige um estudo profundo,/Uma aprendizagem de desaprender.

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