Embora menos comentado que outras datas de nosso calendário e pouco lembrando pelo comércio, o Dia dos Avós foi celebrado por muitos netos dia 26 último. Curiosa a variação das postagens no face. Desde os cumprimentos aos avós que tem tempo para contar infinitas histórias, do pedestal da experiência acumulada à referência aos casais sessentões participando de maratonas…
Afinal, quem são os avós hoje?
Em “A aposta na vida” da psicanalista Liége Lise (O mundo – Visto pela Psicanálise. N° 41\IPLA – Instituto da Psicanálise Lacaniana) temos: “o nascimento de uma criança, seja ela de linhagem real ou plebeia, aristocrata ou popular, é uma aposta na vida. Talvez porque remeta cada um ao ponto do amor, àquele mais íntimo e próximo por quem vale empenhar o sagrado ofício de viver. Por um filho empenhamos a própria pele. Por um filho sonhamos um futuro, renovados nas nossas expectativas. É uma aposta no novo. É uma aposta que o mundo pode ser ainda melhor. E será!”
Cabe considerar o desafio atual da renovação dessa aposta quando chega o momento por muitos esperado em que esses filhos já tem motivos próprios para empenhar a pele… E agora? Os pais que cumpriram seus papéis empenham o que, em nome de que? O que pode ser causa para alguém que fez a tarefa de casa e é surpreendido por muito mais que não estava no script?
Pela vertente da lógica o avanço da idade faz pensar na proximidade da morte. Contrapondo, sabemos que “para morrer basta estar vivo”. Logo, quem disse que a vida tem lógica?
Em “Velhice, pra que te quero?” Jorge Forbes (CPFL|TV Cultura) enfatiza a importância de manter perguntas que incomodam no lugar de respostas que aquietam. Indagamos então: o que pode sustentar a aposta de sexagenários que aí chegam pensando na aposentadoria e se deparam com a possibilidade de décadas pela frente? Alguém disse que a essa altura deveriam ter filhos criados e netos encaminhados? Então não pode, nessa idade, ter filhos adolescentes indecisos quanto à faculdade a cursar? Ou ainda, filhos que nem estão preocupados com tais escolhas? E quem disse que esses pais não podem ir para a faculdade, iniciar outro curso superior, fazer prova da OAB, comprar um violão e entrar no curso para principiantes?
Alguém deveria se constranger porque sua avó tem um namorado 20 anos mais moço, quando ela se recusou a ouvir aqueles que apontaram que não ficaria bem? Mas… Por que ficaria mal? Há duas gerações uma mulher de 40 anos, por exemplo, tinha nove filhos, sendo os três últimos mais novos que os primeiros netos. A mulher de 40 hoje está grávida pela primeira vez ou amamentando o caçula ou ainda decidindo se vai ter filhos, mudar de carreira ou morar no exterior…
Como lembra Forbes, há meio século esses cidadãos não precisavam saber envelhecer, já estavam velhos! E hoje? Esperar chegar aos 60 para ter as mordomias e direitos da inventada terceira idade, com tanto a fazer?
Não estamos negando o envelhecimento biológico e a finitude, mas quem pára acreditando que não há espaço para novos projetos corre o risco de desperdiçar um tempo considerável e ser surpreendido exatamente pelo “atraso” da chegada da Grande Dama.
Basta observar o quanto esse público movimenta os mais diversos segmentos na área da saúde, nas artes, esportes, turismo… Aliás, inscrições abertas para participação na Bienal 2013 – 14° talentos da maturidade para maiores de 60 anos.
Projetos de vida… Talvez o envelhecimento que está além do corpo inevitavelmente chega quando faltam novas metas. Afinal, como viver bem sem estar apaixonado?
Um novo projeto, uma nova causa, um novo amor…
E um tempo a ser “vivido vividamente”.
Avante!
Sueli Ignoti
*CRP 18/00078
Correspondente da Delegação Geral – MS/MT – Escola Brasileira de Psicanálise
Consultório – 66 3421 5684
