Sonhos e pesadelos

É histórico que, faltando pouco tempo para o fim do mandato dos prefeitos e alguns meses para as eleições municipais, da noite para dia cidades se transformam em verdadeiros canteiros de obras, sendo iniciadas por todos os lados. Essas ações, conhecidas como obras eleitoreiras, têm finalidades bem claras: apostar na falta de memória do povo, proporcionar uma falsa sensação de desenvolvimento e conseguir popularidade.
As decisões, nesses momentos, acabam sendo tomadas de cima pra baixo, visando tão somente obter votos, e isso acontece por todo o Brasil. O aspecto técnico é sempre deixado de lado.
Aqui em Rondonópolis, a gestão passada, após praticamente dois anos sem grandes obras, sempre justificada por um “rombo” no Município deixado pelo gestor anterior, teve o seu último ano basicamente de inaugurações. Uma dessas situações, foi o programa “Realizando Sonhos”, que visava asfaltar 20 bairros da cidade. Ninguém questiona a necessidade do asfaltamento, e ninguém questiona como esses lugares foram transformados. Bons exemplos são os Jardins Liberdade e Nova Era, antes com ruas intrafegáveis, hoje um local visualmente acolhedor.
O problema do “Realizando Sonhos” foi o de pensar tão somente na eleição, e se esquecer de fiscalizar a qualidade das obras. Tanto é que os problemas do asfalto “casca de ovo” já estão no âmbito da investigação. E pelos bairros, não é apenas a baixa qualidade do asfalto que é visível, já que tantas outras situações podem ser constatadas. O fato é que o Ministério Público Federal está apurando a situação, e caso as irregularidades sejam comprovadas, a Justiça deve se posicionar e punir aqueles que não tiveram responsabilidade com o dinheiro público.
Toda a situação serve para lembrar os gestores sobre suas obrigações. A rotina do gestor público é repleta de desafios, todos sabemos, mas a gestão e fiscalização de obras é um deles, e muito importante. Acompanhar o cronograma de evolução de cada etapa da obra, fazer a gestão físico-financeira relativa aos saldos e prazos, controlar os aditivos contratuais, medições, qualidade, e se o que está sendo pago é que o que está sendo recebido, são etapas básicas.
Se não existe tempo na agenda para um prefeito fazer isso, ele deve nomear servidores para acompanhar esses contratos. Isso é o que se espera de um bom gestor, já que com o dinheiro do povo, não se brinca. Aguardaremos o resultado das investigações do inquérito civil público instaurado, esperando que os fatos sejam esclarecidos da forma mais clara possível.