Encerro o ano chamando a atenção dos leitores para uma reflexão. Um sentimento que tenho constatado cada vez mais presente em muitos profissionais tanto na vida corporativa como na vida pessoal. Aquela sensação incômoda e angustiante de sempre estar atrasado em nossa atualização e competitividade.
O problema é crescente. Em muitos casos, com o passar do tempo vira patologia. Dessas de consultar um especialista e necessitar de tratamento. A sensação nefasta de estar sempre atrasado polui o mundo e contamina as pessoas.
Me refiro aquela percepção de que nunca estaremos devidamente adiantados em relação a nossas competências, nossas necessidades de conhecimento ou mesmo de competitividade profissional.
Mesmo que as metas tenham sido batidas, ainda assim persiste a sensação e provavelmente a certeza de que outras empresas foram melhores que a nossa. Outros profissionais são mais competentes. Não precisa procurar muito e veremos que outros players, em algum lugar, já criaram algo novo, diferente e melhor. Decididamente estamos sempre atrasados em relação a algo ou alguém.
Ninguém em perfeito juízo parece estar tranquilo e sossegado. Apenas os ignorantes é que se sentem realizados e competitivos na plenitude. Satisfeitos e inteligentes. Escapa-lhes a percepção do que está acontecendo. Talvez vivam mais e melhor.
Arrisco-me a dizer que os inconsequentes também levam vantagem nessa luta pelo bem-estar e a felicidade. Afinal, quem se preocupa acaba ocupando a mente antes da hora. Se ‘pré ocupam’. Os que relaxam e se esquivam desse compromisso vivem menos aflitos.
A culpa é do ambiente acelerado em que vivemos. Das inovações que não cessam, da velocidade estonteante com que as mudanças acontecem. Também é fruto das cobranças que nos são dirigidas ou ainda das responsabilidades que acabamos assumindo, mesmo que não nos digam respeito.
Mas, o mundo não ficou frenético de uma hora para outra. Ele vem acelerando faz tempo e por isso ninguém pode dizer que foi pego de surpresa. Os sinais sempre foram evidentes, mas subestimados por muitos. Então é melhor se acostumar logo e reconhecer as regras do jogo se quiser ser um player de vida longa.
Um bom começo é estar ciente de que não há nada de diferente para se esperar no ano que vem. Entender isso já faz muita diferença. Você vai continuar jogando nesse ambiente. E o melhor de tudo: vai sobreviver. Basta seguir o script com afinco.
Reconhecer nossas incapacidades já alivia a carga e deixa a viagem mais leve, permitindo que sejamos mais observadores e menos operacionais tarefeiros, mais criativos, mais ágeis e talvez mais inovadores.
Os diferenciais competitivos parecem ter se concentrado na capacidade de fazer bem feito, já na primeira vez. Adicionalmente, perder o medo de errar, testando e experimentando sempre, cria um ambiente inovador pela busca de novos caminhos para as dificuldades que se apresentam. Tomar gosto pela mudança é o diferencial definitivo.
A sensação de estarmos atrasados não pode nos paralisar. Precisamos nos acostumar a ela e revertê-la como um ativo importante. Acredite, ela é uma realidade para todos, embora a sensação aparentemente possa ser única em você.
De modo prático, parece que o segredo está em nunca ficar demasiado para trás. Esforçar-se para continuar no bloco da frente e aproveitar os benefícios da sincronia, da coletividade e da economia de escopo, algo que principalmente a colaboração oferece. Se você se distanciar dos melhores será cada vez mais difícil alcança-los.
Aprenda que os sprints custam muito esforço e sempre requerem muita energia, por isso é melhor e menos custoso manter a corda esticada do que fazer frequentemente grandes arrancadas em direção a linha de chegada.
Por fim, você ainda pode mudar o rumo de tudo e sair da manada e do senso comum, mesmo que seja da elite de sua atividade ou profissão. Mas precisamos entender que a liberdade tem seus riscos e custos. É espaço reservado para alguns incautos e corajosos. Não há muitos deles em atividade capazes de mudar sua realidade.
Até a próxima.
Encerro o Ano 13 desta coluna, agradecendo a todos que acompanharam minhas reflexões e opiniões. Espero revê-los em 2020. Desejo a todos um Natal abençoado e um ano novo cheio de energia e inspirações.
(*) Eleri Hamer escreve esta coluna às terças-feiras. É professor, workshopper e palestrante – [email protected] – originalmente publicado no Jornal A Tribuna – www.atribunamt.com.br